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sexta-feira, 29 de maio de 2009

Esqueleto de peixe


Comprei a cordinha do meu pen drive, quando perguntei ao moço, ele me mostrou só cordinhas cor de rosa, odeio quando isso acontece, (será até quando vão me mostrar apenas sessões de cor de rosa?) Mas aí... no meio das cordinhas rosas eu vi a vermelha, e sabe o que tinha no zíper da cordinha vermelha? Um esqueleto de peixe! Sim! Sabe nos desenhos animados? Quando os personagens comem o peixe e sobra só a espinha dele? Poisé!
Achei tão inusitado, me apaixonei e levei.
Aqui estou eu com a cordinha no pescoço, e um esqueleto...um esqueleto de peixe de zíper.

quarta-feira, 27 de maio de 2009

Nunca. Ouvi. Falar.

O carro parou no posto. Ela desceu para sacar seu dinheiro e comprar um maço. Do meu lado parou um fusca que parecia ter sido bem branco antigamente. Desceu um homem de cabelos até o pescoço e que usava um óculos maneiro e roupas largadas. Até aí tudo bem, mas foi aí que o som do fusquinha começou. Um rock daqueles bem antigos, que só eu tenho vontade de descobrir quem canta e nunca me vem a oportunidade de descobrir. Veio-me a sensação "agora ou nunca", e reparei se tinha alguém no carro, tinha uma moça do lado de fora, encostada, e gritei:
-Ei! Moça!
Ela não ouviu. Tentei de novo.
-Moça! Ô moça!
Nada. Desisti rápido e minha tia voltava com seu maço e dinheiro nas mãos. Pergunta-me:
-E essa cara?
-Queria saber a música que está tocando...
-Por que nao pergunta?
Eu já tinha perguntado. Mas absorvo a sugestão indo até lá. Futuco o ombro da moça e pergunto.
-Sim, estou nesse carro, quem canta é o...o...Espera! Aquele rapaz ali te responde, ele é o dono do carro e do cd.
E veio o homem, aquele mesmo, de óculos maneiros.
-Oi, você pode me dizer quem está cantando?
Ri. Abaixa os óculos e pergunta em vez de responder:
-Você gosta?!
-Sim...mas não sei quem canta...
-É o chuck! Chuck Berrys! Já ouviu falar? É clássico!
-Não...mas vou saber agora!
Ele vem se aproximando, eu vou me afastando e ficamos separados por um carro, ele grita:
-Chuck berrys!
-C-H-U-C-K-B-E-R-R-I-E-S?
-Não, Y-S!
-Ah! Tá!
E entrei no carro. E a tia pergunta:
-E aí? De quem era a música?
-Chuck. Chuck Berrys.
-Nunca vi mais gordo!
-Hum?
E a música e o não agradecimento ficaram na minha cabeça.

No mundo dos mimimi.

Me idealizam.
Me provocam.
Me mudam.
Me sentem.
Me deixam.
Me odeiam.
Me olham.
Me secam.
Me beijam.
Me fazem.
Me espantam.
Me divertem.
Me invocam.
Me "peitam".
Me amem...
Me mato!
Me deixam...

Sem ideia.

Faço ideia do que sou.
Mas é só uma ideia.
Eu faço parte dela, entrando em contato.
Provando. Provar, parece incorreto, já que quando se é, se é e acabou.

Faço ideia do que sou.
Mas é só uma ideia.
Tenho que saber se eu ajo de acordo com ela mesmo, mas...se tenho que saber, quer dizer que não sei, posso não saber, se sou?

Faço ideia do que sou! Mas é só uma ideia. Preciso sentir que faço e sei só vivendo com ela. Mas se preciso, não tenho, não é?!

Não provo, não faço, não sei, não tenho, e acho que precisava de tudo isso.
Não faço ideia de quem sou.

Mas ainda assim... é só mais uma.

Uma ideia!

terça-feira, 26 de maio de 2009

A princesa e o sapo em um passe de marcha.

O sol estava normal. A rua estava normal. E as plantas do caminho estavam agitadas. Vento, ele gosta delas. Passava carros, e um parou do lado da moça bonita desconhecida, o vidro se abria e saiu uma voz bonita e desconhecida que lhe disse:
-A princesa quer carona? (Terminou sorrindo)
E ela lhe respondeu ironica:
-E o sapo? Quer a princesa não é?
-É uma pena que eu não dê caronas para princesas engraçadinhas...
-Logo agora que eu ia resolver pegar carona com sapos sérios?
E virou-se para ele. Que ficou abismado. Ficaram sérios e riram. Ele disse então:
-A princesa quer ou não carona?
-Não posso aceitar carona de sapos, ainda mais estranho.
-Beto, engraçadinha.
-Sueli, rua 75, por favor.
E foi nessa esperteza que a princesa entrou no carro rápido. O sapo ficou de boca aberta, riu e levou-a em um passe de marcha para a rua 75.

Um para o outro.

Ele escreveu uma carta dizendo que não ia mais voltar. Ela leu, abraçou o papel, e rasgou.Todas as letras se desuniram, como se não bastasse apenas a separação deles.
Depois, ele ligou dizendo que não ia mais voltar. Ela atendeu, tampou o telefone, e bateu ele no gancho com tanta força que o fio saiu do receptor. Toda uma conexão desviada, como se não bastasse apenas o desvio entre eles.
Passou-se alguns dias e ele mandou um email dizendo que não ia mais voltar. Ela clicou no item, leu, e excluiu sem ler mais de uma vez. Todo um trabalho de mãos desperdiçados...
Mas porque ele insistia em dizer que não voltaria? Queria fazê-la sofrer?
Ela escreveu uma carta dizendo que já sabia que ele não ia mais voltar. Ele leu, abraçou o papel, e rasgou. Mas uma vez as pobres das letras se desuniram.
Depois, ela ligou dizendo que já sabia que ele não voltaria. Ele atendeu, tampou o telefone, e bateu no gancho com tanta força que o fio só não saiu porque não existia.
Passou-se alguns dias e ela mandou um email dizendo que não precisava avisar mais, ela já entendia que ele não ia voltar. Ele, leu e excluiu.
Mas porque ela insistia em dizer que ele não voltaria? Queria fazê-lo sofrer?
Um agia da mesma forma que o outro. Mas talvez não fossem feitos um para o outro. Como ele não voltou mais e ela também não disse mais que já sabia, o verão foi embora.

segunda-feira, 25 de maio de 2009

Uma pessoa doce no meio da confusão.

Eu ficava meio que sem entender aonde eu vivia, aonde eu tinha que estar, e porque aquelas pessoas eram determinadas a serem minhas. Mas eu não perguntava para ninguém, nem para aquela moça bonita e carinhosa que vivia me dizendo que eu tinha saído da sua barriga.
Eu acordava cedo, cedinho, e via aquela menina que diziam ser minha irmã, dormindo. O chão era gelado, mas eu gostava de pisar. Aquela época todo mundo gostava de ar-condicionado, nos churrascos de família mesmo, as pessoas falavam de ar-condicionado. Eu descobri com o tempo que tinha primas, que tinha avós e que tinha cachorros. Acho que foi desse jeito mesmo que estou contando, um belo dia eu resolvi entrar em contato com o que eu vivia. Eu era pequena, não lembro de pensar na estética, nem em grandes amores, mas lembro que fazia isso com minhas bonecas. Fazia elas pensarem nisso, enquanto observava minha própria casa. Eu tinha que usar um pijama vermelho, cobria tudo, por causa do frio do quarto, minha irmã tinha que usar um rosa, quase igual, mas de desenho diferente. A gente devia ter 4, 5 , 6 anos mas eu percebi que tínhamos cortes de cabelo iguais, curtos, chamavam de chanel e que possuíamos os mesmos pais e parentes e tínhamos direitos iguais, e apenas brinquedos diferentes. Ela com os dela, eu com os meus. Nina, o nome dela. Ela era até divertida! Aliás, eu passava boa parte do tempo com ela, loira, fofa, engraçada, feminina, sempre tinha uma novidade para me contar, uma delas foi que eu nasci no dia do meu aniversário, eu não acreditei, e perguntei a Júlia, que confirmou, rimos muito quando descobrimos isso! Nina sempre foi esperta, descobria coisas e me contava, mas também sempre teve um defeito, quando não descobria dizia o que achava e desse modo acabou como mentirosa muitas vezes. Não sabia dizer "Não sei", e acho que até hoje tem dificuldades com essa frase. Apesar de adorá-la de um certo modo, acho que eu tinha raiva ou ciúmes dela. Mas é claro que na época eu não percebia, só sentia. Contudo, Nina era doce, e gostava de mim, isso era o que eu não entendia. Ela gostava porque ás vezes ela queria me abraçar, ou quando mamãe me fazia cosquinha na barriga, elas trocavam as mãos sem que eu percebesse, e quando eu via que era a Nina que estava me fazendo cosquinha, eu ficava muito furiosa, e não queria. Peço desculpas para a Nina, ela não tem culpa da minha indiferença, e eu também de um certo modo, não tenho culpa se não entendia nada do que estava acontecendo, e acho que também não tenho culpa de ter percebido meu redor diferente, como se eu tivesse sido encaixada, vindo de outro lugar. Peço desculpas por último, por ter me perguntado primeiro e ter sido doce depois, só depois.
Acontece que para mim, a existência chegava a ser bizarra! Sem saber de nada, porquê, e me enquadrar nas regras e amar aquelas pessoas...tudo tão depressa e...
Creio que a Nina estava na mesma situação, mas foi mais educada que eu. Foi doce.


(p.s: Eu amo minha irmã. )

sábado, 23 de maio de 2009

Dentro daquela pia morreu um duende.

Com o endereço nas mãos, foi parar na nova casa. Abriu a porta pela segunda vez, a primeira foi quando decidiu comprá-la. A casa, com poucos móveis ainda, cheirava churrasco, descobriu depois que vinha dos vizinhos, e abriu as janelas. Como a casa não estava suja, não sabia o que fazer, resolveu então fazer uma lista de compras e tirou as malas do carro, organizando uns livros na prateleira depois. Deitou-se no chão com uma almofada chinesa que ganhara do irmão, aniversário passado, e dormiu.
Com o olho meio aberto escutou passinhos rápidos perto da cozinha, mas não se levantou, o sono estava a consumindo, se sentiu presa pelo próprio corpo. Os passinhos ouvidos estavam chegando cada vez mais perto, mas ela não conseguia abrir os olhos e nem se virar para ver, talvez fosse o cansaço do corpo, ou um sono com sonhos de fantasias poderosas que a prendiam entre o acordar e continuar a dormir.
Subitamente, sentiu alguma coisa escalando no ombro, ficou fria, mas o sono não a deixava agir, e chegando perto do seu ouvido, ela ouviu:
-Olá!
Não foi um simples "Olá", foi um "Olá, olá, olá, olá...", Um "Olá" cheio de eco.
O Sol da janela que havia aberto a salvou, porque passou a esquentar seu rosto que fez com que seu corpo reagisse finalmente, com raiva de seu próprio sono e organismo, se coçou por inteira, para ver se tinha ainda vestígios daquilo que lhe subiu pelos ombros e a cumprimentou.
Nada. Foi para a cozinha e do banheiro escutou:
-Você não gosta de olá, não é mesmo?
Empalideceu-se, pegou a colher de ferro e foi para o banheiro, olhou para a pia, quem estava falando era uma estatueta de duende que ela ganhará quando ainda era menina, não se lembrando mais de quem.
-Ás vezes não conseguimos acordar!
Diabolicamente, terminou a fala sorrindo, e a risada do duende foi aumentando, aumentando...
Rapidamente, ela tampou a pia e com a colher de ferro empurrou o doente para dentro e ligou a torneira. Não houveram bolhas, e ele não se mexeu. O intuito era afogá-lo, claro. Mas como saber se estatuetas afogam-se? Até aquele dia não falavam!
Ela não contou a ninguém sobre o duende, e este também, nunca mais deu um "piu" se quer. Nunca entendeu porque ele falou. Mas... se livrou dele.

(Dedicado a uma colega da sexta série, Ana Bárbara, que me contou sobre uma prima dela, que afogou um duende na pia.)

sexta-feira, 22 de maio de 2009

Sem esmolas.


Como toda feira: Muita gente,
muito barulho, muita comida e cheiros
para dar e vender.
No meio da bagunça, um som.
Era uma sanfona quando conseguiu ouvir mais de perto, um cego que tocava, um cego que parecia gostar de viver, e olhando para a sanfona, cantou o trecho:
-"...deus do céu ai, por que tamanha judiação..."

Planta, pimenta, torta, espeto, cerveja, vestido, brinquedo, colher de pau...

Não estava com dó do velho, nunca esteve. Estava pensando nela.


Diálogo comido.


-No que você está pensando?

-Pão.

E foram felizes para sempre.

quinta-feira, 21 de maio de 2009

Fê-brão


Tossindo. Passei a madrugada inteira tossindo. Mais um resfriado na minha vida, eu podia contar, do primeiro até este, mas pensando melhor? Contá-los para quê?
Pelo menos quebrou minha rotina...vejamos pelo lado positivo das coisas. Lado positivo... das coisas...
Acordei assustada, estava quente, tão quente que pensei que o colchão estava pegando fogo, e mesmo assim, sentia frio.
Me lembrei, sou um corpo. Sou tão avoada que quase sempre ajo como se fosse uma ideia, uma almazinha flutuante.
Tão frágil, dói e adoece...E as ideias, pobres ideias, dependem dele. Mesmo queimando, com frio, tossindo, eu ainda pensava, isso de algum modo, me confortou,
"Nada demais, por dentro estou bem." era o que ela (eu) me falava.

quarta-feira, 20 de maio de 2009

A talentosa de amarelo.

Sempre, ela me interrompe na faxina, perguntando-me se eu tenho um isqueiro. Na maioria das vezes eu tenho. Isso é a a única coisa que nos liga. Uma faxineira e uma atriz, a mesma necessidade de soprar fumaça cinza. Não sei porquê com tanto dinheiro que deve ter, fogo ela nunca tem. Tenho a mera impressão de que me pedir um isqueiro quando estou a varrer seu camarim, seja um pedido de socorro, um jeito de não estar consigo mesma, um jeito de me fazer percebê-la. Uma mulher de talento, nunca vou entender. Não me arrisco entrar em contato com ela, apenas ponho a mão no bolso e entrego seu vício cinicamente, sem sorriso, sem nada, como se ela mandasse em mim. De certo modo, a beleza dela me deixa sem graça, acho que ela é uma das mais belas mulheres que eu já varri camarim, ela tem um nariz feio, mas quase imperceptível em comparação ao que mais chama atenção nela, os cabelos, brilham tanto! Que às vezes me parece o redor do fogo que ela nunca tem, ou um raio de sol materializado.
É engraçado como todas as sextas ela está vestida diferente, me parece que temos até um encontro marcado. Um dia, ela estava toda de vermelho, faria uma personagem sedutora, outro dia toda de azul, faria uma mulher de governador, outro dia, não muito longe, estava toda de preto! Esse dia ela estava um arraso! Faria uma viúva. Lembrei de mim.
Troco apenas duas falas com ela: "Licença, posso entrar?" e "Estou de saída.", agora, trocamos três, porque ela exigiu outro dia que toda vez que eu saísse desejasse muita merda para ela, no começo eu fiquei meio sem jeito, mas depois entendi que faz parte do mundo dos talentosos dizer certas coisas sem nexo.
Dizem que ela é muito boa nos palcos, mas eu nunca vi nenhuma apresentação sua, a não ser alguns ensaios na frente do espelho, que é de onde eu descubro suas personagens, mas se no espelho ela faz bonito, deve fazer bonito no real.
Um dia, entrei no camarim e ela já estava se apresentando, quando se apresenta, não volta muito cedo, e eu aproveitei para me olhar naquele espelho tão especial.
Eu, minha vassoura e meu avental fomos um personagem por alguns minutos, lembrei de meu falecido, morreu jovem o meu amor, lembrei depois do meu papel, faxineira, com isqueiros, viúva e sempre sabendo do diabo do amanhã, acho que tenho inveja da loira, pelo menos ela representa pessoas todas as sextas.
Nesse dia, a bolsa da atriz estava aberta e em um impulso levei a bolsa comigo, e peguei um vestido amarelo que estava pendurado perto dali.
Na rua, eu já estava arrependida do que tinha feito, mas não voltei.
Em casa vesti o vestido, passei a maquiagem que tinha na bolsa, olhei as fotos e recados sem vergonhas que eu nunca iria imaginar existir ali, e bebi em um bar chique da esquina, eu estava representando pela terceira vez na vida.
Uma foi quando casei, eu era uma noiva, ria feito boba das pessoas que me olhavam, da segunda vez foi no velório, quando fui viúva, chorava feito boba das pessoas que me olhavam, e agora eu era uma talentosa... de amarelo e chique.
Não sei se foi o amarelo, mas o público não me aplaudiu, mesmo assim eu sorria feito boba para quem passasse. Depois de alguns copos, lembrei do falecido, deu vontade de soprar fumaça, e eu não tinha isqueiros. Me senti então, apagada.
Voltei para casa, como eu estava bonita no espelho. Mandei a bolsa e o vestido como encomenda para o teatro, e desse segredo só eu sei, e quem sabe... o falecido...
Ninguém desconfiou de mim, e ainda varro nas sextas o camarim da tal atriz, ela me pede isqueiros ainda, e pensa que algum homem mandou a bolsa e o vestido para ela, por conta de um recado que deixei na bolsa.
Nunca mais representei, meu papel me satifaz e eu ainda entrego isqueiros à ela, eu sempre tenho isqueiros! E isso... me acende.

segunda-feira, 18 de maio de 2009

Eu só vejo os espinhos.


Listando comandos eu perco meus subjetivos, e algumas partes das minhas emoções. Eu vi muitas coisas, ouvi outras tantas.
Mato, qualquer ideia que surgir meio rosa, tudo que me vier meio rosa. É que não me parece legal nesses momentos rosas, sonhar e inventar. Esse mundo é encarado por tanta gente, será que eu sou a única que atira no escuro sem saber se tem ladrão? É perigoso ué! É idealizador, não tenho problemas com isso, fantasiar é tão fácil e divertido, mas assim... é uma grande responsabilidade. Não vai se tratar só de mim, não vai se tratar só dos meus pronomes, e não estará no meu governo, é uma enorme responsabilidade.
Sem contar que...
Viu como eu mato possibilidades?

domingo, 17 de maio de 2009

Uma impressionada sobre pressão.


A animação correu de mim tão rápido que me sinto egoísta comigo mesma. Ando incomodada, porque os dias andam de um jeito, que podem estar ensolarados, coloridos, mas eu, não o transformo, como se não tivesse oportunidades, em diferente. Eu deveria estar feliz. Eu devo ser feliz. Nós deveremos ser felizes?
Eu, devo estar procurando...é. Seriamente, eu estou procurando. Sentidos, continuações, entender, julgamentos. Encontrar é que eu não tenho certeza, até porque esse próprio encontrar é subjetivo, está no ar... não respirado. Se eu encontrasse, acabaria. Acabaria de começar a procurar algo a mais. Não acaba nunca. Procura-se sempre.

Me entendam:

É tudo tão friamente calculado, estamos (todos nós) programados para perceber profundamente tudo a nossa volta, na hora errada! Ou de forma mais otimista, na hora certa! Na hora que já conhecemos ou amamos.
O erro, ou cartada final perfeita da vida, está aí. Só vamos descobrir que existimos, quando já estivermos manipulados por quem amamos, ou por qualquer coisa que tenhamos conhecido e nos apegado.
A humanidade está viva até hoje, e por quê? Motivos. Parte dela é depressiva ou foi ou será ou está pré-disposta a ser, e por quê? Motivos. De todo modo, morreremos, querendo ou não.
Acredito que a depressão é um desvio. Metaforicamente, eu vejo que é como se entregassem(quem?) camisetas para nós. Os desviados, são os que vestem essa camiseta, mas não a sente no corpo. O necessário é sentir, sujar, rasgar, remendar, pintar, costurar e lavar.
Resistência, resistência salvou e salva a humanidade. Alguns vestiram a camiseta e contribuíram com as necessidades dela. Os não manipulados, ou vivem querendo tirar a camiseta ou vivem e sabem da camiseta, mas por algum motivo, que até mesmo ele desconhece, ainda a veste, mesmo sem senti-lá, isso é... ruim.

É tudo tão friamente calculado, estamos (todos nós) programados para perceber profundamente tudo a nossa volta, na hora errada! Ou de forma mais otimista, na hora certa! Na hora que já conhecemos e já amamos, e é só por causa disso que ainda existe seres humanos e também por causa disso que morrer por conta própria ficou fora de órbita.

Eu, estou indiretamente dizendo que o sensato era não existir humanidade. O sensato seria, nada disso aqui existir, nem eu, nem você, nem o que eu gosto. E se passou a existir, porque não entrou em extinção? (Ideologias, eu sei...aliás, isso é que é poder.)

Contudo, em outro grau, e aqueles outros? Os que não as tiveram, os que a tiveram mais perceberam algo a mais? Ou aqueles homens que vieram primeiro, mesmo! Que resistência, não?!

Para aqueles que conseguem, que lutam em prol do que não sabem direito, mas querem melhorar, fazem melhorar, buscam o melhor possível para todos nós, e facilitam nossas vidas cuspidas, vocês querem até demais para quem não sabe direito porque faz! Eu estou impressionada com vocês! Eu amo vocês! Vocês me assustam! E eu tenho inveja de vocês. Porque, se tudo isso estivesse nas minhas mãos, estaria em extinção.

Quando a hora certa chegar, quando você se der conta que existe, se não tiver conhecido ou amado profundamente qualquer vitém, você é um desviado, um não manipulado, outrora, pode não suportar, e vai querer tirá-la, a camiseta.

(...)

Então, seria melhor deixar-se errar, ou de forma mais otimista deixar-se acertar. Não estou dizendo que é para entrar em uma ideologia, estou dizendo que é para parar de procurar, que é para ser resistente como aqueles primeiros homens, como os curiosos, como os fortes e que mesmo sem saber não tem preguiça de melhorar, de caçar mais para conhecer, para amar, para viver, simplesmente.


Simplesmente, essa é a palavra. Que simples...

quarta-feira, 13 de maio de 2009

Para: "As plantas".


Eu deveria ter uns 7 anos, minha casa ainda era amarela, Júlia ainda trabalhava nela, e eu acordava cedo todas as manhãs para assistir um desenho de detetives e mistério que só dava para assistir se acordasse bem cedo.

Na frente da casa havia o portãozinho, o portãozão, e do lado três árvores das quais eu nunca descobri a espécie. Tinham folhas de formato xifoide, e espinhos. Espinhos por todo o caule.

Da direita para à esquerda, a primeira portava flores amarelas, a outra flores rosas e por último e a de caule mais grosso, e talvez por isso, me passasse a impressão de ser a mais experiente das três, brotava flores brancas.

Não me lembro como começou, só sei que eu conversava com elas, elas três, as árvores. As chamava de: "As plantas". As nomeei de "Brancas", "Amarelas", e "Rosas". Isso mesmo! No plural, porque minha professora dizia que uma planta apesar de ter uma folha bem distante da outra, possuir flores, no todo é uma só. Eu achava meio estranho, conversar com uma árvore que ao mesmo tempo era a folha e a flor e o espinho, e era essa minha explicação do nome ser no plural, fazia sentido, pensando melhor, eu fui genial!

Eu as ouvia, era uma voz cantada, várias vozes juntas, como se cada flor e folha estivesse falando junto e ao mesmo tempo, o vento me ajudava a entendê-las melhor, como se a voz fosse carregada. Era fininha, fininha...mas dava para ouvir...

Eu contava para elas coisas que eu andava aprendendo, sobre o pessoal da escola, família, alguns sonhos, rotina, às vezes aparecia furiosa e desabafava, outras risonha... ou simplesmente ficava lá sem falar nada, escutando-as e me divertindo.

Uma vez eu me enfureci com algo da escola, e contei para elas, "Rosas" reagiu como se estivesse me caçoando e eu acabei arrancando trilhões de folhas dela em uma mãozada. Ficamos um bom tempo sem nos falar...

Certo dia, mamãe disse que não gostava de escuridão, acrescentou que as plantas deixavam a frente da casa escura, que seria melhor cortá-las. Logo, dei a notícia para as plantas que se desesperaram juntamente a mim. Choramos juntas, pensei em amputá-las e plantar essa parte delas em outro lugar, mas não fiz. Não seria a mesma coisa.

Uma tardezinha, dessas que eu chegava feliz pela escola ter terminado, "Rosas" não estava mais lá, havia apenas um toco.

O toco... parecia recortado, ele estava todo cheio de pontas, marrom, calado. Perguntei as outras plantas quem tinha feito isso, e me mandaram para a calçada. Lá vi uma fogueira, "Rosas" toda despedaçada e embrulhada queimava sem nenhum sinal de dor. Júlia estava observando o fogo, perguntei então o que houve, ela disse que a casa estava escura, que um moço veio e cortou, e que precisava se livrar daquela plantaiada, acho que fiquei com vontade de chorar, não me despedi de "Rosas", e mesmo tentando, não a ouvia mais.

Nunca mais foi a mesma coisa, e acabou que com "Amarelas" e "Brancas" eu só falava de "Rosas".

Creio que fiquei meio desgostosa com as outras depois desse acontecimento, penso que depois de ter visto aquele toco todo recortado e calado eu preferi me afastar delas.

A frente da casa nunca mais foi a mesma, e com o tempo "Amarelas" e "Brancas" cresceram tão alto que se encontraram lá em cima, entrelaçaram-se, e no meio havia aquele buraco, o buraco que era antes o lugar de "Rosas", talvez, elas se uniram por se sentirem sozinhas, inclusive sem mim.

Passei tempos sem dar atenção a elas, evitei seus balanços que tanto gostava de ver, e com o tempo escureceu-se a casa de novo, e foram cortadas.

A casa ficou clara, bem clara e agora na frente, havia um portãozinho, um portãozão e três tocos. Três tocos calados.


(Em um diário de 1999, existem algumas páginas falando sobre as três.)

domingo, 10 de maio de 2009

Quando Fernanda chorou.


Uma vez, lá em Natal ainda (Ê viagem boa que foi aquela...) eu estava com minha família no shopping, e entramos em uma loja bem grande. Cada um se distraiu por uma coisa e ala que a loja grande mostrava e dessa forma acabamos dispersos e nós perdemos uns dos outros...
Eu só fui me dar conta disso depois de algum tempo, e quando eu olhei para a direita e para a esquerda e subi em uma prateleira para ver se via pelo menos um fio de cabelo conhecido andando, e não encontrei ninguém, me deu uma sensação que nunca havia me dado antes na vida, nojo e medo ao mesmo tempo. Eu já sabia me virar, eu podia muito bem ir a um telefone e ligar para eles, mas eu não sei porquê eu senti um tremendo "tapa na cara" aquele dia, um terrível "NODO". (Junção de nojo e medo que eu inventei agora) e como se eu estivesse me torturando, não me permitia procurar um telefone e resolver o problema, era como se eu precisasse viver aquela raiva. Começava a me lembrar então, de quando entramos na loja, e como nós perdemos sem perceber, eu lembrava como se estivesse em uma tragédia grega, um romance de final triste, com música nostálgica e tudo...

Me deixei em pânico, promovi raiva de mim mesma, me arrependi de ter me distraído, e tive vontade de ir para o meio do shopping e gritar bem alto como um primata da idade da pedra, para que alguém, inclusive eu, retirasse aquela sensação de mim, aquela tamanha raiva de tê-los perdido dessa forma... forma tão besta...

Comecei a olhar para todas aquelas pessoas andantes, e comecei a chorar por elas, mas meu choro já não era mais porque eu estava perdida da minha família, era um choro estranho, choro só de observar. Comecei a chorar por mim, comecei a chorar por ser humana, tão simplesmente humana, rodeada de outros meros humanos em um mesmo lugar, em um mesmo planeta, constituídos das mesmas possibilidades.

Eu senti tanta raiva, tanto vazio, e olhei profundamente cada pessoa que passou ali na minha frente. Limpei meus olhos e ri, dos estilosos, dos de barriga de fora, dos velhos, dos jovens, das crianças, ah! As crianças...dos tímidos, dos garçons...

Sozinha, fui a praça de alimentação e sentei em uma cadeira de balcão, observando cada mesa e o contexto delas. Um carinha já velho, estava do meu lado, percebi o quanto ele estava querendo saber da minha dor calada, eu estava chorando de novo, sem voz, sem soluço, sem nada. Lágrimas que eu não entendia, e desciam sem permissão, sem sentido, sem motivo, lágrimas de pura observação.

Se ele tivesse tido coragem de perguntar... eu teria lhe feito muitas perguntas. Ele não teve, eu não perguntei.

Depois de um tempo, sai dali e encontrei Nina, que aliviada e sorridente me perguntou onde eu estava e porque estava chorando, respondi: "Vocês..." E a segui, ela procurou um telefone, e encontramos nossos pais e irmãos onde marcamos.

Todos encontrados de novo, voltamos a tal loja. Não me distraia mais com nada, nada mais me atraía e eu perdi minha vontade de comprar. Acho que nunca desejei tanto entender porque eu queria chorar quando via qualquer pessoa. Sabem? Eu chorei ainda um bom tempinho, fiquei muda e calada depois. Minha família pensou que eu estava chorando por causa da situação que acontecera, mas eu entendi que não era mais por isso... Eu perdi alguma coisa aquele dia, minha família se perdeu de mim, mas foi apenas um pretexto, eu perdi algo a mais ali, alguma coisa da qual eu não consigo expressar.