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segunda-feira, 25 de maio de 2009

Uma pessoa doce no meio da confusão.

Eu ficava meio que sem entender aonde eu vivia, aonde eu tinha que estar, e porque aquelas pessoas eram determinadas a serem minhas. Mas eu não perguntava para ninguém, nem para aquela moça bonita e carinhosa que vivia me dizendo que eu tinha saído da sua barriga.
Eu acordava cedo, cedinho, e via aquela menina que diziam ser minha irmã, dormindo. O chão era gelado, mas eu gostava de pisar. Aquela época todo mundo gostava de ar-condicionado, nos churrascos de família mesmo, as pessoas falavam de ar-condicionado. Eu descobri com o tempo que tinha primas, que tinha avós e que tinha cachorros. Acho que foi desse jeito mesmo que estou contando, um belo dia eu resolvi entrar em contato com o que eu vivia. Eu era pequena, não lembro de pensar na estética, nem em grandes amores, mas lembro que fazia isso com minhas bonecas. Fazia elas pensarem nisso, enquanto observava minha própria casa. Eu tinha que usar um pijama vermelho, cobria tudo, por causa do frio do quarto, minha irmã tinha que usar um rosa, quase igual, mas de desenho diferente. A gente devia ter 4, 5 , 6 anos mas eu percebi que tínhamos cortes de cabelo iguais, curtos, chamavam de chanel e que possuíamos os mesmos pais e parentes e tínhamos direitos iguais, e apenas brinquedos diferentes. Ela com os dela, eu com os meus. Nina, o nome dela. Ela era até divertida! Aliás, eu passava boa parte do tempo com ela, loira, fofa, engraçada, feminina, sempre tinha uma novidade para me contar, uma delas foi que eu nasci no dia do meu aniversário, eu não acreditei, e perguntei a Júlia, que confirmou, rimos muito quando descobrimos isso! Nina sempre foi esperta, descobria coisas e me contava, mas também sempre teve um defeito, quando não descobria dizia o que achava e desse modo acabou como mentirosa muitas vezes. Não sabia dizer "Não sei", e acho que até hoje tem dificuldades com essa frase. Apesar de adorá-la de um certo modo, acho que eu tinha raiva ou ciúmes dela. Mas é claro que na época eu não percebia, só sentia. Contudo, Nina era doce, e gostava de mim, isso era o que eu não entendia. Ela gostava porque ás vezes ela queria me abraçar, ou quando mamãe me fazia cosquinha na barriga, elas trocavam as mãos sem que eu percebesse, e quando eu via que era a Nina que estava me fazendo cosquinha, eu ficava muito furiosa, e não queria. Peço desculpas para a Nina, ela não tem culpa da minha indiferença, e eu também de um certo modo, não tenho culpa se não entendia nada do que estava acontecendo, e acho que também não tenho culpa de ter percebido meu redor diferente, como se eu tivesse sido encaixada, vindo de outro lugar. Peço desculpas por último, por ter me perguntado primeiro e ter sido doce depois, só depois.
Acontece que para mim, a existência chegava a ser bizarra! Sem saber de nada, porquê, e me enquadrar nas regras e amar aquelas pessoas...tudo tão depressa e...
Creio que a Nina estava na mesma situação, mas foi mais educada que eu. Foi doce.


(p.s: Eu amo minha irmã. )

Um comentário:

Marina de Alcântara Alencar, a Nina. disse...

adorei, e eu tô me achando, mais do que antes! opksopksopksopk
beeijitos