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quinta-feira, 30 de abril de 2009

Namorados laranjados.

-Por que é que vocês não chupam essas laranjas?
-Eu é porque não sei descascar.
-Vai fazer onze anos e não sabe descascar uma laranja?
-Ué? E tem idade para saber?
-É fácil ó, basta deslizar a faca ao redor e...oí, pronto.
-Ah! Mas quando é comigo a casca nunca sai inteirinha, sempre é pedaço por pedaçinho...
-Pega, tem que tentar.
-Mas...
-Quem deixar a casca cair, cada pedaçinho é um namorado escondido.
-Não vale mãe!
-Vale sim.
(...)

-Me esconde 36 namorados? Fernanda de deus...
-Ah mãe! Eu disse que não valia!

(Fê conseguiu ontem a meia noite descascar uma laranja sem ser em pedaços, descascou uma vez só, do começo até o fim, a mesma casca!)

segunda-feira, 27 de abril de 2009

Antes de dormir.

-Mãe? Tá acordada?
-Tô.
-Qual o seu sentido de viver?
-(...) Não faz pergunta difícil Nanda...
-(...)
-A família. Aliás, eu vivo só por causa de vocês.
-Sabe? Eu também. Engraçado né?
-É...

Adeus madeixas.

Foi no último dia que estive lá, aliás, ninguém de lá viu a não ser o pessoal de casa e duas primas que me despedi à noitinha, (e que tanto pediram para que eu ficasse ali para sempre) cortei o cabelo.
Foi na casa da Dona Amélia, uma mulher que nunca tinha visto na vida, uma negrinha descabelada, magra, e de mãos que me pareceram experientes e bonitas, estava frio, odeio araguaína fria, odeio mesmo! Não combina nem um pouco... E expliquei que na verdade eu estava tão incomodada psicologicamente que o que eu queria mesmo era ficar careca, ou deixar minha cabeça tosada, como os pêlos de um cachorro, ela riu e ficou meio desgostosa, tentando me convencer de que aquilo seria um erro, e que meu rosto jamais ficaria bem daquele jeito. Eu juro que teria coragem, juro mesmo! E juro que nunca vou entender de onde veio minha alienação para cortar os cabelos, logo eu, que sempre tirava só as pontinhas sentindo uma dor. E ela mandou eu abaixar a cabeça, eu a obedeci, e todas as minhas madeixas vieram para frente, e "tieque!", ela passou a tesoura, e como se fosse um prédio caindo, uma enorme mexa caiu no meu colo, na mesma hora eu levantei e disse: Uau!
Ela riu e mandou eu abaixar a cabeça de novo, e continuaram os "tieques".
Resultado final: Eu adorei! Ficou todo repicado e o tamanho diminuiu em relação ao que estava, consideravelmente. (Depois posto fotos)

Mas um medo vencido, cabelo cresce. E ainda mantenho minha força, chupa essa Sansão.

sábado, 25 de abril de 2009

Era uma vez uma floresta encantada..

Não sabemos, não quando pequenos, que existem preços para serem pagos em cada falta que fizemos o favor de fazer ou fizeram o favor de nos fazer. Eu tive e fiz faltas. Você também. Todos nós. E os que virão, que não se gabem, vão ter. É uma linda maldição.
Um abraço negado, uma pergunta não respondida, uma má interpretação de preferência, uma indiferença, um não tocar... Rancores. Teias de rancores.
Tudo será despercebidamente guardado por que não conseguimos falar na hora, pois, é tudo tão surpreendente, tão intimidador, tão novo, que somos trancados sem justificativa e bem rapidamente! Em uma floresta desconhecida. Lá, onde não saberemos o caminho de volta, nem o de ida, fingiremos, sem saber se aquela floresta é perigosa, admirados com a vegetação, e com o propósito inconsciente de querer sair dali.
Totalmente desprovidos, é quase que uma regra entrar na floresta. É quase que inevitável depois de um "F", de um "F" de falta, não nos enfiarmos na floresta. Uma coisa que eu nunca vou entender, é:
"Por que, na hora em que acontece um "F", somos hipnotizados e não falamos nada?"
Desse modo, ficamos ao léu, feito bestas, desorientados e infectados.
Não é extremamente esquisito? Uma coisa te acontece e não ficamos sabendo disso diretamente! Somos quase que imediatamente mandados para a floresta!
É por isso que o que nós resta é soprar. Soprar para o vento! E sopramos pela voz. Vamos soprar injustiçando, ridicularizando, o que for e quem for que estiver na frente.
O tempo, nunca deixou de passar por causa disso, e crescemos, e dessa maneira que pegamos "tiquetes", "tiquetes" de grandes chances, para podermos admitir o que guardamos, admitir onde estamos, admitir o que sentimos.
As chances não aparecem por que crescemos. Mas porque só assim as situações vem.
Um dia, um surto te acontece. Uma determinada situação aparece, e um grito, uma loucura repentina, faz com que tudo que guardamos atue.
Dopado, chapado quase caindo, podemos ver o rancor dançando. E ele sai dançando entre você, entre a falta, entre talvez, o que a fez, e entre a salvação que o libertou: Uma situação problemática.
Você se sente livre, culpado, e não sabe porque ficou tanto tempo admirado.
Uma situação, seja ela em qualquer tempo, aparece. Por que as coisas tem que acontecer, e é do mesmo jeito que nos colocamos inevitavelmente na floresta que sairemos dela.
Assim, você passa a compreender. Basta essa vez, para os mais espertos, para que todas as outras vezes que um "F" aparecer, sua alerta pisque e não se deixe admirar e entrar outra vez nessa floresta. E você fala, você não deixa mais atingirem.
Às vezes, o tempo na floresta é tão grande, que quando conscientes do que aconteceu, queremos vingança. Outras, queremos apenas esquecer, e não voltar nunca mais para a floresta.
Depois de "F's", florestas, e sanidade do que lhe aconteceu, não existe ainda liberdade. É preciso ainda, uma decisão. Ou você se vinga ou você perdoa.

domingo, 19 de abril de 2009

Desejo.


Eu quero uma casa. Você sonha com o quê?
Uma casa com objetos escolhidos a dedos e a cores. Uma casa pequena por fora e grande por dentro. Com cômodos de espaços iguais, sem nenhuma injustiça. Nem muito vazia, nem muito cheia. Não quero uma casa no campo como já cantava Elis, mas uma casa que guarde minhas coisas, meus pensamentos, minhas inspirações e se apresente ao meu favor sempre, começando por me fazer dormir em qualquer canto, me fazer limpar sem tamanhos esforços, me fazer amá-la rápido.
Uma casa retângulo. Vai ter andar, porque assim tem escada, e assim tem refúgio, que me levará a reflexão em degraus...
Portas, eu prefiro poucas. Janelas, eu prefiro muitas. Pessoas, assim como as coisas, escolhidas a dedos para visitar.
E escápula! Para alguns balanços.

A chupeta alienígena.


Vou contar um segredo que guardo. Uma neura. Um segredo que guardo com os bebês. Não todos os bebês, mas somente aqueles que usam chupeta na boca. Desde criança convivo diariamente com esses pequeninos, meus irmãos, meus primos, meus vizinhos, e todos de chupeta me parecem ser um só. Exatamente! Um só bebê. É como se ao usarem a chupeta suas almas fossem trancafiadas e um certo tipo de "espírito" pairasse e os comandasse. O bebê passa a ser então aquele "alien", que ri, olha engraçado, dorme e movimenta-se com aquela chupeta. Eu devia ter medo disso? Todos os bebês de chupeta são esse! Esse, que eu juro que vejo toda vez que revejo um bebê com chupeta.

Um corte lento e profundo entre mim e eu.


Sabem? Estou seriamente pensando em cortar meu cabelo, ando tão menos vaidosa, tão mais nervosa, tão...sem entender nada, que me desespero. Como eu posso ficar sem me auto-entender? Definitivamente isso é o caos. O fim do meu mundo! O pecado "fernandal".
Talvez, se eu mudar por fora, aqui dentro reaja. Nem que seja com um arrependimento, reaje!

Na alma da água.

Insistiu, não estava nada errado, era tudo apenas diferente. Insistiu ainda que não derramaria nenhuma lágrima, mas já estava tudo derramado. Insistiu por último, que seu coração parasse de estar sufocado, estava batendo como se estivesse entre agulhas.
Estava longe, tão longe, que lhe era desesperador, longe de um jeito que não sabia se um dia ia voltar.
Sozinho reparava toda a sujeira de cada azulejo ali, sentia nojo da sujeira, nojo do teto, nojo do que nem mastigava. Saiu dali e foi-se espairecer.
Chorou doído e fechou os olhos com uma força que parecia até que os cílios de cima estavam perdoando os cílios de baixo. Parou de chorar, parou de insistir, e um mosquito pousou em sua perna no ápice de fazer uma reflexão. Encostado, ficou ali pousado na perna do garoto, este por sua vez, ficou pensando por quê o mosquito pousou logo nele, por que logo ali, e por que ainda não o havia espantado.
Teria o mosquito gostado de sua perna? Teria o mosquito cansado de voar?
O mosquito andou então três passos, e esfregou as patinhas, o garoto limpou uma lágrima e pensou nele mesmo, outra vez. O mosquito continuou andando em sua perna sem permissão ou respeito pela sua angústia, e o garoto curioso achou mesmo que o mosquito queria algo dele, mas seria impossível um contato, impossível qualquer comunicação, e antes que pensasse mais, o mosquito voou para o alto, e patinou no lago com outros, na alma da água e sem dar despedidas estava se divertindo, indiferente a angústia de quem a tão pouco tempo lhe serviu de descanso, de pouso, de quem sabe... socorro.
O garoto achou o mosquito egoísta, pegou uma pedra e jogou no lago, destruindo a festa dos mosquistos, que desconcertados foram embora, ou afogaram-se.
Ninguém sabe aonde o garoto foi parar, mas ele saiu andando para dentro do lago, em busca de se divertir na alma da água, que pareceu-me não o suportar, devagar o engoliu, e juro, nunca mais o vi.


(Um mosquito pousou na Fê)

sexta-feira, 17 de abril de 2009

De lá.


Pelo menos penso eu, que entendi. Não cai, nem pretendo, mas eu entendi que eu vivo em um mundo alternativo.
Não é que eu esteja querendo encontrar a civilização "Nandópolis" e falar com eles sobre o "Fêzues", (se bem que não seria má ideia...).
A impressão é de que me deixaram aqui, mas eu sou de lá. De lá...Lá distante e de onde eu não me lembro.
Não me lembro quando eu o criei, mas é provavelmente isso, um mundo alternativo criado e que vive dentro de mim, que sempre está comigo e que ao mesmo tempo que está em mim, consegue estar no "mundo mundão", esse que os outros vivem. Um mundo pelo qual eu acho que não vivo. Não sempre.
Alguma coisa aconteceu, alguma coisa deu errado, eu não assimilei os propósitos, as regras, ou não consegui cumprir as tarefas do "mundo mundão", ou eu inconscientemente não consigo ver as coisas como o resto.




(Como são terráqueos?)




(Fê está sofrendo uma enorme crise. E esta seriamente desconfiada de que não é desse mundo.)

quarta-feira, 15 de abril de 2009

Mentiras sinceras me interessam.

Elas não me entendem todas às vezes que eu quero. Nem todas às vezes eu quero ser entendida. Isso me é tão chato, não insuportável, porque se fosse eu não estaria aqui, é só que... detesto desentendimentos.
Não me encontro em grupos, nem me acho parecida com ninguém, nem estou ainda, (será que um dia vou estar?) em nenhuma parte da prateleira viva da estante de personalidades que eu já botei pessoas e acredito que existe.
De duas, uma: Eu a bibliotecária? Ou, eu sozinha em uma prateleira?
O tempo, me ajuda com algumas pessoas, ele inicia uma conexão com o lindo poço que é conectar-se a mim.
Com outras, eu sempre serei uma concepção malvada, possivelmente por decepções não geradas por mim, essas tem mentes ateias fervorosas das pessoas, seja elas verdadeiras ou não.
Sabe o que é? Divertida não quer dizer apaixonada. De boa estima ou inteligente também não quer dizer arrogante ou metida. Sincera e objetiva não é "tome cuidado" ou grossa. Ser feliz não é assanhamento.
Porventura, eu seja manhosa ou pura demais nesse mundo, sem precisar jurar, confesso com todas as linhas inexistentes desse meu aconchego, que eu sou tudo o que eu vomito para vocês. E se me expresso de um jeito, é daquele jeito, porque seria de outro?
Será que eu vou acabar pensando primeiro nas pessoas do que em mim para menos injúrias?
Eu me importo com elas, sempre me importei, mas não dessa forma negativa. Será que essa atenção toda a elas é brecha para eu acabar sendo mais uma preocupada com o que vão pensar?
Eu quero agradar todo mundo? Ou agrado todo mundo e de uma certa maneira, uns se protegem com a malvadeza dos estereótipos e como na música: "te chamam de ladrão, de bixa, maconheiro, transformam o país inteiro num puteiro e assim nos tornamos brasileiros"?
Eu não sou perfeita e tenho plena convicção disso, mas não é por isso que me acomodo. Que me desculpo, conformo.
Brinca. Eu ando brincando a algum tempo, brinque você também! É muito engraçado o desconforto gerado no ambiente. Brinque de se achar.
"Por quê?"
Me pergunto e acho graça, do quanto se considerar ou sentir e dizer o que você acha que é, te torna arrogante. Toda vez que te perguntarem ou te considerarem algo que gostou, antes de agradecer, por que não ressaltar que também acha? Sem malícia, por que não? Por que tem gente com medo de se achar?
De duas, uma. Ou eu sou certinha demais ou errada de menos.
Se és mau interpretado vi que muitos usam de solução: Não se importar.
Sou jovem, e pode ter outros meios de agir ao ser mau interpretada. Já disse, me importo.
Por que eu me importo? Por que não pretendo esquecer e deixar pensarem o que quiserem? Por que não "enlouquecer" em prol disso? Por que não querer pensar na resolução de uma mau interpretação sua?
Não, eu não sou atoa, se é que você já pensou nessa possibilidade. Eu só quero pensar se existe outros caminhos, desse problema que todo mundo passa e vai passar, e me parece ser resolvido da mesma maneira por todos.
Ninguém quer se explicar por quê? Ninguém quer dar satisfações por quê? Por que não se importar? O que vocês querem?

(...)

O que eu quero?

quinta-feira, 9 de abril de 2009

Síndrome ou verdade.


Talvez, eu não sou da porção que se encaixe na marcação de: "Ter idade". Aquela tal de "uma certa idade", para poder pensar de um jeito. Justamente por não ser dessa porção, mas pensar que só podia ser o que eu achava que só podia existir, eu me senti mal por algumas vezes. Maturidade talvez, venha desde sempre. Maturidade talvez, tenha que ser calada. E ser criança talvez, não queira dizer ser infantil. A maioria das coisas eu aprendi sendo criança, observando quando criança, questionando como criança, entretanto, não falando, como algumas crianças, por causa de algumas crianças, por inocência, inteligência, ignorância. Crescer me dava pânico, todos diziam mais cedo ou mais tarde, o quanto iríamos nos arrepender, e eu sempre acreditava nas coisas bem colocadas emocionalmente inteligentes. Decidi um dia, que não ia crescer, e deixei claro para o pessoal e para mim. E não me entregando ao mundo adolescente que já bombava e reinava no meu contexto, eu ficava a observar. Eu não estava preparada para aquele mundinho, eu não estava preparada para aquelas pessoas, e nem preparada para aquelas situações, papos e neuras. Tudo me era muito ridículo...aliás, é ridículo. (Confessemos que é!)
Mais tarde, fui percebendo minhas mudanças, cobrando-me algumas mudanças, e vi que talvez eu tivesse um ponto de vista embaçado sobre crescer. Por que eu não podia crescer sem gostar das mesmas coisas que os outros? Eu podia crescer sem gostar dos mesmos papos que os outros. Eu podia crescer comigo, com eles, crescer diferente, ou quem sabe normal, crescer!
E as ideias continuaram, aperfeiçoaram-se, e alguns casulos foram rasgados, entraram-se outros, que já estão sendo trabalhados, e aos poucos, continuo...
A regra talvez seja crescer. (O lance é crescer, não é?)
Só sei que é assim, bem...parece até agora que é.

Eu aqui :)

A viagem está sendo bem engraçada, não para vocês e talvez para mais ninguém, mas para quem passou quase três meses sem pisar na própria terrinha, é bem engraçado.
Os buracos, eu senti saudades dos buracos, dos boatos, fofocas e acontecimentos de quem está na política, de ver pessoas conhecidas por todos os cantos, de poder rodar pela cidade de carro com a Duda e chegar rápido nos lugares, de ver quem terminou com quem, quem começou com quem, quem passou em quê, quem mudou e porquê.
A casa realmente me pareceu menor na altura. Só depois me lembrei, que talvez eu esteja maior.
Tem novas torneiras, novos armários, novas regras, e a mesa de jantar mudou-se da área. Meu quarto continua sendo o melhor do mundo, apesar de parecer está totalmente manipulado pela Nina e suas tralhas. Às vezes, me flagro pensando: "Não vou me adaptar."É tudo tão delicioso! Sua casa, suas primas, suas amigas, sua cidade e confusões, seus habitantes...
Visitei todo mundo que eu queria ver, sentir, escutar a voz. Recebi elogios, abraços e sorrisos.
Mamãe chega hoje a noite de Brasília, para completar o clima "família reunida". As notícias do seu pai não são boas, (vovó Paulino) foi confirmado, como eu bem supus e não queria que fosse verdade, é câncer. (E, não tem mais jeito.) :(



( está muito feliz de estar matando as aulas saudades)

segunda-feira, 6 de abril de 2009

Só para constar

Acrescentei no meu vocabulário: "Porra nenhuma."

p.s: E quem disser que é feio, eu só retruco dizendo que sacia.

sábado, 4 de abril de 2009

Entre impressões.

Acordo, não pensando em café da manhã, vou direto para a caneta, escrever.
Se acordei subjetiva, escrevo naquele caderno, se acordei objetiva escrevo na agenda. Setas e afazeres para se lembrar, para encher, para dar sentido. Escovo os dentes, pensando em como será quando não tiver mais aparelho, vou sentir falta, vai ficar bem vazio. Amarro a cabeleira, pensando em como seria se não a tivesse, depois já penso na demora de uma careca deixar de ser careca e desisto de uma futura espontaneidade. Calço sapatos, pensando em como seria se pudesse flutuar, acordo do sonho impossível. Me afirmo, abrindo a janela, o frio da manhã vai sumir à tarde. Penso em alguma lembrança longe. Falo comigo mesma. Pego as chaves e desço as escadas, cantando.
Tenho a impressão de que está acontecendo tudo rápido demais. Tenho a impressão que já me acostumei com a rotina. Já conheço muita gente, já guardei muitos nomes, já choquei-me com muitas novidades que participavam do meu mundo, mas não tão diretamente. Meu ouvido dói, uma espinha lá dentro, eu senti. Descasco o esmalte da minha unha. Tento triscar no chão sem dobrar os joelhos.
Tenho a impressão de que está acontecendo tudo devagar demais.

quarta-feira, 1 de abril de 2009

Se acordar primeiro, me chama.


Chegávamos a tardezinha ou a noite. Descendo suas malas entre risos e planejações para o dia seguinte, eu olhava para o horizonte e não acreditava, eu estava ali de novo. Ia logo para aquela sala, a sala das escapulas. Lá, estendiam-se uma rede atrás da outra, cada uma de uma cor, de um pessoa, de um trauma.
A noite, depois de uma janta bem divertida entre um bando de gente bem família, balançávamos nas redes, deitávamos e conversávamos, é claro que com o tempo os adultos logo se cansavam e o Vovô pedia então que a luz fosse apagada. E nesse momento, nem vela, nem choro, nem nada se via.
Conversávamos ainda. Pediam nosso silêncio. Chiávamos. Roncavam. Riamos. Pediam nosso silêncio. Voltávamos a chiar. Sorriamos sufocado. Roncavam. A graça acabava depois que percebíamos que não conseguíamos dormir e dizíamos isso uns para outros como se alguém ali tivesse a solução.
"Se ficarem quietinhos vocês dormem, nessa bagunça ninguém descansa." dizia a vovó Dorinha com um lampião na mão como arma da missão de levar algum de nós ao banheiro, que aquelas horas era sombrio e escuro.
Na volta, uns já não respondiam mais as perguntas que outros não paravam de fazer. Era o primeiro sinal, e eu já concluía, dormiram. Sobravam sempre poucos, e eu então, era uma das últimas a fechar os olhos. Olhava para o teto, via pirâmides, e aprendi que o sono para uns é irresistível e para outros é difícil.
Ali, uns sonhavam, outros reclamavam, logo eu não ouviria mais nada. E se ouvisse, trataria de fingir que não ouvi, minha falta de sono não podia afetar os demais, eu tinha energia para o outro dia, enquanto a eles, eu já não sabia, pensando na harmonia que deveria haver no outro dia, os deixava dormir.
(...)
O silêncio entorpecia a sala. Uma hora, eu também dormiria.
De manhã, todos queriam ser acordados, era um aviso dado ainda a noite. Até pelos que mal dormiram. Ao contrário do sono, o sol era irresistível para todos.

(Mais uma das lembranças da Fazenda.)

Arrogância em constrangimento.

Me assusta vê-lo errando assim, sendo um adulto. Sinal de que talvez jamais aprenderemos alguma coisa para sempre. Bem ali, transpirava arrogância como ninguém, arrogância é um veneno.
Naquele pico de orgulho, alguém retira as cordas fantasiosas que o levaram ao ápice. Eu vi. Só eu consigo ver talvez.
Desmorona-se! Na frente de todos e só eu consigo ver a tamanha vergonha que escondidinho sentiu. Aposto, que se não fosse tão adulto, choraria ali mesmo. Mas só engole um cuspi, ri para demonstrar indiferença e os cinco minutos depois do desmoronamento são os mais desconfiados da sua... Aposto mais, aposto que se perguntou "Alguém percebeu?".
No final das contas, sempre desejou seu desmoronamento. Reconhece que estava muito além do pico, ou mais! Que não houve desmoronamento nenhum. Caiu sozinho, assim como vôou sozinho e depressa demais do pico. Sabem? É um pico. Um pico que tem fim, oras! E ele já estava no ar...

Aiai, como se o ar suportasse alguém.

(Como eu encaro um constrangimento merecido.)

Precipícios humanos.



Nada vai acontecer.
Nada vai aparecer.
Tudo é ponto de vista.
O seu amor nunca foi destino.
Se você quiser, afaste-se e nunca volte a dirigir a palavra a ele.
"Não era para ser." Não era e nem nunca foi.

Você tem pontos e em pontos eu acredito.
Ponto de partida. Ponto de chegada. Ponto de ônibus.

Tudo vai acontecer.
Tudo vai aparecer.
Nada é ponto de vista.
O seu amor sempre foi destino.
Se você quiser, aproxime-se e sempre volte a dirigir a palavra à ele.
"Sim era para ser." Sim era e sempre foi.

Você tem pontos e em pontos eu acredito.