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quinta-feira, 14 de outubro de 2010

O rubi




“Minha ilha, quando cheguei quase afogado, salvo pelas sereias, descobri seu mundo fantástico e decidi que seria o lugar ideal para esconder meu melhor tesouro. Na verdade fui salvo pela ambição, eu tinha algumas esmeraldas. As sereias disseram que precisavam das jóias para atrair um navio de marinheiros surdos. Fizemos um trato, eu lhes entreguei as jóias, elas me deixaram na praia. Mas como eu ia sair de você sem um barco? Havia a condição de que eu nunca te dissesse como cheguei ai, disseram que eras uma megera e que seu ponto fraco era ser curiosa, me deixarias vivo enquanto eu não contasse como consegui te invadir, por isso, nunca contei. Percebi que elas faziam questão demais para eu não te dizer como cheguei sã em você. Ficou óbvio que elas perdiam alguma vantagem com isso, então as ameacei em terra de lhe contar, dizendo que morto de qualquer jeito eu estaria se não tivesse um barco para voltar. Por isso o barco chegou sozinho aquela manhã. Pode julgá-las traiçoeiras querida, mas sobrevivi por ambição e vivi pela curiosidade. Não acho justo culpá-las por inteiro, já que se você não fosse curiosa, eu teria saído daí muito mais fácil do que entrei. E mais, eu não considero sua curiosidade um ponto fraco, pois não assimilo como pode ser fraco algo que me salvou do seu medo de ser invadida. Tive medo de que não voltassem, na verdade, tive medo que você perdesse a paciência. Juro que acho que voltaram só por causa de mais jóias, elas adoram seduzir. És fantástica querida ilha, nunca conheci alguém tão fascinante. Não te disse, porque temi uma tempestade negativa, mas... enterrei meu rubi em você e pretendo desenterrá-lo.

De seu Intruso fiel."

A ilha pensava que governava tudo que crescia, prosperava, secava e morria (e saia) de si. Acreditava que as coisas apareciam se apenas quisesse ou buscasse. Naquele dia o céu estava metade azul bem brilhoso e ensolarado, metade nublado bem apagado, supôs primeiro que talvez ele tivesse entrado de balão. Entretanto, lembrou-se de seus canhões, alguma coisa dera errado na perfeição de suas armadilhas. Não houve nenhum “atirar fogo” descente, e curiosa, se ele era sortudo ou esperto por ter entrado, pestanejou cética em busca da resposta. “Uma blasfêmia!” afligiu-se. Teria esquecido a chave da porta de chances em algum lugar? Por razões indiscretas de entender como nela, ele conseguira habitar, resolveu escutá-lo. E ele a falar, fazia a porta se abrir mais e mais, e as chances de saber onde estava a chave, e se foi pela porta que ele chegou, continuavam nulas. Os dois passeando pelas vegetações que eram a própria ilha, conversavam sem demonstrar medo. Ela sabia bem do seu potencial infalível de excomungar, era habilidosa quanto a hora de logo logo fechar-se e trancar-se para sempre. O intruso de certo modo, era seguro ou fingia muito bem, e isso não incomodava a ilha, pelo contrário, era bom. Contava muitas histórias, chegava a distraí-la de tal modo que se esquecia de procurar a chave ou a resposta de como ele conseguiu invadir. “Deve ser um pirata” julgou receosa, “meus tesouros, paz e sementes quer roubar!” acusou-o em pensamento quando percebeu que já pareciam amigos. Então, a ilha precisava descobrir seu ponto fraco, pois não descobrir fazia com que os dois estivessem no mesmo patamar e fossem amigos. Foi num dia de céu inteiro, sem metades, que ela começou a falar menos, num jogo cínico para fazê-lo falar mais. É que sutilmente encontrou que de silêncio ele pouco entedia e pouco queria entender, isso incomodou os dois. Garantiu-se esperta e retomou as perspectivas de descobrir sobre a invasão e expulsá-lo finalmente, mas percebeu que para isso, haveria de ser mais presencial ainda. “Uma vez beijado, duas vezes desperdiçado” aconselhou a sereia que repousava em suas areias na terça e na quinta por um bom solzinho. A ilha não gostou muito do conselho, sempre achara aquelas mulheres peixes dissimuladas e cruéis demais. Elas eram cheias de regras, de liberdade, de amor nunca encontrado, em busca de tudo! Por simplesmente nada. A sereia que tomava sol na segunda e na quarta, aconselhou a mesma coisa em outras palavras “Seja e crie mentirinhas, garanto que ele te conta de uma vez.” Confusa, a ilha deixou de se sentir ilhada pela primeira vez, o que a ariscou e tornou a presença do pirata intolerável, tornando a sugestão do beijo em beijo de uma vez. Não adiantou muito e nenhum dos dois comentaram sobre o fato. A única coisa que mudou foi que um navio apareceu pela manhã. “Por mil anjos caídos do céu, que diabos este barba azul quer aqui?”, reclamou a ilha, temendo que já fossem outros. “Chegou!”, ele disse feliz quando avistou a caravela, “Posso partir agora...”, “É seu?!” pestanejou a ilha irradiante. Pode ser que o motivo do pirata nunca ter cedido o que realmente queria não existisse, por isso nunca seria encontrado. Ele queria conhecer a ilha, compartilhar suas viagens, e se sua missão fosse roubar alguma coisa, com certeza tomou outro rumo. Do bolso, com as mãos infestadas por alguns grãos de areia, ele entregou um rubi bem arejado e antigo, brilhava como o pôr do sol. Falou que era um dos seus tesouros mais fáceis de guardar, e difícil de ser roubado. Não que nunca tivesse sido roubado, até havia sim, mas sua ligação com a pedra era tão harmoniosa e íntima, que o destino trouxe de volta para suas mãos. “Bonito.” devolveu a ilha intimidada por vermelho tão violento. Ao mesmo tempo que ainda queria respostas, queria que ele fosse o mais rápido embora. Despediram-se, por incrível que pareça, com seus melhores beijos. Dias depois, o mar calmo, as sereias sorrindo e contando sobre a última festa na praia das tartarugas, chegou uma garrafa recheada de papéis.



2 comentários:

Marina de Alcântara Alencar, a Nina. disse...

Você começa a mostrar a sua complexidade também na escrita, e eu acho isso ótimo. Gostei da inovação de estilo: do texto e do blog.

Elisa disse...

Não entendi nada! Prefiro os outros textos que também são complexos, porém , mais claros e prazeirosos!

Bj de sua fiel leitora,
Elisa