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domingo, 10 de maio de 2009

Quando Fernanda chorou.


Uma vez, lá em Natal ainda (Ê viagem boa que foi aquela...) eu estava com minha família no shopping, e entramos em uma loja bem grande. Cada um se distraiu por uma coisa e ala que a loja grande mostrava e dessa forma acabamos dispersos e nós perdemos uns dos outros...
Eu só fui me dar conta disso depois de algum tempo, e quando eu olhei para a direita e para a esquerda e subi em uma prateleira para ver se via pelo menos um fio de cabelo conhecido andando, e não encontrei ninguém, me deu uma sensação que nunca havia me dado antes na vida, nojo e medo ao mesmo tempo. Eu já sabia me virar, eu podia muito bem ir a um telefone e ligar para eles, mas eu não sei porquê eu senti um tremendo "tapa na cara" aquele dia, um terrível "NODO". (Junção de nojo e medo que eu inventei agora) e como se eu estivesse me torturando, não me permitia procurar um telefone e resolver o problema, era como se eu precisasse viver aquela raiva. Começava a me lembrar então, de quando entramos na loja, e como nós perdemos sem perceber, eu lembrava como se estivesse em uma tragédia grega, um romance de final triste, com música nostálgica e tudo...

Me deixei em pânico, promovi raiva de mim mesma, me arrependi de ter me distraído, e tive vontade de ir para o meio do shopping e gritar bem alto como um primata da idade da pedra, para que alguém, inclusive eu, retirasse aquela sensação de mim, aquela tamanha raiva de tê-los perdido dessa forma... forma tão besta...

Comecei a olhar para todas aquelas pessoas andantes, e comecei a chorar por elas, mas meu choro já não era mais porque eu estava perdida da minha família, era um choro estranho, choro só de observar. Comecei a chorar por mim, comecei a chorar por ser humana, tão simplesmente humana, rodeada de outros meros humanos em um mesmo lugar, em um mesmo planeta, constituídos das mesmas possibilidades.

Eu senti tanta raiva, tanto vazio, e olhei profundamente cada pessoa que passou ali na minha frente. Limpei meus olhos e ri, dos estilosos, dos de barriga de fora, dos velhos, dos jovens, das crianças, ah! As crianças...dos tímidos, dos garçons...

Sozinha, fui a praça de alimentação e sentei em uma cadeira de balcão, observando cada mesa e o contexto delas. Um carinha já velho, estava do meu lado, percebi o quanto ele estava querendo saber da minha dor calada, eu estava chorando de novo, sem voz, sem soluço, sem nada. Lágrimas que eu não entendia, e desciam sem permissão, sem sentido, sem motivo, lágrimas de pura observação.

Se ele tivesse tido coragem de perguntar... eu teria lhe feito muitas perguntas. Ele não teve, eu não perguntei.

Depois de um tempo, sai dali e encontrei Nina, que aliviada e sorridente me perguntou onde eu estava e porque estava chorando, respondi: "Vocês..." E a segui, ela procurou um telefone, e encontramos nossos pais e irmãos onde marcamos.

Todos encontrados de novo, voltamos a tal loja. Não me distraia mais com nada, nada mais me atraía e eu perdi minha vontade de comprar. Acho que nunca desejei tanto entender porque eu queria chorar quando via qualquer pessoa. Sabem? Eu chorei ainda um bom tempinho, fiquei muda e calada depois. Minha família pensou que eu estava chorando por causa da situação que acontecera, mas eu entendi que não era mais por isso... Eu perdi alguma coisa aquele dia, minha família se perdeu de mim, mas foi apenas um pretexto, eu perdi algo a mais ali, alguma coisa da qual eu não consigo expressar.

3 comentários:

Rebeca disse...

A beleza misteriosa de ser Fernanda.

babi disse...

Perdas...Hum. Você tem uma incrível capacidade, Fernanda, não perca essa nunca :} :*

blog do gallo disse...

"Onde existe ainda um homem da natureza, que conduza uma vida verdadeiramente humana, que não dê a mínima para a opinião dos outros e que só se deixe guiar por suas próprias inclinações e por sua razão, sem se importar com o que a sociedade ou o público aprovam ou censuram? Procura-se por ele inultilmente entre nós. Por toda a parte, apenas um verniz de palavras; por toda a parte, apenas um jogo de gato e rato com a felicidade, que só subsiste aparentemente. Ninguém se preocupa mais com a realidade; todos põem sua essência na aparência. Como escravos e bobos de seu amor próprio, vão levando a vida, não para viver, mas para fazer os outros acreditarem que vive".
(Jean-Jacques Rousseau)