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quinta-feira, 28 de junho de 2012

Sensação Tênis


Sexta feira passada liguei pra minha prima de 12 anos pra pedir um tênis emprestado, pra usar no acampamento do inglês (inclusive: foi maravilhoso!) e quando ela disse que emprestava sim e que o número do pé dela era o mesmo que o meu, eu desliguei o telefone e senti um estranhamento...para onde foram todos os meus tênis?!

Houve uma época da minha vida (creio que dos meus 11 aos 17 anos) que tênis era uma peça que não faltava de jeito nenhum no meu guarda roupa. Eu gostava de me sentir confortável, gostava da ideia de que um dia eu iria precisar correr e estaria preparada, gostava de inventar meus próprios laços e amarrar os cadarços com certa adrenalina de que mais um dia seria enfrentado, e eu tinha pares de tênis sempre de 3 cores variadas, porque queria que combinassem com meus trajes e mantinha uma certa intimidade com cada um deles a qual me proporcionava no ar a idéia de que usando tênis eu estava livre, leve, solta e a vida era mais emocionante e cheia de liberdade.

Eu me lembro de muitas coisas, mas agora não me lembro quando foi que comecei a usar salto alto, sapatilha, chinelos...não me lembro quando foi que fui trocando cada par de tênis por sapatos que me deixassem talvez menos confortável mas um pouco mais bonita, feminina, harmoniosa. 

No acampamento, calçada naquele all star vermelho da minha prima, eu resgatei de súbito uma alegria ingênua de menina que eu nem sabia que ainda podia estar em mim, e fiquei tão empolgada e tão disposta  em cada prova e gincana, que de repente confesso que pairou uma dúvida sobre se o acampamento era divertido de verdade, ou se os tênis  que eu usava  é que tornavam tudo mais mágico.

O acampamento acabou e eu não sei mais qual será a outra vez que precisarei de um par de tênis na vida, nem qual será a outra vez que precisarei me sentir mais confortável do que bonita. Tudo que eu sei é que o tênis funcionou como um despertar de um sono que eu mesma me coloquei, e não me lembro mais  o porquê, mas de certa forma me parece que foi bem importante, afinal de contas eu me abdiquei de sensações que me faziam muito bem...enfim, a gente cresce, se transforma, descobre coisas e encobre outras...

e os tênis, os tênis estarão pendurados ali ou aculá, pra quando a gente quiser voltar.  

(Fê está pensando seriamente em comprar um par de tênis *-*)

sexta-feira, 22 de junho de 2012

Tigres e lobos não se misturam.


Estava faminta, com sede, uivando inúmeras vezes para as luas que falecem e renascem. Havia me esquecido de como era as tuas invasões no território, havia me esquecido em como me mantém alerta e excitada para amenizar o tédio da vida que me enlouquece dentro do peito. Agora que meus pêlos já não se arrepiam de medo, nem minha carcaça se arregaça toda pra você, agora que já não tens o direito de  devorar-me até não sobrar mais nada, não pretendo deixar também que invada essas cercas e divida os cordeiros comigo, porque tigres e lobos não se misturam.                           
Pare de rosnar pra mim tigre branco, pare de rosnar que eu não tenho tempo para cuidar de felinos metidos a heróis. Engula seu próprios pêlos em lambidas vorazes pra se limpar da sujeira que cravei no teu corpo, engula-se porque o impossível só é atraente pra quem não morre, quem é de carne e osso como eu, precisa acordar todos os dias e caçar, precisa aprender a caçar.
Essa será a terceira vez na sua vida, que vais ter o desprazer de comparar as atitudes feijão com arroz de uma caçada com outra? Eu não queria estar no seu lugar nem de brincadeira... espero que não se lembre das palavras sujas que foram ditas e juradas na cabeceira da tua orelha cortada, nem que ainda sinta minha língua no buraco da outra orelha te deixando inteiramente arrepiado pela mata. Queira Deus meu caro Tigre, que quando sua gazela já estiver expert dos lados que você pode chegar, que ela de costas ou de quatro não seja traída pelos próprios percalços, que as  performances dela tenham mais sorte, e que teu faro de mim já tenha sumido inteiramente, porque seria uma tragédia grega me ter guardadinha em cativeiro.             
Ainda que se diga herói, percebo a pele de cordeiro que usas ao vir falar comigo. Deve ser um prazer quase doentio esse de vir me dizer saltitante feito um carneirinho que encontrou um pasto de cordeiros bem mais gordos e gostosos em uma floresta que ainda não pretendo conhecer. Talvez tenha se esquecido de que eu não sou a melhor espécie para ouvir isso, quem sabe você não bateu a cabeça em alguma árvore por ai... ou foi eu que nunca percebi como não passa de um tigre bobo e estúpido, feito aquele do ursinho poof? Não entendi muito bem, mas tudo bem...gabar-se pra você é quase um hábito, não é mesmo? A parte que não ficou bem destrinchada da carniça, foi o pedaço que você quis oferecer pra mim... em que parte da sua fome, esse pedaço não te alimenta?                                                                                       
Tigre, tigre...eu acho que sua mãe esqueceu de te ensinar que na floresta não se deve brincar, nem provocar os lobos... Vou te ensinar! Lobos são peças naturais, são muitas vezes julgados de maus, mas é porque tem seus próprios interesses, e assim como andam em matilhas também andam solitários, lobos são famintos e maliciosos, lobos não são felinos fofos cheios de honras e força, lobos podem matar sem comer. Anseio que você não esteja sendo precipitado na sua cadeia alimentar da vez, me parece agora que é meio desembestado, que não pensa duas vezes antes de agir, um tanto precipitado, bruto como uma fera que só age, ataca e corre! Eu não corro como você, tigres são inacreditavelmente mais rápidos! São extraordinariamente mais rápidos que os lobos, estou bestializada com seu desempenho de tempo.                                            
Por que um tigre precisa cutucar um lobo com a vara curta? Fica a pergunta... Repare que incomodar não seja algo natural, isto de alguma forma parece lhe trazer conforto, pra mim apenas um uivo..."a-u" pra lua cheia de amor e ódio, no mais sincero pedido de que você faça urgentemente a sua digestão dos meus pedaços moídos dentro de ti, ao que tudo parece ainda não estão completamente digeridos, você acha que eu não sinto isso daqui? Não se esqueçam de que antes de estarem contigo, são meus, dá pra sentir daqui. Meus caninos de lobo podem não estar mais em você, mas tenho certeza que as marcas ficarão cravadas no seu couro valioso, na sua memória e fincados quem sabe até na sua alma...faça o seguinte, seja um tigre bonzinho e dê meia volta enquanto minha matilha – nada confiável- que está escondida atrás de todas essas pedras e árvores que a noite não deixa aparecer, e  afaste-se do pasto (ou eu não respondo por mim). Divida sua felicidade extrema apenas na sua nova cadeia alimentar, não perturbe a extinção dos outros, não perturbe o cardápio. Ah! Mas antes de ir...tome bastante cuidado, policie-se pra não viver assombrado de comparações de uma carne com a outra, você deve saber como é desagrádavel ter um lobo disfarçado na cama, chapeuzinho vermelho deseja que seu conto de fadas seja perfeito, relaxa.