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sábado, 7 de maio de 2011

A camisinha matou uma fada.

Lia uma revista na biblioteca infantil do SESC (onde me sinto mais a vontade), quando Laura e Gabriela, entraram feito duas fadinhas voadoras e impulsivas. Daquelas que me remetaram as fadas da linhagem da fada Sininho do Peter Pan. 
As duas meninas eram loirinhas, de longe uma parecia a outra só que de tamanho diferente, deduzi que fossem irmãs e tive certeza quando uma jogou todas as cartas de UNO na cara da menor e disse:
-Sabe qual é o seu problema Gabriela? Você sempre quer ganhar! Por isso reclama! Vai jogar sozinha pra aprender!
-Não é verdade! -retrucou com voz de choro
-É sim sua mentirosa! La em casa toda vez é assim!
E Laura saiu em pulinhos devorando um livro de cada vez da estante mais próxima.  Parecia ser bem perpicaz e lia rápido, sorria sozinha e ate contou algumas piadas em voz alta, Laura parecia uma criança bem espontânea e valente. Gabriela reunindo as cartas percebeu minha prensença e me perguntou:
-Você sabe jogar UNO?
-Sei, mas não to com vontade. (disse numa boa)
-Ah não...por que? O meu UNO é diferente, tem bonequinhas ó.
Laura soltou o livro e disse:
-Ainda bem que não está com vontade porque se você ganhasse a Gabriela ia reclamar.
-Ia nada!
-Ia sim!
-Ia nada!
-Ia sim!
-Tá bom, tá bom! Vocês são irmãs?
E Laura pois-se a falar:
-Somos sim, e ainda tem mais dois meninos, e minha mãe é uma mentirosa! Você sabia que ela tem a capacidade de pedir pra gente não mentir pra ela, de bater se descobrir que a gente mentiu pra ela, e de mentir durante esses 9 anos de que papai noel e coelhinho da páscoa existem?
(Me deu uma vontade imensa de sorrir mas me comportei como indignada)
-E a fada do dente também Laura! Lembra que você encontrou a caixa com os dentes de todo mundo?
-Ah é! Minha mãe é muito mentirosa, mas a gente não pode! É por isso que eu prefiro meu pai sabe? Não mente, não bate, já bateu, mas foi o quê? Três vezes! Minha mãe até se eu falar AFF ela ja fala: "como é que é Laura?" e ai pode esperar cintada!
-É mesmo, sorriu Gabriela, eu também prefiro o papai.
-Ai, cala boca Gabriela! Você pensa que eu não lembro que você se escondeu aquele dia e ele esqueceu de te bater?
Gabriela sorriu mexendo o cabelo. Eu, lembrei da minha mãe, e disse:
-Mas, a mãe sempre sai de ruim na história, porque ela é que está mais presente. Se o seu pai que batesse mais, você ia gostar mais dela?
-Não, mas ela é violenta, mas ela vai ver...
-Vai ver o que?
-Do que eu sou capaz.
-E do que você é capaz Laura?
-Você acredita que quando eu tinha 7 anos eu escutei uma conversa la em casa, daquela coisa que não pode falar...
-Que coisa?
-Tran...sar...(falou baixinho)
-Ah...(sorri)
-Eu queria saber o que era camisinha e minha mãe disse que era aquele copo de isopor que coloca a garrafa de cerveja, não tem? Mentirosa! Você acredita que ela disse que camisinha era aquilo?
(Cai na risada e a menina cada vez mais indignada)
-Eu tive que perguntar pra empregada, porque meu pai disse que transar tem muitos siginificados. Eu só queria saber um! Fui procurar no dicionário o que era camisinha e tinha lá que era: camisa de vênus!  Rá! Facilitou muito hein? E eu sei lá o que é camisa de vênus! Mas eles vão ver! Um dia eu acho uma camisinha, eu achei a caixa com os dentes, achei a carta do papai noel com a letra dela! Não deve ser tão difícil achar essa camisinha...olha! Essa poesia aqui eu ja li pra minha madrinha!


P.S: Confesso que fiquei sorrindo sozinha daquela curiosidade toda. E que em momento algum tive vontade de contar pra ela de uma vez por todas o que era a tal da camisinha. Naquela idade eu não passava muito tempo remoendo curiosidades (desse tipo). Meus pais não tinham muito problema em responder a verdade,  nem pra mim e nem pra nina. 

Teoria: Quem sabe não foi assim que me surgiu a ideia de que a verdade pode vir num tempo mais demorado. Afinal das contas, acaba por ser a mais sem graça. Detesto admitir, mas minha mãe nunca foi mentirosa! 


p.p.s: (nesse contexto ne?)