Dentro daquela pia morreu um duende.

Com o olho meio aberto escutou passinhos rápidos perto da cozinha, mas não se levantou, o sono estava a consumindo, se sentiu presa pelo próprio corpo. Os passinhos ouvidos estavam chegando cada vez mais perto, mas ela não conseguia abrir os olhos e nem se virar para ver, talvez fosse o cansaço do corpo, ou um sono com sonhos de fantasias poderosas que a prendiam entre o acordar e continuar a dormir.
Subitamente, sentiu alguma coisa escalando no ombro, ficou fria, mas o sono não a deixava agir, e chegando perto do seu ouvido, ela ouviu:
-Olá!
Não foi um simples "Olá", foi um "Olá, olá, olá, olá...", Um "Olá" cheio de eco.
O Sol da janela que havia aberto a salvou, porque passou a esquentar seu rosto que fez com que seu corpo reagisse finalmente, com raiva de seu próprio sono e organismo, se coçou por inteira, para ver se tinha ainda vestígios daquilo que lhe subiu pelos ombros e a cumprimentou.
Nada. Foi para a cozinha e do banheiro escutou:
Nada. Foi para a cozinha e do banheiro escutou:
-Você não gosta de olá, não é mesmo?
Empalideceu-se, pegou a colher de ferro e foi para o banheiro, olhou para a pia, quem estava falando era uma estatueta de duende que ela ganhará quando ainda era menina, não se lembrando mais de quem.
-Ás vezes não conseguimos acordar!
Diabolicamente, terminou a fala sorrindo, e a risada do duende foi aumentando, aumentando...
Rapidamente, ela tampou a pia e com a colher de ferro empurrou o doente para dentro e ligou a torneira. Não houveram bolhas, e ele não se mexeu. O intuito era afogá-lo, claro. Mas como saber se estatuetas afogam-se? Até aquele dia não falavam!
Ela não contou a ninguém sobre o duende, e este também, nunca mais deu um "piu" se quer. Nunca entendeu porque ele falou. Mas... se livrou dele.
(Dedicado a uma colega da sexta série, Ana Bárbara, que me contou sobre uma prima dela, que afogou um duende na pia.)
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