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sexta-feira, 29 de outubro de 2021

Apagada

Não me interessa mais as horas e os dias, viro um fantasma na terra. Atravesso paredes, ouço conversas, escuto orações... mas nada, nada mais me interessa. Estou sendo lembrada para ser apagada, estou sendo lembrada para ser esquecida, subtraída... guardada onde não se pode mais fazer nada. Um fantasma, uma lembrança sem muitos detalhes.  

Choro, eu previa pelos últimos dias que esse dia ia chegar... tu deixou pistas pelo caminho. E os desencontros aconteciam... Não poder controlar o externo é horrível, mas é perfeito para entender que não precisa de controle nenhum. Sinto uma febre pelo meu corpo por tua ausência... esse dia algum dia ia chegar, eu deveria ter ido embora primeiro? 

Me deito em lágrimas e escuto tuas declarações de amor, aquelas que eu tinha medo de escutar... estou esquizofrênica agora. Escuto teu riso, meu nome na sua boca, teus avisos e letras musicais. Que vontade eu sinto de rasgar esse contrato rompido e fingir que nada aconteceu... que vontade de te ter em meus braços e poder entender de novo que tudo ficaria bem. Mas não ficará... tentamos tantas vezes e paramos no mesmo lugar. Tenho um medo estranho agora de uma próxima eu não aguentar. Mas a gente aguenta... no final é que a gente vê que tudo continuará normal, menos a gente mesmo é claro. Escrevo um livro sobre minha dor, sobre a partida, sobre se tornar desinteressante. Ninguém vai querer ler mas estará escrito. Quero registrar esse estranho amor.

Estou alienada no teu corpo, o vejo passeando pelo meu quarto e banheiro. O vejo deitado e acinturado de costas na minha cama. Uma miragem, uma saudade que se materializa, um risco preto nas tuas costas com mais uma frase sobre o amor. Ao contrário de ti, eu estou doente de desejos, é que minha alegria naqueles dias difíceis era encostar em você e me esquecer de mim, era encostar em você e me apregar em ti. Uma só,  na minha cabeça nossas diferenças se completavam. Como pude ter ficado tão dependente? Nem pareço aquela que precisava de um tempo sozinha e reclamava quando as coisas pareciam ser só prazer. Como pude ficar tão arrogante? Criando verdades que só estavam na minha cabeça, pesando o pra sempre, estragando o ritual.

As coisas são engraçadas por um lado... tivemos temporadas e temporadas. Em algumas te fiz feliz, em outras tu que me fizestes. Outras vezes eu era tuas músicas e tu meus textos. Em algumas eu confusa e com medo achava que não dava mais certo, em outras tu com raiva e certeza só queria um fim. Teve aquelas em que lutei quase sozinha para continuar, e também aquelas em que tu sozinha perdoou, acreditou e continuou. Quantos capítulos uma história é capaz de aguentar?

A vida é sacana e emana lições que não somos capazes de entender. 

A vida é bandida e não quer saber, as vezes nos rouba tudo de uma só vez. 

A vida é surpresa e nos presenteia do jeito que tem que ser... 

a vida tem destino e termina para o meu sossego.

Eu sou um fantasma, para onde ir se tudo agora é morte?