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quarta-feira, 22 de dezembro de 2021

Fundo do mar


O mar se encarregará de me dar as respostas

Viajarei até ele para o grande ritual

Afrodite sabe mais do amor do que pensamos

Yemanjá sabe mais sobre acolhimento como nenhuma outra…

Vai dar certo, eu acredito.

As ondas levarão a prata e o que eu não dei conta de carregar.

Levarão o elo e a falta de consideração.

Levarão o que deu errado, 

o olhar que não veio 

e limparão as incertezas deixadas no meu coração. 

As ondas vão se misturar com meu choro e não saberemos mais de quem é o sal que corre pelas minhas bochechas…

As ondas vão se misturar com os meus sentimentos e uma linda amizade brotará… isto é, entre mim e o que eu temo.

Sinto que as ondas vão me devolver sorrisos em pequenos passos.

Sinto que as decisões poderão ser tomadas do fundo do coração. 

O mar resolve quando a gente nem se dá conta. 

O mar é profundo, intenso, verdadeiro, mágico.

Que as Deusas analisem

Que as Deusas abençoem 

Que meu corpo expurgue e meus caminhos se tracem…

Vou pular as ondas e esquecer as lamúrias 

Vou pular as ondas e amadurecer os anseios

Vou pular as ondas e encontrar minha fortaleza. 



sábado, 18 de dezembro de 2021

Saídas

 


Os poemas saem de mim como se fossem demônios exorcizados.

Me falam coisas que o meu orgulho tem vergonha de escutar.

Me mostram o meu medo de amar,

desfilam com ele e a entrega, 

dançam num salão de desculpas sem fim.

Meus poemas surgem do nada por eu estar sensível a tudo.

Caem de mim quando limpo a maquiagem, suam em mim após um exercício físico, pulam para fora num vômito sintomático. 

Eles estão até bonitos, apaixonados, 

em sofrimento. Eles caminham rejeitados ao meu redor na utopia de que tudo melhore.

Querem ser lidos no futuro com alguma risada. 

Querem ser lidos no presente como uma terapia. 

Querem abafar o passado e todos os seus erros e vícios armados… 

Querem uma comunicação não violenta. 

Meus poemas querem ter paz!

Balançar na rede

Exprimem uma vontade genuína de ser feliz.

Exprimem coisas que o dinheiro não pode comprar. 

Procuram desenhar a saudade, com cuidado, com saúde e insistem ao mesmo tempo em versos solitários que a vida não será capaz de sanar. 

Esses poemas querem sair da cidade

Rodar pelas esquinas

Tomar café com autoridades

Se entregar para as meninas

Mentir para si mesmos… 

Sentir um pouco menos

Tornarem-se adultos, 

maduros,

inertes.




Olhos tampados


Não posso te ver, 

achei por muitos dias que podia, 

quis muito,

mas agora eu entendi.

Não sara mais,

não me ajuda, 

não me cura,

não tranquiliza,

não me acolhe. 

Agora, é o meu espírito que faz um alerta de sobrevivência, e então a minha alma evita, e evitando vamos todos juntos: respirar direito. 

É tão estranho…

Evitar para não adoecer, 

para não regredir na escala do tempo,

para não desmaiar por dentro,

nem desanimar do caminho.

Meu círculo se renova e conheço pessoas que tu nunca mais vai conhecer também. 

Piso numa fogueira, sinto frio…

Talvez eu morra se eu te ver.

Agora, aparece em mim um sentimento de covardia, de fuga, sério demais.

Agora eu sinto medo de tudo desaparecer bem na minha frente.

Temo a invasão da certeza de que tudo não passa de um simples desencontro, como o de tantas pessoas por aí.  

Temo que não seja mais complexo, 

porque se não é complexo é comum, e se é comum não é especial, não é o principal. 

Estou errada e farta da dor, 

mas ainda insisto que seja verdadeiro, espiritual…

Meus olhos se iludiram?

Meu corpo mentiu? 

Eu não quero ver a rejeição me mandando beijos. 

Não estou pronta, e talvez, talvez eu esteja prolongando as coisas para não praticar o desapego, para não destruir a beleza da história em fatos reais.

Te seguro de mentirinha, em segredo, e com vergonha do que vão pensar de mim. 

O que vão pensar de mim quando o tempo não for capaz de fazer o seu papel?!

Me seguro em tolas esperanças inventadas.

De onde vem essas esperanças se ninguém me deu ? 

Cresço e me torno expansiva sem que eu queira… enxergo um pouco da liberdade. 

Não sei se lá estou feliz, mas acredito que já seja tudo aceitável. 

Te escondo rapidamente no ronco do meu estômago e por todo meu esôfago.

Tento te segurar em lembranças que estou esquecendo, em lembranças que estou perdendo… 

E então eu me vejo desesperada correndo até uma porta, e eu te seguro mais uma vez num abraço apertado.

Esse abraço, eu tenho certeza que aconteceu mais de 500 vezes.

Vou os revivendo. 

São abraços de despedidas, 

abraços com cheiro e cabelo, 

abraços com preces para que não aja nada pelo caminho, 

abraços que deixavam claro o quanto era difícil se separar, 

abraços que eu não posso ter inventado da minha cabeça. 

E cada vez que tu me solta, 

eu te abraço de novo 

e percebo nessa movimentação infinita de que estou no inferno. 

Onde tudo é eterno, onde tudo se repete e repete mais uma vez. 

Ficamos ali se soltando e se abraçando por horas, dias e meses…

Talvez, eu devesse olhar para o lado onde a grama verde vive e plantar coragem. 

Mas… Onde encontro sementes desse jeito? 

Tenho certeza que estão em algum lugar, eu as vi ainda agorinha, até bem pouco tempo…

Que frutos eu quero colher? 

Que raízes eu necessito fincar? 

São perguntas para se pensar…

São perguntas que ainda vou responder.

Não sei que horas, me parece que não é bem agora, mas uma hora esse abraço há de parar e dali alcançarei o paraíso. 

Onde nada é de mentirinha

Onde tudo é lembrado de forma simples

Onde posso ter olhos para ver. 

Umbral

Dormir é tão bom

É onde posso me encontrar sem a falta

Acordar me traz a sensação de que fui roubada… 

Olho pro espelho e penso que gostaria de sorrir

Os dias passam e eu me pergunto se faz muito tempo

Por que é tão difícil agora abraçar a liberdade ?

Por que é tão difícil desligar-se de algo que não existe mais ? 

Não quero ficar presa a essa realidade, mas o meu espírito fica e com muito medo não se levanta da mesa

Eu digo “vamos, vamos embora!”

E ele não se mexe, não tem coragem de soltar

Como posso ir embora sem ele? 

Serei um corpo sem alma? 

Como posso fazê-lo levantar?

Dormir é tão bom 

É onde posso me encontrar sem a falta

quarta-feira, 15 de dezembro de 2021

Acordar

Hoje não acordei forte, não acordei esperançosa, não acordei achando que tudo vai dar certo.                

Hoje por algum motivo profundo eu não consegui ser racional, não consegui não passar mal, não evitei meu sentimento, não fechei a porta e me deixei de castigo.                 

Hoje rezei de joelhos, chorei no espelho, pedi logo para o anoitecer.      


Amanhã, amanhã quem sabe meu verso seja o reverso.

Amanhã quem sabe eu estarei alegre e de pé.

Amanhã quem sabe eu acorde encantada e desejada.

Amanhã… 

Amanhã quem sabe já consiga me lembrar sem dor, sem crime.


Hoje, infelizmente, fui de carne e osso.

Fui alma desamparada

Carta que nunca chega

Flor que se despedaça

Declaração sem amor

Despedida sem abraço

Remédio esquecido


Amanhã, talvez eu seja de aço.

Amanhã, talvez eu seja olho no olho.

Amanhã talvez eu seja coragem,  vontade, amizade e a solução para todos os meus conflitos.


Hoje, só hoje, eu acordei com o que sobrou de mim. 



  




domingo, 12 de dezembro de 2021

minha carta

Só por hoje, eu quero me perdoar por ter sido tão dura comigo mesma. Não é fácil administrar uma mente adoecida. O importante é que eu cuido, eu enfrento... eu preciso me acolher e aceitar que possuo uma ótima qualidade de me pegar pelo braço, nem que seja aos prantos, e sair andando até encontrar soluções... além de ter a sorte de ter uma família muito bonita como rede de apoio, é claro. 
Quero também me perdoar porque acreditei que tudo tinha um jeito, que tudo se transformava, que eu tinha um poder de consertar as coisas e a sorte de caminhar junto numa jornada. Eu vi o brilho dos olhos do outro diminuindo, eu vi a falta de desejo saindo do meu quarto, o sorriso que não era mais o mesmo ao ver minha gente, meu cachorro. A falta de empolgação na fala. As inúmeras desculpas para se distanciar. Vi, tudo, mas estava cega do outro olho. Fiquei concentrada num medo do futuro... e perdi o presente. Não foi culpa minha, eu estava doente. 
Quero me pedir desculpas por ter achado que eu fosse segura o suficiente, por ter achado que ter certeza dos sentimentos me levaria a algum lugar. Nem sempre leva. E eu definitivamente não sou segura o quanto eu gostaria. Será uma batalha aprender. Quero muito entender porque eu tinha tanta necessidade de certezas tolas, porque ora tinha coragem, ora só enxergava o medo, porque tive pressa para algo que talvez nem precisasse de desespero. Não deveria ter carregado aquele peso... aquele peso era do outro. Cármico, e apenas do outro.
Me peço desculpas por eu ter me ferido esse ano, me criticado, me amaldiçoado naqueles meses. Minhas sombras se estenderam por mais tempo do que eu imaginava. Minha insegurança me fez pensar que não havia mais caminho para dar certo... minha visão de mundo ficou cinza, frágil. Eu me perdoou, porque eu não conseguia saber o que eu agora sou capaz de mastigar, digerir e ainda sentir que dói. E me perdoou ainda, por no fundo saber que eu estava amando de forma errada e mesmo assim não ter conseguido ouvir a voz interior da sabedoria. Me parece que em muitas dessas horas eu preferia deixar de ser adulta e virava uma criança que esperava que a voz do outro me dissesse como queria que as coisas fossem, que me mostrasse de forma corajosa e clara os seus limites, uma voz que não tivesse medo de dizer o que pensa porque sabia exatamente o que pensava, uma voz que não me prometesse declarações de amor prontas de novelas, mas construísse uma solução em cada conversa difícil e real que pudesse vir. A verdade é que essa voz não existia. Essa voz era a voz apenas das minhas necessidades e expectativas. Talvez, a voz que eu tinha ali ainda estivesse engatinhando, só sabia chorar, não soubesse se quer que poderia falar. Que tinha esse direito. Eu preciso me perdoar, porque eu fui crescendo meio torta nessa confusão, fui ficando perdida nos silêncios e deixei a porta aberta para fantasmas do passado me assombrarem. Não sei se fiz certo em querer sinalizar caminhos amigáveis e menos dolorosos também... talvez esse caminho nem seja possível... 
Por último e não menos importante quero me pedir desculpas por me sentir desesperada para que tudo passe de uma vez, por querer uma cura milagrosa, um amanhecer com tudo resolvido... talvez eu só precise de calma, distração, e não ordenar o desenrolar das coisas dentro de mim. 
Quem é que disse afinal que precisamos entender tudo?
Quero abraçar minhas dores. Lidar com isso, até que cada probleminha fique pequenininho e inofensivo. Até que quando eu menos esperar, eu já tenha caminhado bastante sem perceber e esteja lendo essa carta como uma velha lembrança.