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quarta-feira, 25 de março de 2009

Matando a sede.


Acordou. Ninguém na casa. A casa limpa e cheirosa da faxina de ontem ainda transpirava.
Levantou. Ninguém na cozinha. Os copos limpos, sujou um injustamente, para matar sua própria sede.
Bebeu a água, gelada e pensante. A geladeira foi fechada, a pia recepcionada pelo copo, e a boca fechou de um jeito, que parecia nunca ter se aberto um dia.
Andava devagar, sentindo o chão limpo e frio. Pisava como se estivesse em terras sagradas. Subitamente, soltou os cabelos e pois-se ao chão.
Abriu os braços, e abriu as pernas, e espalhou a cabeleira como uma rosa dos ventos de um mapa geográfico.
De um ângulo de cima, diriam que seria um "X". Um "X" humano em uma casa limpa.
Não havia ninguém na casa. Não havia, coincidentemente, ângulo de cima.
Levantou. Oferecidos, pareceram-lhe os sofás e foi para o balcão. Bebeu licor, quente e pensante viu as taças competirem para serem usadas, e a segunda do armário ganhou sua atenção.
A garganta lhe ardeu, mas não expressou nada. Ninguém na casa.
O licor foi fechado, o balcão recepcionado pela taça suja e a boca daquela mesma maneira, se fechou.
Andou devagar, sentiu cada linha do tapete, subitamente prendeu os cabelos, entrou no banheiro e pegou o vidrinho de comprimidos coloridos. Parecia estar pegando em uma nota de cem reais. Abriu o vidro e dessa vez, para não ser injusta e nem ouriçar competição, tomou todos como se fossem docinhos. Ninguém no banheiro. Toalhas tão secas quanto sua garganta.
Ainda pela casa, sentindo onde pisava, pois-se ao chão de novo, dessa vez sem querer e de cabelos presos.
Paralisou-se por inteira e só conseguiu mexer os olhos. Viu um espelho debaixo de uma cadeira de madeira, na sua frente.
Fechou os olhos e abriu depois, para ter certeza do que estava vendo.
Alguém, alguém na casa ainda transpirava.

(...)
De um ângulo de cima, diriam ser um "K". Um "K" humano em uma casa limpa.

sexta-feira, 13 de março de 2009

Amém para mim.



Existia alguma coisa errada com aqueles que falavam de você,eu percebo desde o prézinho, mas parecia melhor ignorar. Afinal de contas? Nova demais para pensar em você.
Depois, tantos anos de esforço para compreender, usei um pouco de humildade, de jogar ao inverso, julgando quem pensava como se fosse... eu. Mais alguns sofrimentos ridículos, consegui. Acreditei. Comecei então, a me reunir todas as noites e esquinas contigo. Não me sentia sozinha. De fato,isso não acrescenta,eu sempre fui a louca, por falar com objetos ou comigo mesma, mas a verdade é que não dá mesmo para se sentir sozinha, não se a pessoa tiver a mesma frequência de imaginação que a minha, e percepção. (Quer ver? Pensa e sinta seu dedo midinho por 10 segundos!...E aí?)

Enfim, ali, com menos esforço você estava, finalmente.
Que amor. Respeitei, respeitei, perguntei, perguntei, e um dia os ataques que lhe faziam e seu povo e silêncio, me incomodou. De repente, quem te amava ou nem lhe dava valor, pareceram-me todos tão humanos, tão coitados, tão corajosos, tão...persistentes,iguais e de uma forma criativa, vi uma espécie de doença, que me deixou apaixonada, era como se eu também tivesse essa doença. Me deixei sentir então, ser humana. E por raiva talvez, cansei de explicar, cansei de ver o que fazem ou não pelo teu nome,cansei de te encaixar, e me perguntei diretamente: "O que diabos eu estou fazendo?"


Foi bom eu ter acreditado. Ainda me pego te chamando, força do hábito ou quem sabe desejando que existas. Mas, agora sinto pouco, e sem raiva, culpa ou mágoa, ainda sou a mesma. Lutei contra mim, não faz sentindo nenhum...mas descobri a tempo, ainda bem.
Ainda mais em seu prol, prol tão complicado, contraditório, misterioso demais, é até curioso, é reconfortante, mas dá tanta confusão que fui vencida pelo cansaço.

Enfim, eu me rendo ao nada infinito. Vai demorar um pouco para eu parar de te pedir, mas me lanço essa grande responsabilidade, em que mesmo sangrando vou tentar ser mais objetiva, é até mais rápido e sensato. Chega de consultas, me retiro do mundo dos pidões. Eu acredito em mim. Eu acredito nesses seres que vivem comigo. E na fé também. Eu acredito que é melhor parar de fingir ou se esconder em casulos enormes de mistério dos quais são apenas "não sei's" da vida.

O mais impressionante é que ainda acho o planeta terra lindo. Ainda admiro minha casa grande, azul, esférica e cheia de defeitinhos...
Quem sabe um dia nós nos topamos e fazemos as pazes, quem sabe eu apenas vou deixar de "levantar bandeira", e te fiz dormir.
Quem sabe eu ainda, esteja nova demais para pensar em você, (será?). Ou quem sabe eu esteja apaixonada temporariamente pela criação, e sou injusta ao ponto de não querer saber de autores.
Não vai ficar vazio. É vazio. Meus queridos e primeiros humanos nos deram muito para se fazer, para esquecer o principio, para seguir, para adaptar-se. Nada mais lindo, eu acho. (Quantas vezes eu já citei os primeiros seres humanos aqui? Rs)
Todos, no mesmo barco, uns vão descobrir a angústia, e vão procurar a solução, outros vão se conformar e rolar.
Não há pilotos, nem mapas, nem gerência.
E daí? A gente sabe inventar pelo menos!
Ei Deus, você está morto para mim.


(Srta* reuniu-se consigo mesma para esclarecer sua posição em relação a isso já faz meses e finalmente se decidiu. Não sabe se é temporário, nem se é uma experiência, mas vai partir, seguindo sua existência, deixando os fatores externos em último. No fundo. Até então.)

quarta-feira, 11 de março de 2009

Operação falha.

Duas criaturinhas no começo de tudo, flutuavam juntas, organizando a chegada do próprio tudo.
-Anota aí! Precisamos de um motivo!
-Um motivo...uma explicação também?
-Boa! Um motivo, uma explicação, hãm...benção.
-Benção? Tá bem...hum! E aquela estória de dinheiro?
-É...mas é quase igual, anota reprodução, comida, bebida...
-Álcool! Que tal?
-Essas coisas que você está falando, eles vão inventar! Não precisa por, fiquemos só com o que eles vão precisar agora...
-Tá bem...o que mais?
-Bota aí que eles precisam entender, claro que eles nunca vão entender, mas só para poderem sentirem-se com classe, bote.
-Conformar né...
-Depois, eles vão...vão...hum! Coloque que eles vão dormir! Apagarem feio!
-Chefe?
-Eu estou pensando em algo genial para depois dessa espécie de sono que acabei de criar, não me atrapalhe!
-A tinta acabou!
-Como assim acabou? Onde terminamos?
-Quando eles serão obrigados a apagar. Apagar feio.

(...)
E desde a falta de tinta, nunca mais fomos os mesmos.

(Srta*Fê desconfia que as maiores confusões começam sem querer.)

segunda-feira, 2 de março de 2009

Hipnose mal amada.

Com enormes fones de ouvido, jamais descobri tua música, mas na curiosidade, ficava a observar e vi que olhavas engraçado, desconfiado. Levantava de um jeito, que parecia que ia cair, suas roupas eram folgadas, cheias de conforto, pareciam-me egoístas, nunca me deram chance de imaginar teu corpo. Adorava sua voz, só a conheço perguntando. Era uma dança, entre seu gogó e meus olhos...
Voz, que nunca foi direcionada a mim, mas que era fervorosamente desejada pelos meus ouvidos e chorada pela minha mente, atéia, para que nunca deixasses de ter dúvidas, não quando eu estivesse por perto, pois era minha única chance de te ouvir. Era motivo também, para te olhar sem ser descoberta, e ver você me reparar por três meros segundos, sem intenção nenhuma, por reflexo de movimento, desse jeito, eu era uma curiosa inocente.
Teu pescoço, arrastava-se para o alto, a cabeça encostava na parede e em um estalo o maxilar de barba rala e clara se expressava suave, fazia isso sempre antes de perguntar, obtida a resposta, coçava a cabeça, depois do ritual, saciado, olhava-me mais uma vez, desconfiado, e para que eu não percebesse talvez, tratava logo de pegar nos alargadores das orelhas. Eu imaginava então, como seria enfiar meus dedos no buraco que os alargadores fizeram nas tuas orelhas, devia ser mole, eu balançaria um pouco, aproveitaria que estava perto, e beliscaria a ponta do queixo, me aproveitando de novo olharia nos olhos desconfiados bem de pertinho.
Não sei se eu gostava mais da voz, dos alargadores, da barba clara e rasa do maxilar, talvez, do processo inteiro de perguntar alguma coisa, ou do mistério egoísta do conforto que tuas roupas me proporcionavam, mas você no canto, imperceptível, piscava.
Rindo em conjunto com a sala, era um momento que eu também me aproveitava para te ver mais pouquinho, ria gostoso, ria inteligente, sorria com aqueles maxilares e piscava lerdo, direcionado para baixo.
Descobri que você nunca vai deixar de ser desconfiado, infelizmente lembrei só depois, das regras... Vai acabar e a culpa é minha. Esquecerei-o mais rápido do que eu pretendia.
Quando tudo que entendi de você sumir, vai sobrar só dois alargadores e as roupas, sem ninguém.
Não descobri teu nome.

(Para quem ama platonicamente e acha o maior barato.)

domingo, 1 de março de 2009

A palhaçada que me faz sentir.

Para se juntar a mais uma das coisas que eu acho engraçado, eu vou logo dizendo que quando uso a expressão: "É engraçado", na maioria das vezes, acho engraçado mesmo. Engraçado de graça, de chorar, de rir, de...ver uma esfera no meio dos quadrados.
(...)
É engraçado, como tenho uma crise de contradição, que vez ou outra, bate na minha janela (não me considero uma pessoa com portas) e se hospeda por horas, dias, semanas!
Do nada vai embora, e sem dizer se volta, sei que uma hora voltará, na mesmo tom.
Tomara que todo mundo tenha essa mesma sensação, e mais do que tomara, tenho certeza que tem, alguem deve ter, depois de um certo tempo, descobrimos o quão não originais nós somos. E para ser mais uma vez engraçada e contraditória, às vezes sentimos-nos bem por todo mundo sentir o mesmo que nós, e às vezes sentimo-nos mal se não sentimos o mesmo que as outras pessoas.
Sentimos também, na mesma palhaçada, a vida facílima e bela. Mas ela é. E livres, leves, soltos a levamos...mas aí, é tão complicada...

Dura, dificil, ilusória...nos achamos sortudos até de ter conseguido aprender a ler, nessas horas.
Diabos! Eu queria pensar em coisas mais idiotas, desse jeito envelheço rápido, apesar de que as vezes, na maioria das vezes, me sinto enormemente velha no corpo de uma jovem, que não tem culpa de nada. E sinto dó. E sinto vantagem. E sem rumo, volto a dó. Afinal de contas? Do que me serve?
Alguém, tomara que também sinta isso. Alguém sente isso. Não sou original. Não precisava ser.