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sábado, 21 de outubro de 2023

Simpatia e eu


A
manda veio antes do treino de capoeira. 

Por razões desconhecidas, 

nossos caminhos se cruzavam, mas não firmavam direito.

Simpatia, chegou por causa do treino. 

Esperta, corajosa e farseira… 

De repente, firmou!

Simpatia virou Amanda e Amanda virou Simpatia sem freios. 


Simpatia sempre repara na beleza da lua 

Comentou certa noite da vassoura de bruxa pendurada na parede 

E me constrangeu outro dia contando o nome de uma pinga

"Rasga-Chana"

Ela sabe como me entortar de sorrir 

Ela sabe que eu vou voar, inventar alguma coisa… 

A Simpatia me dá corda! 

Depois dá estrelinha 

E depois planta bananeira 


Me defende, 

me chama de fifi 

e já me deu balinha 

É meio ibeji 

Meio mirim 

Simpatia não tem rodeio 

Ela abre a roda pra eu entrar 

Toca pra eu dançar

Enche meu copo de cerveja 

Enche meu copo de água 

Dá carona 

Canta MPB 

Manda música bonita 

Marca em vídeo engraçado

 

Outro dia, lavamos com sal grosso o barracão que ficou muito mais bonito depois dessa amizade gaiata. 

Simpatia é boa pra combinar as coisas.

Boa com todos os instrumentos 

Habilidosa 

Pula pra dentro da roda 

Faz eu voltar a pensar que sou menina 

Faz eu voltar a ser sapeca… 

E que sorte a minha! Simpatia tem a mesma mania que a minha: 

Gosta da força e da voz feminina.


Dá pra marcar a Simpatia em vídeos da Gal! 

Da Clarice 

Da Betânia 

Da Cássia 

Da Ana Carolina 

E outras poetisas e malucas… 

Da pra dançar Forró pé de serra com a maldita também 

E sacodir os cabelos fazendo chifres com as mãos! 

Porque Simpatia também é rock 

É alma, é artista! 

É Amanda 

É mulher 

Sanfoneira! 

Mandigueira! 

Capoeira!


“Mestre, a Simpatia é do bem ou do mal?” 

Perguntei uma vez malandramente, 

E sem unhas pontudas, 

Simpatia sempre mostra a resposta num sorriso de Capitu: 

Levemente perigosa 

Comicamente avoada, 

Docemente arteira… 

Simpatia golpeia e é atrevida quando menos se espera! 


E chama pra sair com o seu amor 

E chama pra sair com outros amigos 

E manga no off dos outros comigo 

Tira sarro do meu drama, 

Tira onda do meu signo…

Simpatia por fim sacode a poeira 

Canta e encanta 

Morde e assopra 

Se lança e desmanda 


Gentilmente apanha e gentilmente sorri… 

Simpatia é Amanda, e Amanda pura artimanha… 

Quem não te conhece que te compre...

Eu comprei há algum tempinho com moedas de atenção e algodão doce 

guardo essa amizade por aqui desde então.…

 

Feliz aniversário amiga bruxa... 🎂🤘🏽🧹



segunda-feira, 2 de outubro de 2023

A quimera e a chegada da primavera.

K halyl parou em uma estação da minha vida que eu não estava tão feliz, nem em movimento, nem esperançosa. Eu estava um pouco cansada e congelada num inverno misterioso. Sutilmente, Khalyl desceu com sua bagagem e seu cigarro eletrônico, marcando sua presença, deixando suas mensagens e demonstrando sua preocupação. Mas... Quem seria amigo de uma pessoa que não sentia mais prazer em sair, bater papo e socializar? Tive receio... Como Khalyl iria ficar? Ele não pareceu se importar muito com meu rosto desgostoso. E me contou que na vida era preciso ter paciência e que ele tinha uma "alma velha", que entendia perfeitamente minha falta de pré requisitos para amizade.

Elegantemente, Khalyl também disse que eu entenderia tudo depois e sabia me dar espaço. m dia, Khalyl veio até minha casa a tarde só para comer um pedaço de doce de goiaba. Eu não tinha nada para contar para ele, nada para fazer. Ele, me mostrava memes no celular e vídeos bobos. Eu me perdia um pouco com a agitação dele, mas fiquei aliviada de não precisar ter que fazer grandes coisas para fazê-lo se sentir a vontade. Perdi o hábito de receber pessoas. Outro dia, Khalyl também não se importou de me ver na casa da minha avó, a noite, no meio da semana. Chegou junto, cozinhou e de sobra ainda deu corda para uns tios meus que apareceram por lá de surpresa contando lorota.

Confesso que tive receio de que Khalyl pudesse se sentir desconfortável com a presença de pessoas desconhecidas, mas eu estava completamente errada, porque Khalyl é sereno, sábio e debochado. E ele sorria e me olhava com a expressão de que estava tudo bem, eu não ser sociável e estar fazendo sala como deveria. Sem perceber, Khalyl rompeu em mim com a obrigação de que eu deveria estar sempre sorrindo e agradável para ser uma boa companhia, para que eu fosse suportável. E um apego seguro foi sendo construído e uma crença doente se desmanchava. Uma espécie de amizade "comadre" surgia. E nossos encontros eram confortáveis e ele gostava de me contar o que comprou na feira porque era mais gostoso do que no supermercado, e também de passeio na natureza e simplicidade.

inverno ia ficando mais tranquilo e Khalyl percebeu que eu estava mais a vontade, sugeriu que comêssemos em sua casa. Aquele convite me deixou em conflito. Sair da minha estação era um pouco assustador. De repente, soube por intuição repentina que Khalyl de alguma forma sempre soube da quimera que eu devia enfrentar em certa travessia. Aceitei o convite e fiquei sentada em sua área, enquanto ele cozinhava com seus temperos secretos e deliciosos. Eu sentia fome e medo por estar fora de casa, enquanto ele cantava alto, aumentava o som da música, era sarcástico e me contava de um acidente de moto que sofreu e só não foi pior porque uma árvore o aparou e salvou. Ele contou isso umas 1000 vezes. As vezes ainda me conta.

Khalyl me lembra um pouco minha mãe quando começa a falar das suas raivas e desapontamentos do mundo, isto é, reclama muito, pragueja e depois esquece… -Tá pronto amiga... veja se você gosta do meu tempero. Foi mastigando sua comida, na sua casa, bem devagar que eu subitamente percebi que a intensidade da existência do Khalyl na minha estação, estava me alimentando e nutrindo para algo além, para algo maior do que a amizade que construíamos há dias. Me toquei então que eu estava sendo fortalecida e encorajada para enfrentar uma batalha. Me situei de que Khalyl e sua chegada, lealdade e cuidado iam muito além de uma simples “amizade de comadre”… Isto é, nós estávamos convocados para uma guerra juntos.

Dai em diante, Khalyl aparecia na porta da minha casa, no seu cavalo preto e eu apenas confiava e saia com minha espada e armadura, para entender e enfrentar o que era preciso encarar de uma vez: o fim do meu inverno misterioso, a saída da minha estação e combater e enfrentar finalmente a minha maldita quimera. Quando chegamos no campo de batalha tive muito medo. As vezes ainda tenho. Mas aprendi que medo a gente enfrenta e com um amigo do lado fica um pouco mais fácil. A coragem de Khalyl me contagiou, me preparou, me situou sobre a minha. E a quimera que era gigante, misteriosa e as vezes mais do que uma, agora dispara meu coração, mas não me para, não me congela.

As vezes, percebo que Khalyl se desfaz da sua importância, mas foi sua estratégia de guerra, seus conselhos e observações precisas, e a forma devagar e bonita que ele chegou e ficou, junto a todas as nossas risadas, comidas divididas e saídas tranquilas que fazem toda a diferença em toda a batalha. Não importa o que aconteça, quem tem um amigo com arcos e flechas prontos para o amparar, caso a própria espada não seja suficiente para lutar sozinha, tem tudo. E finalmente eu fui para o combate e descongelei. Aprendi a lutar de cabeça erguida contra a quimera e tudo mais. Algumas vezes corto suas cabeças, subo em cima delas, ataco, golpeio e rebato. Outras vezes sou atingida, sangro, choro, recuo. Khalyl também é atingido, também golpeia. E nenhuma batalha é igual. Algumas fui sozinha, outras acompanhadas de novos amigos que fiz na jornada, e ainda teve aquelas que Khalyl e eu lutamos separados. E as flores da chegada da primavera finalmente brotaram.

Sei que a primavera não dura para sempre. Sei que amigos também se movimentam, estacionam e conhecem novas paradas, vivem outras estações. As vezes percebo Khalyl com dificuldades ou se desfazendo de aceitar a sua importância na jornada... Talvez tenha a ver com alguma quimera que ele também precisa enfrentar, talvez tem a ver com algum inverno misterioso que ele também tenta não congelar. Mas, tudo que agora sei é que eu não posso me paralisar ou deixar de dizer o quanto Khalyl é mais do que um personagem importante para essa história que apenas começa. Sinto informar, mas Khalyl terá minha ajuda também, e terá que me aturar nos próximos invernos. Assim como as quimeras serão derrotadas e vencidas quantas vezes for necessário. Viva o poder e a aventura de uma boa e simples amizade. Quero me lembrar por muito tempo do amigo que me trouxe o mapa do riso outra vez, a defesa da alegria, a organização da raiva… 

Com amor, Fernanda. Feliz Aniversário.