Na alma da água.

Estava longe, tão longe, que lhe era desesperador, longe de um jeito que não sabia se um dia ia voltar.
Sozinho reparava toda a sujeira de cada azulejo ali, sentia nojo da sujeira, nojo do teto, nojo do que nem mastigava. Saiu dali e foi-se espairecer.
Chorou doído e fechou os olhos com uma força que parecia até que os cílios de cima estavam perdoando os cílios de baixo. Parou de chorar, parou de insistir, e um mosquito pousou em sua perna no ápice de fazer uma reflexão. Encostado, ficou ali pousado na perna do garoto, este por sua vez, ficou pensando por quê o mosquito pousou logo nele, por que logo ali, e por que ainda não o havia espantado.
Teria o mosquito gostado de sua perna? Teria o mosquito cansado de voar?
O mosquito andou então três passos, e esfregou as patinhas, o garoto limpou uma lágrima e pensou nele mesmo, outra vez. O mosquito continuou andando em sua perna sem permissão ou respeito pela sua angústia, e o garoto curioso achou mesmo que o mosquito queria algo dele, mas seria impossível um contato, impossível qualquer comunicação, e antes que pensasse mais, o mosquito voou para o alto, e patinou no lago com outros, na alma da água e sem dar despedidas estava se divertindo, indiferente a angústia de quem a tão pouco tempo lhe serviu de descanso, de pouso, de quem sabe... socorro.
O garoto achou o mosquito egoísta, pegou uma pedra e jogou no lago, destruindo a festa dos mosquistos, que desconcertados foram embora, ou afogaram-se.
Ninguém sabe aonde o garoto foi parar, mas ele saiu andando para dentro do lago, em busca de se divertir na alma da água, que pareceu-me não o suportar, devagar o engoliu, e juro, nunca mais o vi.
(Um mosquito pousou na Fê)
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