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quinta-feira, 27 de junho de 2013

Essas coxias de vigia.




Se virarem o mundo de cabeça pra baixo, eu vou mergulhar em milhões de hipóteses, esmiuçando uma por uma de tal forma que ultrapassarei com argumentos, defesas e testemunhas o prazo que o tempo me daria de graça, porém muito, muito demorado o que eu depois iria engolir junto a solidão com água e sal sem vomitar, tampando minha boca, enchendo os olhos de água e sal de novo e meu estômago dando trabalho. 
Depois que ele der trabalho lhe darei férias, minha mente deixara claro que é capaz de controlar todas as ânsias,  porque ela é quem manda nessa porra aqui. Ai eu vou destrinchar e destemperar todas essas culpas, elas vão ficar tão insossas, tão sem graça, tão sem sentido que vão virar uma grande merda e sair pra fora de mim num balão voador que voará pela cidade e cairá dentro de uma papelaria, pegando fogo em tudo, enquanto eu com uma máscara de gás, roubo uma porção de perdões coloridos, estampados, brilhosos e até uns mais discretos e camuflados. Saio correndo com uma bicicleta de chiclete que perfumará a cidade inteira, pregando todo mundo no lugar, menos eu. 
Ai eu vou colar esses perdões todos no mesmo dia pelas paredes da casa nova que eu vou morar e todas as vezes que alguém chegar na porta vou demorar  a abrí-la, porque quem estará do outro lado da porta, é mais da metade que eu mesma. Quem estará do outro lado da porta sempre importa, mas só importa mesmo porque será minha vontade de abrir, meu medo de achar, minha dúvida se ficará, meu receio de quanto tempo vai demorar, se será suportável me fazendo acreditar que o tempo parou ou tão ruim a ponto de eu ter certeza que me roubaram as horas daquele dia. Quem estará do outro lado pode ser o tesão da chegada, a preguiça da iniciativa ou mais uma despedida e meu fingir que não tem ninguém em casa. 
Antes que alguém se intrometa, eu tenho que ir pegando um pouco desse sol forte e impiedoso do jardim, pois quero ser como ele, e quero suar, quero suar  toda a minha vingança na grama lá fora.
Quando eu encontrar a hora, o minuto e o segundo que a felicidade foi adoecendo, vai aparecer uma sombra diretamente das nuvens branquinhas a la barba de papai noel me visitando, me emprestando açúcar, me perguntando sobre os medos, me deixando correspondência, me esfriando até o momento que a tristeza quiser me esquentar de novo. 
Então, então eu vou rodopiar de movimento em movimento até ilusão de ótica do mundo criar, eu vou inventar e saltitar, quem sabe cair umas mil vezes e levantar mais mil, mas não posso esperar...o meu negócio é dançar...e na pontinha dos pés passarei por toda essa maldita saudade e arrastarei sem apego e sem mais personagens principais, tudo dispersado comigo, até tudo que conseguir lembrar. Pois é impossível...
é impossível, é impossível, 
é impossível que eu dance essa mesma música por muito tempo, 
é impossível que o sentindo seja para sempre o mesmo, 
é impossível que eu faça todos os passos no mesmo lugar,
é impossível que eu jamais queira inovar...
e é por isso que tudo vai pipocar, se desmaterializar, sem oxigênio, no pesar das memórias que sopram fantasmas que não sabem seguir a luz de uma vez, e 101 cabras vão passar pela minha calçada, cada um da sua maneira e asneira particular, sem saberem é claro que do outro lado, do outro lado eu já atravessei sem esperar o carro passar, sem saber que eu já fui atropelada, sem saber que das mil músicas que tocarão dentro desses automóveis, 300 mil delas por todos os bares e espetáculos que eu participei, alguma coisa nas letras sempre vão me fazer dançar até alcançar aquele sútil e doloroso desprendimento. E ai quem sabe, quem sabe eu um dia possa confirmar que um dia sumirás de todas essas coxias de vigia e nunca mais estará assombrando meus descansos de espetáculos.