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segunda-feira, 22 de julho de 2019

Não queria ter bola de cristal




Chego nesse número pensando no infinito e um pouco cansada. Ao mesmo tempo sinto como se minha vida nem tivesse começado ainda. Não sou mais criança, não sou mais tão jovem, não sou tão adulta quanto gostaria e imaginava ser nessa idade... sinto um estranhamento na alma, um desassossego no coração, uma nostalgia e ao mesmo tempo um deus me livre do passado. Trago algumas histórias engraçadas na bolsa, já tenho um diploma, alguns desentendimentos pelo caminho, idas ao fundo do poço que deixaram consequências e renascimentos. Há fases que vamos morrendo e catando os pedaços pelo caminho. Alguns amigos sumiram, somos tão diferentes agora, outros formaram família, trabalham demais, foram embora do país, sobraram poucos... Cabem no dedo de uma mão. As risadas e os sonhos também diminuíram ou são menos imaturas, não entendi ainda direito. O choro e a preocupação aumentaram, talvez eu até seja um pouco dramática, pessimista... quem é que sabe o porquê? Não sei se ainda é cedo ou tarde pra dizer, mas pode ser que eu não encontre meu propósito de vida nessa jornada. Talvez nem seja obrigação que tenha que ter um pra existir. E quem é que sabe se o dia mais feliz da minha vida já não tenha até existido e eu só vou saber depois, bem depois... ou até já aconteceu e eu esqueci. O certo é que de salto alto eu não ando mais tem tempo. Eu odeio. Prefiro salto baixinho, médio, confortável. Também aprendi a gostar de tomar café da manhã. Não gosto mais de noitada, vendi meu carro, não tenho o emprego dos sonhos... e até aqui eu não me matei. Deu vontade algumas vezes... não vou ser hipócrita. Terminar, sem avisos, sem desculpas, sem despedidas, apenas terminar e fim. Mas aí tem todo mundo que continua, tem os lugares que ainda não conheci e quem sabe as coisas não melhoram e tenha uma comida gostosa demais pra experimentar... sei não. Vai que a vida é mais do que isso que eu já sei. Vai que ainda tem um mistério. Vai que mesmo eu não tendo filhos, minha sobrinha queira brincar comigo? Não queria ter bola de cristal, ver o futuro me dá medo. E se vendo eu não consiga chegar lá? E se vendo eu mudo o rumo das coisas? Melhor ficar aqui mesmo. Sem saber, planejando uma coisinha ali e outra aculá. Sinto que ainda tenho tempo, outrora que ele acabou ou termina. Quem define exatamente isso? A vida? A gente mesma? Ou os outros?