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Mostrando postagens com o rótulo Minhas crias.

A gaveta de conceitos sem peito.

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       Ainda pequenos (as), conseguimos acumular estereótipos dos ambientes em que vivemos. Seja familiar, escolar ou situações que nos ocorreram mais de uma vez ou por coincidência, desenvolver o hábito de classificar previamente passa a ser comum ao longo da rotina, e de certo modo, pontuo que ajuda e atrapalha a humanidade diversas vezes.        Como se fizesse parte de uma maldição, acredito que as vezes até reconhecer próprios preconceitos ou formular um conceito prévio de alguém, seja inútil, pois não significa  que não possa acontecer de novo. A questão é muito mais inevitável e despercebida do que imaginamos. Como quando a barbeiragem acontece no trânsito, e você solta: “Tinha que ser uma mulher mesmo!”        Crença e conhecimento não fazem parte de uma guerra exclusiva de religiosos e cientistas, mas também de todos nós, que participamos dela o tempo inteiro sem nos darmos conta. ...

Ciúmes, vende-se fiado.

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Hilda, ele se o cupa de quase todo o espaço da fertilidade cruel da minha imaginação, ganha num formato irracional e imaturo. Me faz prisioneiro inconstante de uma cadeia de crimes que não foram cometidos para mim. E consigo perdidamente me desfazer dos agrados e me juntar aos ofendidos. É dessa forma que a torno patética, junto a todas as promessas olho no olho, dente por ouvido. É injusto eu ter raiva de certas letras de músicas, do que houve, de fotos, cartas, bilhetes e cartões que não são meus. É injusto que isso tenha arruinado minhas chances de criar coisas mais livres, sinceras e bonitas para ela. Quiçá, ela seja desprendida, nem perceba e nem sonha com minha malícia. Quiçá, eu tenha feito questão demais para saber dela. O que eu sabia já era o bastante, já bastava para sermos felizes. Hilda, é que não me afetava tanto no começo quem ela fosse, era ou é, eu era normal - pensemos em risos – talvez até um infeliz que acreditava ser feliz e a deixava  contar tudo sem medo....

Não tem nenhum monstro.

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Deitada. Em cima da tampa do poço, é o melhor lugar da casa. A tampa é de um poço que havia há muito tempo atrás na cozinha lá de casa, hoje serve de mesa de quintal. Olho para o céu. Um poço que eu nem lembro se era usado, que eu nem lembro se tinha água. Pisco. Há uma mudança radical da casa naquele tempo e da casa hoje, havia varais em cima do poço e em cima da tampa havia eu, eu dançante. Abro os olhos. Dançanva num show perigoso de "se essa tampa quebrar, você vai parar no fundo do poço." Nubla-se o céu. "No fundo do poço?", eu perguntava metida, "É. No fundo do poço.", "E o quê que tem no fundo do poço? É só vocês mandarem uma corda e esperarem eu subir!", dizia em tom que a irritava, "É tão fundo que você cansaria de subir e é escuro...já tentou ouvir o que tem por de trás dessa tampa que tanto pula?". As nuvens vão se juntando. "Nunca ouviu nada? Ás vezes eu ouço a água balançando, repare Fernanda." Pisco devagar. Lemb...

O rubi

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“Minha ilha, quando cheguei quase afogado, salvo pelas sereias, descobri seu mundo fantástico e decidi que seria o lugar ideal para esconder meu melhor tesouro. Na verdade fui salvo pela ambição, eu tinha algumas esmeraldas. As sereias disseram que precisavam das jóias para atrair um navio de marinheiros surdos. Fizemos um trato, eu lhes entreguei as jóias, elas me deixaram na praia. Mas como eu ia sair de você sem um barco? Havia a condição de que eu nunca te dissesse como cheguei ai, disseram que eras uma megera e que seu ponto fraco era ser curiosa, me deixarias vivo enquanto eu não contasse como consegui te invadir, por isso, nunca contei. Percebi que elas faziam questão demais para eu não te dizer como cheguei sã em você. Ficou óbvio que elas perdiam alguma vantagem com isso, então as ameacei em terra de lhe contar, dizendo que morto de qualquer jeito eu estaria se não tivesse um barco para voltar. Por isso o barco chegou sozinho aquela manhã. Pode julgá-las traiçoeiras querida, m...

Mosquei

E u sou a mosca que não pousou na sua sopa, que teve medo de ser abanada, e morrer afogada diante de bóias de quiabo e cenoura. A mosca que não pousa em ninguém, que carrega sujeira sem saber, que discute filosofia no brejo com o mosquito da dengue, antes que os sapos verdes cheguem para se alimentar. A mosca que beijou a muriçoca mas que a largatixa que comeu. A mosca que atrapalhou teu sono, sem saber que você estava exausto, e ainda te fez não dormir preocupado. Do canto da parede, sem dente, eu vou para luz morrer de luz, dançar para luz, secar para sempre.

O Homem

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Protegia o nome dele por amor. Não era em codinome beija flor, mas era uma ave que não voava. Ele nunca pareceu ser do tipo que quisesse voar, e também, ela acabou esquecendo de perguntar sua opinião sobre flores, mas mesmo assim o fez, e então ele era ave. Ela percebia nas entrelinhas que ele era mais sensível que um casal que acabará de descobrir que antes tudo fora ilusão e agora sim! Agora sim era amor. Demorou um pouco, mas hoje ele já podia dizer que a odiava, sem desesperá-la, porque ela aceitou que não queria mais entender quando ele estava vestido de homem espelho. Tudo começou quando ela dormiu e o encontrou nos sonhos, meses sim e meses não, se assustou muito quando intuiu que acordava feliz e tão tão mais feliz. “Os olhos estavam lá!”, suspirava, “Tristes do jeito que é na foto”. Ela nunca entendeu porque a melancolia dele a esquentava tanto. Mais tarde abordou a teoria de que talvez fosse porque assim, destruía com rebeldia aquela vida bela que a novela tanto a queria faz...

Memória faminta.

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Eu lembrei que possuia um chão vermelho que soltava tinta, sinal de que o consultório era barato. As poltronas com estampas de pele de zebra me deram uma má impressão da credibilidade do doutor, é que pareceu chimfrim, papagaiado demais, sem contar que as paredes eram de um amarelo muito sem educação para os olhos. Havia uma mulher, não esqueço nunca, estava esperando. Era muito magra por sinal, aposto que não comia, talvez sofresse de anorexia, quem sabe de amor...sei que alguma coisa em sua vida cheirava fome.

Pelo o ar que eu não respiro.

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Pestanejei tonta, mas ao abrir a boca pela primeira vez no dia, foi gosto de liberdade que me fez acordar pensando que o sol tivesse decidido sair e brilhar por mim. Entretanto, numa falta de educação tremenda, lembrei do oxigênio e respirando fundo, já numa malícia frenética entre mim e o ar, lembrei que o ar, indiferente, auto suficiente e preciso, quer sempre entrar e sair sem dar satisfação. Só de sacanagem decidi que em mim ele só entraria e não importa se má, maldita ou maluca, eu seja. Sei que já de manhã pensava vingativa, conseguindo transformar toda a áurea matinal de sossego em perigosa e medrosa, como só a noite é campeã em conseguir ser. Aliás, a noite é campeã em deixar tudo mais bonito e mágico também, é definitivamente: O escuro mais paradoxal(mente) terrível e... romântico que temi. Maquinando, bem sabia eu e mal sabia o ar, passando pelo meu cérebro, que me dava idéias absurdas de como driblá-lo. Meu plano só deu certo, porque o ar não pode percorrer pelas vísceras d...

Fedífrago

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Encaixando a chave do carro, pensando se deveria mesmo chegar e entrar decidida na recepção e seguir depois para a sala, passou a marcha pensando se não deveria ir decidida a recepção e cancelar tudo destinada a ficar sentada na praia observando o mar. Foi saindo do carro seriamente, e antes de entrar colocou os óculos escuros e olhando para o retrovisor passou o batom concentrada. Estava de vestido preto, reto até os joelhos, tudo bem escondido, mas a cintura era visível e de uma certa maneira ficou até elegante, para quem parecia não estar interessada em estar nada. -Pode seguir à direita, isto é, se for das 17:30? Disse um secretário bonito e perfumado parecendo estar apressado. -Eu mesma. No corredor, só se ouvia os sapatos, e entrando deitou-se no sofá, depois dos bons modos claro, e quando o doutor pegou o caderno, ela foi falando sem perguntar se podia, e sem esperar uma pergunta: -O universo da minha cabeça e eu mesma com mais ninguém envolvido nisso, sofre de duas coisas: Trai...

Quando a companhia chegar.

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Eu espero que a companhia de dança não demore a chegar. Espero desde que nasci. É por isso que eu tenho que ser boa na dança, ou bonita, para não ter nenhuma desculpa, assim, serei encontrada para todo sempre. Para cada turnê, por cada lugar. Talvez eu não esteja fugindo com eles, talvez eu esteja fugindo de mim, mas isso nem importa, o que me importa mesmo é eu não dar nenhuma explicação, e deixar um único bilhete com letras recortadas de jornais, para que minha letra não seja interpretada, e sem meu endereço, e sem foto de despedida, porque assim farei com que se esqueçam mais rápido de mim. E nesse nunca mais ver ninguém, ou nunca mais voltar, apesar de que íntrisecamente eu sinto que será preciso um dia voltar pela dor ou pelo amor, eu vou continuar, e viver miseravelmente com a arte. Quem sabe, viver somente pela arte. E sobreviver como todo mundo sobrevive, de saudade. Acredito que haverá pessoas de histórias de vida diferentes, de histórias de fugas diferentes, ou as sem oportun...

Na ilha Fê(cunda)

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Vivo, não aparentemente, em uma ilha. Uma ilha de pensamentos, de conceitos, de ideias, de vontades, de devaneios. Nessa ilha ninguém pisa. Nessa ilha, eu, livremente, passeio pela vegetação sem horário de chegada, sem horário de partida. Faço chover em um pestanejar, e e nsolarar num simples estralar . Apesar de viver em uma ilha, descobri que sou a ilha! E que mesmo assim, preciso de liberdade, eu morro de vontade! E como me é pernicioso ser livre por aí, vou no meu barco voador. Meu barco, pequeno barco flutuante de madeira ou sem motor. Dessa forma, consigo estar adentrando em muitas praias, posso rechaçar, posso dissuadir, ser unânime! E brinco, falo, me impressiono, porque tudo é novidade. Eu não desço do barco. O meu negócio é embarcar nas viagens. Fico ali sentada, com meu guarda-chuva, protegendo-me da luz demasiada, acho que todos nós devemos ter um pouco de sombra. Estar na penumbra, é o que há! Nessas praias, eu viajo feliz, e não há fadiga, nem injúrias o suficiente para ...

A verdade, a pura verdade.

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Você nunca vai entender minha tamanha maldade, porque você é uma pessoa que a bondade vem da confiança. Eu, nunca confiei inteiramente em nada, e isso vem, claro, da minha própria desconfiança de que tenha alguém tão mau quanto eu. Desconfio do que você fala, ponho a culpa em você em cada uma das suas viradas de costas para mim, e deduzo que meus exageros e vontades ás vezes postos nos meus discursos, nos seus também existam. Mas, acredito, e te subestimo, que seus pontos de vista devem ser um pouco menos envenenados que os meus. Nem sinto remorso, eu me acostumei com a minha hipocrisia. Já me acostumei com a falta de verdade e a presença do fingimento paciente. Sua boca abre. Parece que é tão inocente que talvez não perceba que esteja transmitindo nas conversas sua verdade. Não é pura! Não é a minha, e por favor, não é nada além...é sua boca, e ela fecha. É por causa da minha maldade percebida, e sua bondade inconsciente, que a verdade pura nunca vai existir. Que as versões sempre vão...

A Cruz Vermelha.

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Entre a frivolidade da juventude, decidiu ser médico, quando do corpo já entendia, decidiu ser turista. E turistou onde não havia gente entendida como ele. Conquistou a confiança de muitos, e no fundo ansiava, não queria ser só doutor. Conheceu ela na porta da sala de cirurgia, conheceu apenas os olhos, o resto coberto de branco, outras vezes de verde. Corria, com as vidas, e quem abria o caminho era a dona dos olhos, talvez uma enfermeira. O certo era que nunca lembrava dela por conta da rotina, e somente nas emergências a via, somente naquele momento de euforia, de responsabilidade, de começar o que sabia. Certo dia acabou-se as luvas, e foi isso que fez com que ele fosse buscar uma caixa na sala de cirurgia. Lá dentro, a moça levou um susto e ele também. Ele, porque pela primeira vez ela estava de rosto e de cabelo e não só de olhos e nem abrindo caminho. Ela, por acabar de ter pensado uma heresia. O doutor pôs-se a esquecer de luvas dias e dias, o que na primeira semana, provocou r...

Uma vez era.

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Acordava cedo com medo de perder tempo. Acreditava que devia aproveitar ao máximo cada minuto do sol no dia, isso porque considerava a noite um castigo em sua existência. Ao despertar, de pijamas , subia na janela e corria para a cozinha, achava sensacional não ir pela porta, de alguma maneira trocar caminhos, aventurava suas manhãs. Caminhando pelo corredor descalça, prestava atenção no silêncio do quintal vizinho, depois, pregava um susto na funcionária não desconfiada, e assim enchia a boca de sorriso, enchia a xícara de leite e raspava o chocolate. Dobrado, o pijama ficava intacto na cama, quase livre, só de calçinha , a dona do próprio nariz caçava o que fazer . Gostava de descascar mexerica, adorava a facilidade da casca se despir da fruta. Chupava o doce dos gomos, cuspia as sementes em uma competição frenética dela e dela mesma, e jogava o bagaço no corredor apesar de todos dizerem: "Não sabe comer mexerica! O bagaço é bom para o intestino!", imaginava então seu intes...

Enfim egoístas.

Você me acendeu, porque me notou, só. Notou só quando ri de você, quando assim se sentiu engraçado. Nós, somos egoístas, por isso ardeu. Eu ri porque você contava o que eu já pensei, o que eu já senti, o que eu já bebi. Notei só quando falou de mim sobre você. Notastes só quando ri de você pensando que eu ria para você. E eu era você, mas você não era eu, apenas rimos. Egoístas, porque nos notamos só assim. Ardeu.

Lar, amargo lar.

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Posso ouvir o barulho dos ratos. A pia pinga como se fosse um sinal, um sinal de algo chegando cada vez mais perto de mim. O motor da geladeira desparou do nada, parecendo até querer mostrar que existe. Quando peguei no meu telefone, ele fez um barulho e apagou feito um balão espocado, sem bateria. As cortinas mexeram levemente, respirei desconfiada e olhei para a parede, a largatixa comeu o mosquitinho no meu encontrar dos cílios, senti quase em pânico que a casa estava viva... Estralos, nos cômodos em que eu não estava. "Desliguei as luzes por onde não estava." Era isso. Vingança da casa, pura vigança.

Dos pregadores a maldição.

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"Malditos sapatos!", chegou em casa e os retirou como se jamais fosse calçá-los outra vez. As meias, eram responsáveis pela a inusitada volta aquela manhã. Foi a padaria, comprou flores na esquina, comeu o sonho antes de chegar em casa, reparou a amarelinha na calçada, e sentiu dor nos pés. Ligou o som, e ouviu uma música antiga que lhe trouxe saudades desconhecidas. Arrumou a calçinha embolada, e grosseiramente retirou as cortinas da janela para ver o que se passava na rua, que acabara de ver, que acabara de querer ver algo a mais. Nada de inusitado, nem a pidança do estômago. Passou pelo banheiro, fez careta para o espelho, passou pela sala, ligou a TV , mudou o canal, desligou a TV , passou pela varanda e reparou as roupas estendidas. Os cílios superiores pressionaram os inferiores três vezes dando o sinal. Para que fizesse seus próprios olhos perceberem que não basta só eles quererem dormir, ela os fechou e se sentou ouvindo a música querendo lembrar-se, "Por que...

Uma cabeça no travesseiro.

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Perdi a hora. Perdi o paladar. Perdi a caneta. Perdi a emoção. Perdi a manicure . Perdi a fé. Perdi as moedas. Perdi meu umbigo. Perdi um par dos meus sapatos. Perdi vocês. Perdi na estação. Perdi o aceno. Perdi o medo. Perdi o gol do meu time . Perdi o número. Perdi a resposta. Perdi na loteria. Perdi aqueles sonhos. Perdi a carona . Perdi a ousadia. Perdi de propósito. Perdi aquela coleção . Perdi aquele final de semana. Perdi o que era importante. Perdi...por isso não perdi o sono.