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sábado, 24 de abril de 2021

Encontro

Dancei como se fosse livre por inteira. Sem metades, sem bipartidarismos na minha cabeça e no coração. 

Como pode alguém querer derrubar a floresta? Brinquei como se fosse o curupira observando do lado da floresta e do lado dos não humanos.

Como pode não estarem preocupados? Como pode se considerarem os não selvagens? 

Não é educado! Não é educado destruir. 

Observo, como sou boa para observar... eu passo como as águas entre as pedras. Eu faço caras e bocas, entre profundas reflexões e sorrisos de malícia de como a vida é besta Drummond... Um homem pede silêncio, giro! Os homens vão devagar meu caro poeta. 


Meus cabelos são plumas de pavão, azuis, verdes, todas as cores que a natureza permitir! Curupira já não podia ser... sacode, sacode!  Sacudo e me acolho. Ah.... o amor! O amor próprio e o da família... é tudo que importa nessa vida no fim das contas... 


A roda e as árvores conversam comigo como quando eu era criança. As plantas sempre choraram e sorriram seus dramas pra mim. Abraço-as e me retribuem, olho para o céu e como é estrelado sem tirar um centavo do meu bolso. Como brilha a vida lá fora e dentro de mim. Tenho sede de ser feliz mais vezes, de me permitir viver o bom da vida, quero voar pelo infinito daquilo que eu sou... mas tenho medo. Por que? Danço... dançar espanta mesmo. E danço, danço e danço de novo como se fosse livre por inteira ao som de batucadas que meu próprio útero pede... Olha o barulho que meu ventre pode fazer, olha o poder de criação que eu tenho correndo nas mãos e dentro do meu próprio corpo, tenho a transformação no ventre e na cabeça, na alma e abraçada a dança... tudo coordenado pelos meus pés... virados ao contrário ou não... 


Agora sou minúscula, elemental, fada minúscula a saltitar, tudo que eu faço e falo fica no ar, não existem monstro, o timbre da minha voz é alto, a criança repete “não existem monstros, o que existe é a desarmonia”... Me pergunto... eu  posso falar sobre algo que seja maior do que eu? Descrever? 

Espero... falar talvez seja fácil demais para mim que sei me expressar... e escutar ? Escutar sobre algo que seja bem maior do que eu? Preciso aprender, desprender e aprender. 


Sou digna, digna de amor e de tanta percepção. Ah, como é bom ser eu... 

ah como é bom ter mamãe, papai, eles e elas... Tenho medo do dia de não tê-los, do dia de esquecê-los para sempre... mas depois me lembro que sou inteira e me acalmo, quanto apego, quanta beleza, que lindos são eles e nós. 


Nesses minutos sou pura coragem e vento de coragem, giro, giro e percebo a vida que tanto questionei, ah... a vida que tanto escolheu maravilhosas experiências para mim... devo ser grata para aprender e desaprender. Agradecer mais, reclamar menos, me curar e confiar na natureza, na minha essência infantil e na malícia madura e boa do entendimento das coisas que só vem com o tempo. Não há segredos capazes de descrever tudo. Sentir é alimento, elemento, mágico e controlável. Um bom controle eu diria... é perfeito o equilíbrio das coisas, o equilíbrio quando chega, o equilíbrio quando estendido e sentido. 

sexta-feira, 2 de abril de 2021

beliscão

Preciso voltar a escrever... não esquecer disso aqui, um vínculo que resiste. Ainda que agora eu seja deprimente e não tenha conquistado muitas coisas, isso aqui pode ser considerado uma boa conquista. Nada demais, mas um vínculo que resiste. As três décadas vem chegando com alguns remédios e medos ridículos... medos acompanhados de algumas leis de atração, porque ser brega e obssecada por alguma coisa na vida adulta faz parte das minhas mil e umas manias. A vontade infantil de se apegar a qualquer coisa que não seja real aumenta, achei que a tendencia era diminuir, mas não vem sendo. Com o tempo vem funcionando feito um beliscão... dor fina, espanto, nada demais e que não tira pedaço, mas que dá pra lembrar que está viva, que eu sinto algo... Quero estar viva em 2025, vi os esotéricos dizerem que haverá um primeiro contato de fora com a terra. É claro que existe vida fora da terra, isso eu não tenho dúvidas, seria muito injusto... mas não quero perder mesmo é a reação das pessoas. Na verdade eu acho que eu me sinto mais ansiosa de imaginar a confusão das pessoas do que como seria o formato e as cores dessa vida fora da terra. Eu gosto do desconhecido atrapalhando as certezas alheias. Essa parte de chocar as pessoas ainda não passou, acho que não passa. Foi o que ficou da adolescência medrosa e de pouquíssima rebeldia. As vezes me sinto assim, um pedacinho de uma eterna adolescente....  As trocas trocas de remédios me assustam, o doutor morreu de covid e não deu tempo de me dizer tudo... quanto conhecimento perdido no espaço meu deus... era um médico inteligente. Tive uma pequena esperança de que existe explicação para algumas coisas no último diagnóstico, ainda que ele tenha votado no capiroto... Enquanto ele se foi eu fico aqui, esperando minha vez com medo. Quem sabe agora a um passo da esquizofrenia, de perder o controle... Uma parte minha nunca foi muito normal, né... sempre com medo... desde criança esse mesmo clichê cármico... medo, medo, medo. Esses dias ando angustiada com minha falta de talento, com meu sono constante, com a quantidade de fracassos que coleciono... é engraçado como me apeguei a uma ideia de uma grande descoberta que virará uma chave na minha cabeça e mudará tudo para sempre. Esses dias também venho pensando em como me vejo fora dos grupos... parece que não aprendi a fazer parte dos grupos e que isso precisa ser aprendido. Seria tudo mito que aprendi a cultivar para pensar que a vida tem algo de especial, seria mitos criados para ser vítima mais uma vez? Talvez eu esteja doente... talvez só não seja um bom dia.