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sexta-feira, 28 de janeiro de 2022

E poder


Queria entender minha mania de certeza

O meu medo da verdade

Minha angústia estonteante

Meu dormir e acordar sustentado em memórias e sonhos.

Queria me estender do tamanho que sou até agora, sabe?

Me jogar para frente, 

me amassar toda, 

me empurrar a força, 

E então poder

e poder

e poder

e poder me atravessar! 

E então, poder 

e poder com as mãos me segurar do que eu ainda não sei, do que ainda não sou capaz de enxergar.

Ah! Eu queria me render e conversar com os meus limites.

Hostiliza-los quem sabe

Conecta-los as minhas pequenas medidas

Mastigar um por um 

Soltar com os dedos

E quem sabe dar a língua 

Eu queria soprar minhas feridas. 

Comer bolos de aniversário,

Mas olha só… eu queria era controlar as coisas. 

E quando se quer isso, são as coisas que te controlam no final.

Isso eu já entendi…

Disso eu já brinquei…

Isso eu tenho certeza…

E que tolas e miúdas são essas certezas que eu quero desde o início, afinal. 

sexta-feira, 21 de janeiro de 2022

Sem querer


bruxa…

vivo entre uma obsessão e outra

a flor do pele minhas emoções querem sair tim tim por tim tim, 

são águas dentro de mim, eu posso sentir…

águas com força, 

águas em pingos, 

águas que contornam pedras, pernas e bochechas

os animais e insetos se aproximam sem que eu ao menos os procure, 

bruxa demais…

surgem pelo caminho, pousam, observam pelas janelas, atravessam os corredores da casa para estarem na porta do meu quarto.

recados universais?

mensagens?

sincronia do que?

desvio da matrix que me observa calada e friamente

ela quer me adoecer, quer que eu acredite que é só isso mesmo

mas eu sou tão bruxa! 

Vejo horas iguais umas seis vezes ao dia

Por que?!

E ainda olho pro céu… 

adulta, eu olho pro céu. 

Eu olhava pro céu quando era criança.

De vez em quando aquela esperança criativa de que ele se abre bem no meio.

Algumas chuvas quase fazem realizar…

Feiticeiras são criativas, mas também são tão racionais.

Mal sabem os homens

Mal sabem…e não me venha com bestialidades !

Também brinco e tenho dificuldades com as palavras.

É preciso muito equilíbrio para encontrar as palavras,

o tom,

organizar o vocabulário,

até lá … vou me perdendo de algumas coisas muito boas,

rodopiando um mesmo ponto, procurando uma estrada. 

quarta-feira, 19 de janeiro de 2022

Todo mundo

 

Acordei de um sonho feliz e depois fiquei aflita.

No meu sonho um passarinho estava de costas para mim. 

Não deve ser por acaso….

Meus sonhos trabalham com metáforas,

do meu lado é que ele não estaria.

Não me lembro se teve cantorias.

Não me lembro se teve demonstrações de voos.  

Também não havia gaiolas, graças a Deus. 

Não escutei seu canto, 

nem percebi se tinha ninho, 

se era sozinho, se tinha um par.

Do nada, me foi permitido no sonho sentir um cheiro.

Foi tão real, que por um breve instante 

senti realmente o cheiro das penas quentes e cocei os olhos antes de abrir.

Não teve nada além disso. 

Talvez por isso eu logo acordei e me lembrei que passarinhos são muito distantes do chão.

Todo mundo diz gostar de passarinhos.

Mas nem todo mundo enxerga alguma coisa a mais neles.

Todo mundo diz querer ser passarinho.

Mas nem todo mundo sabe lidar com as próprias asas.

Eu nunca fui todo mundo…

Quem sabe um dia uma hora ou outra,

eu sonhe de novo e me seja permitido enxergá-lo de frente… 

ouvi-lo…

ser um pouquinho do todo mundo. 

terça-feira, 18 de janeiro de 2022

Dentrão

 


Muita gente quis ser o que eu fui ali contigo

Por essa razão talvez não tenha sido falso

Me lembro que havia uma torcida

Me lembro que havia admiradores

Talvez eu seja hoje quem me olhava ali contigo

Agora eu sei o que eles sentiam

O que pensavam quando olhavam

Porque torciam e admiravam 

Talvez até torcessem e admirassem ao contrário 

Queriam… queriam igual pra si

Expus demais

Brinquei demais

Duvidei demais

Mas não foi o olhar do outro que contaminou quase tudo

As coisas é que acabam mesmo

e acabam com a gente também 

As coisas entram em confusão 

construir é conflito

profundo 

Lá dentrão 

e espelho, é claro. 

sexta-feira, 7 de janeiro de 2022

Amaldiçoado

 


Fecho os olhos para encontrar esse corpo

Fecho os olhos porque é o único jeito de  encontra-lo agora

Minhas memórias são confusas  

Me perco entre o que foi vivido e o que ainda desenhava de vontade de fazer

Meus dedos quase sentem de verdade aquelas curvas

Minha saliva quase sente de verdade aquele gosto

Minhas mãos quase seguram apertadas aquele quadril

Seguro minha cabeça, para não cair 

Viro os olhos

Me distraio

Me medico

E imagino que desejar sozinha é solitário 

triste, amaldiçoado

Ardo e

queimo

Ardo e

me derramo entre os dedos

Ardo só de pensar como seria 

como era lindo daquele jeito

como eu me iludi e pensei que do outro lado era exatamente assim, era sentido o mesmo

Cancelo

Tento apagar

Reflito que talvez não seja justo continuar a lembrar 

Então eu canso e durmo… 

Logo de manhãzinha já é notável que estou presa novamente… ardendo e ardendo. 




Paz e amor

 


O hippie ambulante passou por mim na praia e eu disse “psiu, que brincos lindos!”

“Opa! Na hora senhorita”, ele disse abrindo um sorriso e olhando bem pro meio do meu decote no biquine.

-Eu quero uma coisa diferente moço…

-Que tal esses?

-Não, não… algo que eu possa usar quando não estiver na praia e ainda assim seja meio praia, passe uma mensagem, entende?

-A moça é engraçada, é da onde minha sereia?

-Tocantins. Já ouviu falar? Fica bem no meio… Muita muriçoca.

- Sei… E esses moça? Esse material é de uma concha colorida, veja aqui no meu celular a foto... É um pouco rara…

-Hum… bonito mesmo… e esse de paz e amor? 

-Gostou desse?

-Acho que vou ficar com esses, tem espelho aí? Todo mundo precisa de paz e amor. 

-Na hora minha patroa, esses ficaram bonito mesmo. 

Dias depois, no Tocantins, não tinha mais praia, nem hippie ambulante, mas tinha muriçoca e o par de brincos caiu no chão, um deles voltou para minhas mãos faltando um pedaço. Que tragédia…

Onde está o moço para me dizer se o pedaço que quebrou era da paz ou do amor? 

.

.

debaixo das minhas pernas

 


debaixo das minhas pernas fiz sombras

para me proteger de alguma coisa

para não ver outras tantas coisas

para ficar por algum tempinho longe do sol que parecia ser demais

nas sombras eu me perdi

minha cor foi embora

minhas vontades não deram sinal de vida

meus sonhos e vitaminas nem existiam mais

levantar é preciso

sombra também tem que ir embora

tem muito azul ainda lá fora 

muito água pra rolar

muito vento pra pegar

o sol continua o mesmo, e se for demais tenho que dar um jeito…

tenho que dar um jeito.