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segunda-feira, 11 de abril de 2011

A gaveta de conceitos sem peito.

       Ainda pequenos (as), conseguimos acumular estereótipos dos ambientes em que vivemos. Seja familiar, escolar ou situações que nos ocorreram mais de uma vez ou por coincidência, desenvolver o hábito de classificar previamente passa a ser comum ao longo da rotina, e de certo modo, pontuo que ajuda e atrapalha a humanidade diversas vezes.
       Como se fizesse parte de uma maldição, acredito que as vezes até reconhecer próprios preconceitos ou formular um conceito prévio de alguém, seja inútil, pois não significa  que não possa acontecer de novo. A questão é muito mais inevitável e despercebida do que imaginamos. Como quando a barbeiragem acontece no trânsito, e você solta: “Tinha que ser uma mulher mesmo!”
       Crença e conhecimento não fazem parte de uma guerra exclusiva de religiosos e cientistas, mas também de todos nós, que participamos dela o tempo inteiro sem nos darmos conta.
      A impressão que eu tenho, é que nosso cérebro tem no meio de todos aqueles cruzamentos uma cômoda de madeira pesada. A cômoda de gavetas sirva talvez para poupar alguns cruzamentos cerebrais.
       E sem entrar nas teorias da preguiça do cérebro, creio que assim como nós preferimos o atalho para chegar mais rápido em nossas casas, a consciência também abuse e resolva simplesmente abrir umas das gavetas que tenham exemplos e conceitos prontos. Guardados e separados para serem usados em qualquer situação de insegurança.
      Por exemplo: que ouvido nunca escutou a frase: “as mulheres de hoje em dia estão fácil”, e que boca nunca se justificou com a frase: “homem nunca prestou mesmo.”
      É muito mais fácil não entrar em conflito sobre o porquê delas estarem mais fáceis. Se seria verdade que elas ou eles prestam ou não, se é preconceituoso, ou simplesmente divertido, se existe explicação sociológica sobre isso ou se seria apenas parte de um comentário frustrado, que por coincidência, tem exemplos de sobra que se encaixam perfeitamente de cara (e coração) nos ouvidos de quem escuta.
      Neste caso, se quem ouve acredita, o estereótipo acaba por motivar o preconceito ou até mesmo a discriminação de uma imagem pré concebida de relacionamentos.
     Outro exemplo comum de sala de aula: -Fez a tarefa? – pergunta a professora -Fiz. -Onde está?-Esqueci em casa, mas eu fiz. -Ah, mas é claro! –diz a professora irônica.
      A resposta do aluno pode ser desculpa, mas também pode ser irresponsabilidade e o pior e mais injusto pra ele é que pode ser verdade.
     O que acontece nesse caso é que a professora pode não relevar, e simplesmente estereotipar o aluno de irresponsável ou mentiroso. Ou pode até considerar e jamais saber se o aluno mentiu.
     O ponto positivo é que: Nessas situações, os estereótipos servem para a ação prévia também. Pois, para não ser classificado, para não ser rotulado, para não ser o que ele não é (mas pareceu ser), o aluno vai tentar não esquecer ou tentar convencer a professora do contrário.
     Classificar alguém pela primeira impressão, corte de cabelo ou chinelos confortáveis nos pés, deve ser completamente humano. Diria até que necessário, pois até a física  afirma que: “Para cada ação há uma reação”.
     Determinar um conceito prévio de qualquer pessoa ou situação, pode ser um caminho fácil, assim como sabemos quer roubar é mais fácil que comprar, porém depende do ponto de vista. Alguns roubam, outros ficam na vontade, outros nem pensam.
     O fato é que o estereótipo (ou a impressão sólida) deve ser refletida para não ser prejudicial. O julgamento prévio que fazemos tem que abrir espaço para os motivos ou razões de quem observamos, caso contrário viveríamos de verdade absoluta.
    Quem vive de verdade absoluta, fica cego para perceber as mudanças em situações conflito. Ora, se há mudança de pensamento, atitude ou vaso de flor, é porque algo não estava tão absoluto assim.
    Por isso, o estereótipo anula possibilidades de conhecimento, enquadra o pensamento na gaveta da cômoda mais conformada que existe. Uma gaveta sem peito nenhum... 






P.S: quem não pensou em seios femininos com o “peito” do título da coluna, que atire a primeira pedra!