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segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Dos finais de novela

Comer.
Comer o orgulho com sal. 
Chorar com medo e achar corajoso. 
Vontade de arrancar o pedaço da boca, das costas, dos cílios, dos dedos. 
Implicar pra ficar charmosa. 
Suspirar e querer falar. 
Desistir numa sequência de beijos. 
Sentir o abraço. 
Sentir a existência do dedo midinho na falta do abraço. 
Selecionar as juras sensatas.
Fugir das promessas exageradas da televisão. 
Não saber mais o que se passa na televisão. 
Tá.
Tudo.
(Meu!) Bem.
"Insista, insista."
A verdade.
Contentar.
 Descontar. 
Alimentar o jeito.
O jeito é sorrir sem jeito.
...não tem mais jeito. 
Encher.

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Marida e mulher.

Lembro que no começo eu controlava o cartão de crédito, você dizia que devia ser minha missão, eu dizia que era um dinheiro invisível. Era sempre assim, você pés no chão, eu filosofando, ou vice versa dependendo de onde estávamos no calendário menstrual.
Loira, magra, olhos verdes. Estrábica quando eu menos esperava. Aparentemente responsável. Tá, meio atrapalhada e sem juízo de vez em quando, tinha sua malandragem, dava seus pulos e sabe o que eu acho disso? Que era o mínimo que Deus podia lhe dar.
Desde sempre (me arrependo de nunca ter dito isso direito, porque você merecia) eu senti que seu coração era bom e que tua beleza era cansada.  E ao passar dos meses percebi como muita gente se aproveitava disso em você, e tenho muita raiva da tua revolta ser tão bem escondida e tua carência tão escancarada. Outrora, apenas te (e me) perdoou abraçando seus motivos.
Não sei se fiz certo abrindo meus ouvidos, mas espero que tenha sido terapêutico desde o dia que você abriu sua boca, e começou a contar... tudo! Segredos, traumas, amores, dores, vontades. Acabou que eu te conhecia e desconhecia de um jeito que me atrapalhava. Tua presença e ausência começava a me atormentar dia e noite. Desconfio que o motivo seja: "Eu não soube lidar com tua vida." E eu lamento por não ter conseguido ser mais simpática e por nunca poder retribuir de forma decente e por completo, a paciência e coragem que teve comigo.     
A primeira vez que te vi estavas meio nervosa, com uma roupa tão curtinha e rosa que me era pouco (até literalmente) pra decifrá-la. Mas, não demorou muito pra entender que era mais macho que muito homem, e te adorar pelo fato de não ter frescuras agudas foi instantâneo. Ficamos íntimas tão rápido que parecíamos "marida" e mulher. 
Você toma coca-cola demais, pita três quatro cigarros falando da mãe (que eu nunca vou entender e perdoar) e eu nunca gostei do seu cabelo molhado e preferia os fios secos, saindo pra fora do capacete em busca de liberdade. Jamais vou aceitar o absurdo do seu pé ser tão pequeno, pois nunca foi possível trocarmos de sapato (tirando aquele meu all star velho e xadrez) e admito também que odeio as cores dos teus esmaltes e que seu pai é legal sim, basta ser sincera e não ter tanto medo dele. Se eu fosse você teria mais receio dos "V's" da tua vida,  pra ser sincera, eu acho que cada contato teu com eles, te envelhecem uns cinco anos a mais. 
Ah, um dia desses eu procurei um perfume e quase pensei que tu estivesse na loja quando cheirei "Florata", por último... eu tenho medo do seu colesterol, você precisa colocar tanto óleo nas panelas?! 
Eu quase esqueci de citar minha felicidade de quando você dizia que era hora de nos arrumarmos pra poder sair. (Festas!)
"-Tu tem lápis de olho pra me emprestar?
  -Super Mário tá dentro do guarda roupa, pode pegar."
Super Mário! Era assim que ela me chamava, e olha que eu não uso macacão azul, nem tenho bigode, nem jogo video game. 
"-Super Mário?
 - É. Tu já viu o toque do teu celular cabeção?"
O toque parecia com a trilha sonora do video game mesmo. Cabeção, era o nome que ela me chamava quando não me chamava de Super Mário. Esse eu nunca perguntei o motivo (Vai que ela me dava outro nome?!). 
Admito. Eu sou chata, pessimista, egoísta e acho problema em tudo pela frente, e ela não, ela vinha atrás arrancando soluções do "cu com gancho", nem que fosse só pra me fazer sorrir. 
Me dá vontade de chorar de vez em quando, é que penso na possibilidade de que talvez, aqueles meus momentos sozinha, indiferente, de saudade de casa ou de angústia, podiam  acontecer com ela frequentemente ou quem sabe talvez ela nunca soube o que era ter saudade de casa. Quer saber de uma coisa? Você tem toda razão de não gostar de ficar sozinha. Solidão adoece, estraga, promove reflexão e rancor. Você é forte, batalhadora, otimista, e dane-se se está no teu sangue ser tão porra louca! Eu quero esquecer os julgamentos, os maus tratos ou o que não foi como esperávamos. O importante é que você é do tipo de amiga que não quer saber com quem estou discutindo, já vem logo dando avoadeira! O importante é que a gente lavou roupa ouvindo Beatles, e tudo bem se gostava de ligar o som da altura da nossa casa, pior é hoje que morro de preguiça e lavo roupa calada.

(Para uma amiga camaleão.)

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Desmanchava no ar

Ficou completamente envergonhada quando viu sua letra pela 1ª vez. Foi por um triz que não enlouqueceu sozinha e quase soltou o papel no chão pra se esconder atrás da porta, vermelha que nem molho de pimenta. Nem vendo um homem nu a deixou tão mais surpresa quanto ter nas mãos aquele envelope valioso e carregado daquelas miudinhas tímidas. Mas, esperava mais... quando leu na décima quinta vez, claro. Ainda sem acreditar que conseguiu. Sim! Era uma carta, ainda não era de amor, mas era pra ela.
Destino não era, também não era por acaso. Fugia-se um do outro que nem diabo da cruz, mas voltavam a se aparecer que nem o cão na alma de crente. E assim as coisas acontecem, não é mesmo?
Mas acabou. Como bem previam e nunca se esqueciam de assinar em baixo, e engavetaram-se todas aquelas possibilidades reprimidas de ter quebrado a cara um do outro, ou vai saber se os corações.
Singelo, íntimo, tormento da gastrite ainda desconhecida, não decifrar o que seria dito foi impressionante até se contaminarem dos defeitos do outro e ficarem pessimistas e repetitivos. Sem beijos, sem abraços, sem muita certeza pra poder contar por ai, os cabelos logo começam a cair demais no pente.
Talvez houvesse calma quando selaram a primeira, a segunda e a ter... que enviavam. Mas a desgraça era na espera por elas, pois tudo que se escrevia, sólido e certeiro no momento, se desmanchava no ar quando lidas tão demoradas.
Não importa se a advogada se chama arrogância, ditar que não foi impressionante e muito menos fez diferença na vida, não é argumento válido para quem faz ocorrer.
O encaixe de cada palavra oferecida (de graça) trouxe sensação única, e agradeceu.

                                                                                                                                             p.s: pode crer.