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terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Para o meu observador.


Teve uma época que eu cismei que alguém estava me espionando. Sentia sempre que estava sendo observada. Fazia o pré-escolar e quando prestei atenção naquela oração da professora ,sobre anjo da guarda, pensei: "Então, só pode ser ele."
Naquela suposição, todas às vezes que sentia que estava sendo observada, eu começava a puxar assunto com aquele observador.
Ele aparecia sempre quando eu nem mais lembrava. Eu poderia estar por exemplo, no meio de uma conversa com alguém, que sentia a sensação. Logo que a pessoa não visse, eu conversava com ele. Fazia sempre escondido, achava que seria bem complicado explicar para os de fora o que se passava aqui dentro.
Eu não o sentia sempre e confesso que ele aparecia em horas que eu nem esperava lembrar mais.
Na escola, brincando de casinha com alguém, na hora de passar na linha de pedestre na rua, no parquinho, balançando na rede, na hora de fechar a porta do carro!
Eu poderia estar correndo, gritando e pulando em uma festa de aniversário de uma das minhas primas, por exemplo, que do nada! Ele aparecia. Eu, fingindo que não via, esperando a hora que ninguém estivesse prestando atenção em mim, dizia baixinho: "Por onde andou?" e conversávamos. Ele estava ali comigo. Sem que ninguém ali imaginasse que acabára de chegar, sem que ninguém ali imaginasse que eu tinha um observador.
Confesso, às vezes algumas pessoas já me pegaram falando "sozinha" e diziam: "Com que você está conversando?".
Quando isso acontecia eu sempre tinha duas respostas, uma delas era dizer: "Com ninguém, estou cantando." e outra delas era dizer o que se passava mesmo, "Com meu anjo."
A reação das respostas que eu dava para as pessoas que perguntavam também eram sempre duas, ou despertava a curiosidade, fazia rir e ouvia: Essa Nanda! Ou despertava a curiosidade, fazia rir e ouvia: "Doida!"
Às vezes, nós até riamos juntos. Eu dizia: "Nossa, se eles sonhassem que você está aqui, hein?"
O que eu acho mais engraçado desta lembrança, era de como eu gostava daquela sensação de ter um amigo que ninguém, nem mesmo eu, podia ver direito. Conversar escondido, rever sempre, perguntar coisas ou saudar escondido me dava ,talvez, uma certa adrenalina.
O que é engraçado também, é que não me lembro como acabou. Não me lembro se ele se despediu.

segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

"E o Sol?"



Já passava da meia-noite, eu não poderia mais banhar de piscina, nem jogar bola, nem correr sendo observada pelo sol, nem estar entre pessoas da minha idade, nem pedir nada no bar. Havia acabado todos os afazeres em uma ída ao clube de tarde.

Na mesa de plantão, dos jogadores de futebol, (a maioria- pais de família), que jogam alguns dias da semana (e todos do fim dela) por diversão, bêbados riam e conversavam.

A mesa é sempre enorme e cheia de confusão, seu pai senta-se nela. Há homens de todos os jeitos, dos brincalhões aos apelões, dos quietinhos aos fanfarrões, dos intelectuais aos simplesmente simpáticos. Depois de um jogo, serve-se a noite, e assim o ínicio de comentários sobre "como foi aquele jogo". E é claro! Se desenrolam milhares de outros assuntos e brincadeiras.
Um dia, ou melhor, uma madrugada dessas que fiquei, começou o assunto "Dom".
Devo lembrar que os homens dali, são de fé e profissões diferentes e que bêbados são bem sinceros e... vermelhos.
"Dom: dádiva divina existente no homem ou característica marcante acabando por tornar um homem especial (Defini bem?), existe ou não existe?"
Uns disseram que existe, outros que de maneira alguma, uns apareceram para saber do que se tratava e outros riam e zombavam dos rebates de argumento.
Um doutor chamado Rúi, dizia: "Dom existe! Porque o Pelé meu amigo, o Pelé! Como pode?! Jogar daquele jeito!" e outro dizia: "O Pelé?! Mas hoje já existe jogador melhor que ele, não se iluda pela rede globo.", outros apenas perguntavam (modo socrático de se fazer) "O que é Dom? Hãm? Defina!"
Um, disse: "Vocês acham mesmo que o Leonardo da Vinci ou o Picasso ou esses cientistas por aí são normais? Dom existe! Oras...".
Outro, rebateu: "Eles se esforçam é diferente!E claro, podem ter criatividade, não existe Dom!", e mais um se manifestava: "E o Einstein?! Hãm?! Vão me dizer que aquele cara não era especial? Dom existe sim!" e a risaiada entorpecia o ambiente.
Um deles, outro médico inclusive, de segundo nome Catini, tomou a cerveja depressa e levantou dizendo: "O Einstein era especial? O Einstein era um louco! Batia na mulher, trancava no porão, esse era o dom dele?", todos os outros: "Como é? Dessa eu não sabia!", e ele respondia: "Sim! Isso mesmo! Quem quiser saber que procure nos livros, es-pan-ca-dor!".

Pausavam para mais um gole de cerveja e outro voltava a dizer: " Disso eu não sei, sei que dom existe sim! Quantas crianças super dotadas, quantas obras de artes feitas por gênios, quantas coisas novas! Vai me dizer que alguém aqui pinta a Monalisa ou faz qualquer cálculo matemático?", e mais um rebatia: "Hãm... E tudo isso serve para quê?! São facilidades, todo mundo tem em alguma coisa, não existe nenhum toque especial nisso."
Um, abraçou o camarada e disse: "Vamos dar um exemplo! O Ruí gente! Um bom médico, estudou muito e tal, gosta do que faz... A maioria dos estudantes de medicina por aí, tão pensando só no dinheiro e com isto estão acabando com o histórico de bons médicos, não é não Ruí?! Tem que ter dom minha gente! Só tendo muito dom para encarar!", e outro acrescentava: "Eles estão pensando no dinheiro, por isso são uma merda! Bom era no nosso tempo, vo-ca-ção e dinheiro! Dinheiro e dinheiro não dá em nada, tem que ter o dom para a coisa!".
A cada frase dita por um defensor do "existe" ou do "não existe", os que não defendiam, mesmo participando, faziam sempre um: "Ê! Essa foi boa!" como se fossem a torcida. Outros, se contentavam em dizer: "Olha aí rapaz, a conversa desse cara!" E tomavam suas cervejas rindo.
"Existe!", "Não existe!", "Existe!", "Não existe!".

Madiam, um cara já velho, músico entre outras coisas, disse então: "E o Sol?" (Aquilo me chamou a atenção, e o sol o quê?) e todos rindo não prestavam muita atenção, ele então repetiu botando a mão no queixo: "E o Sol?", um disse então: "Olha o Madiam cara! O que o sol tem a ver com isso?!". Madiam respondeu: "Exato! O que o Sol tem haver com isso?", outro perguntou: "Então dom existe ou não Madiam?", ele respondeu: "O sol existe. Essas pinturas, essas descobertas, o que isso influencia no sol?", e um disse: "Mas que...que negócio de sol é esse meu amigo?!", outro que defendia o "existe" pareceu entender o racíocinio e disse então: "Não influencia em nada. O sol sempre esteve lá... e sempre estará..." (fiquei esperando, ansiosa, parecia ser o começo de uma resposta certa, repeti na minha mente "e sempre estará... e...?!") um silêncio de súbito pausou os raciocínios e risadas e Rúi terminou tudo com um: "Mas uma pessoa que não tem explicação... é o Pelé." tomou mais um gole de cerveja e para o céu ficou a pensar indignado, apaixonado.

Posso realmente dizer que, eu não entendi essa pergunta do sol do Madiam (nas minhas entranhas eu tinha a certeza de que era sábia. Contudo, não conseguia me dizer objetivamente, não conseguia expressar com palavras) passei muitos dias tentando decifrar aquela pergunta, tentando me responder, e ainda passo! Sentindo que passarei, aquele dia minha sina foi anunciada.
"E o sol?", me perguntava, o que o sol tem a ver com tudo isso? Me agoniava.
Seria uma metáfora? Seria no sentido literal?... Viagem da parte dele?!
Ele queria dizer que a conversa não tinha fundamento? Ou significaria que dom não existe, pois nada disso atinge o resto do mundo? Será que quer dizer que tudo que passamos parece muito importante, entretanto para o universo não muda nem desmuda nada?
Nenhuma resposta. Só perguntas. E cada vez que me pergunto "E o sol?", mais especulações surgem.

quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

Como funciona a absorção do que me é dito.

"Você as vezes é bem egoísta!"acrescentado de "minha filha" no final da frase, calmamente dito por mamãe, vai direto para a sala da reflexão.
Isso não é dica, se parecer, mas é o jeito mais rápido de me fazer refletir através de um conselho. Foi o que descobri.
Outras vezes na mesma frase, dito por qualquer pessoa podendo ser mamãe também, é acrescentado um "Nanda". Quando isso ocorre a mensagem é levada para a sala da reflexão (que existe aqui dentro) dependendo do meu humor. Ou seja, as vezes entra por um ouvido e sai pelo outro, se vai entrar e ficar vai depender do meu humor.
Se ficar e eu estiver nervosa por exemplo, vou pensar que a pessoa não me entende e disso vou me lembrar da palavra " interpretação" aí eu vou começar a pensar nas interpretações de livros sagrados , nas interpretações dos interpretes dos presidentes e assim vai...
Se ficar e eu estiver calma, vou mostrar indiferença e pensar na infância, não sei porquê (ainda) na infância mas é o que acontece.
Se eu estiver nos meus "dias de rainha" vou pensar que o egoísta é a pessoa que me disse isso ou que se eu estiver errada mesmo, é só consertar. Para quê alarde?
Se eu estiver nos dias em que "nada é certo, tudo é relativo" vou pensar nos primeiros seres-humanos do mundo (eu já disse em outro post que penso neles.) e em seguida vou refletir sobre o egoísmo, o seu porquê e o que ele fez e faz com o mundo e se a minha contribuição nisso me trará algo.
Diante de todas essas formas de absorver um "Você é muito egoísta", penso que... ou eu tenho uma falta de concentração no que me é dito, ou eu viajo demais nos meus pensamentos, ou ainda não descobri o que possa me atingir brutalmente. (Dito calmamente atinge. Agora é dica.)
Vou revelar que existe um círculo de mulheres -todas com a minha aparência- sentadas em cadeiras aqui dentro de mim. De vez em quando uma delas (a mais timida e que anda menos usada) diz que a resposta para esses pensamentos em diferentes humores cheira convencimento, falta de humildade e egoísmo, ela as vezes manda todas se calarem e diz "Você é uma convencida, por isso não levou a sério o que lhe foi dito." Outra de mim se levanta e me defende dizendo: "Ela não tem culpa!" e outra levanta e dá uma enorme gargalhada, todas as outras do círculo e as duas que debatem ficam sem entender o porquê dela estar achando tanta graça, perguntam e ela não sabe o porquê mas acha muita graça daquilo tudo.
A timida senta com raiva, olha para baixo e diz: "Você é convencida demais, credo."
Ninguém lhe dá atenção e é assim que não absorvo o que me é dito.

terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Verde de doer o olho.

Célia de Oliveira morava no segundo andar de um prediozinho de quatro andares. Nem poderíamos chamar o prédio de prédio, porque quando pensamos em prédio pensamos em altura e não era tão alto assim, aproveitando, Célia também não era tão alta assim, isso também não quer dizer que era baixotinha, como eu disse é só para aproveitar que falamos de altura mesmo.
Célia morava no segundo andar do prediozinho de quatro na companhia de somente um único e imaturo peixe verde, chamado Cloroplasto. Cloroplasto era verde de doer o olho. Célia já havia prestado atenção que o "marca texto" fazia questão de se amostrar quando via visitas entrando pela porta. E toda vez que trazia uma visita rapidamente olhava para Cloroplasto, achava graça e dizia para si: "Metido de uma figa".
O aquário de Cloroplasto situava-se em um lugar que quando se abria a porta do apartamento a primeira coisa que se via era ele. Às vezes ela tinha a impressão de que o aquário não existia, chegava a ver o peixe flutuando pela sala, rebolando-se por inteiro e um dia chegou até a deixar visitas sem entender o que se passava, para ver se o peixe estava mesmo flutuando pela sala.
Na cabeça de Célia o Cloroplasto entendia suas graças, seus pensamentos e suas intenções ele só não demonstrava porque seu papel era nadar.
A idéia do nome do peixe foi da Tascila Maria, grata a senhorita.
23/12/2008

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Um vilão para recordar

Não teria todo vilão um pouco de razão?
Afinal, eles não nascem maus...nascem?
Tá. Tem os psicopatas que segundo os estudos são pessoas realmente más, estranho não é mesmo? Um ser que nasce mau, gosta do mal e se sente bem em fazer o mal. Deveria vir com um escrito na testa: "Nascido para ser vilão." Se bem que se viesse com esta marca, nós bonzinhos (Eu?) nos adiantaríamos e certamente não pouparíamos suas vidas. (Quem não poupa vidas é bonzinho?)
Os vilões querem o que todo mundo quer mas nem todo mundo tem coragem de ir atrás, interesse próprio.
Existem regras para viver, (Existe. Para vocês também libertinos.) regras aplicáveis ao geral.
As rotinas vem, a conformidade também, e seguimos o "pão nosso de cada dia".
Imagine uma grande forma e vários bolinhos a serem postos, alguns bolinhos não se encaixam nas formas. Oras! Tem gente que não consegue, talvez porque não consegue mesmo, talvez porque não quer, talvez porque gosta de originalidade ou quem sabe por pura preguiça, esperteza... maldade. (Não os bolinhos, aqui estamos falando de pessoas já...)
Enfim, não conseguem. Não importa os motivos, não conseguem mesmo! Não é assim que funciona? -Risada diabólica, lentamente parando e voltando com uma seriedade súbita-
O nosso lindo: "Não me interessa!", que para os que não conseguiram é lido como "Se virem!" e assim os meios ilícitos surgem.
Quem quer ser vilão deve ser um bom vilão, se é para sonhar, sonhe alto! Se é para conseguir não lhe importa os meios! Se é para ser mau vá em frente! É o que eu diria ser a coisa mais fácil do mundo, mas seja "classudo", É! inteligente, audacioso, i-mor-tal.
O vilão exagera. Mas é gente. Imperfeito. E vilão por justamente exagerar.
Quem quer ser médico deve ser um bom médico, quem quer ser vizinho deve ser um bom vizinho.

Um mala sem alça basta, para estragar todo um histórico de carreira seguida, isso acontece.
Mesmo que o bom não se aplique ao vilão...
Um vilão também deve ser bom, bom o bastante.



Fernanda pensou sobre vilões hoje, pensou apaixonadamente. (Arlequina e Coringa- foto) 22/12/2008

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Eu, mim e ela.


Eu iria esconder para sempre de mim, o que eu estava pensando. Entretanto, depois que descobri que unir mim e eu esclarece mais meus pensamentos, parei.
Eu e mim temos um relacionamento aberto, agora, ficou ótimo para nós duas!
Sem proibições, sem segredos, sem mistérios, sem podações e sem medo. Mim e eu, conseguimos admitir e pensar sem nuvens negras por perto.
Descubro melhor agora, o que eu quero, o que eu penso e dispenso e o que eu posso fazer para melhorar.
Algumas coisas, mim e eu ainda estamos decidindo, outras parece que jamais decidiremos porque mim argumenta bem e eu também, não chegando a nenhuma conclusão sensata, assim, comigo entendendo o que se passa, viver é mais compreensível. Não exato! Mas bem pensado.
Ainda escondo algumas coisas de mim, e eu sei disso também, mas junto disso parece que mim ou eu, não me lembro mais qual das duas especificamente, sabe porque é preciso esconder.

sábado, 13 de dezembro de 2008

Acabando com um sofrimento.

Estava eu pronta para cortar um papel no meio quando de repente senti sua voz e indignação...
"De árvore virei papel (papel específico de escritório). Se eu soubesse ainda quando Deus me deu a chance de escolher o que eu queria ser, não teria escolhido árvore. Foi uma boa escolha até eu ser cortada... claro.
O campo de concentração para que eu me tornasse papel foi traumatizante, entre outras experiências ruins que tive na vida outra pior que esta foi ter conhecido aquele ser metidinho, o tal do computador. Nem me deu um bom dia e já me desceu ladeira abaixo, me dei conta depois que o sem educação ainda por cima me infestou de letras. Um tal de Senhor Diego ainda para completar não estava nem aí para minha tristeza abafada, me dobrou no meio, passou a mão em mim e ainda me deu uma lambidinha!
...
A melhor experiência posso com certeza dizer que foram as viagens e papéis que conheci quando estava a caminho de ser entregue, refleti que se ainda fosse uma árvore jamais teria saído do mesmo lugar, nesse ponto de vista ser papel foi até bom.
Conheci documentos importantes, cartas de amor e ódio, críticas salgadas ao governo, alguns avisos e também alguns papéis de escritório, como eu. Todos muito bons de conversa, rimos muito.
...
Cheguei ao destinatário e fui lida uma única e mera vez. Hoje vivo dentro de um arquivo esperando ser lida novamente ou quem sabe ser mandada para o lixo, que é o que os papéis daqui mais falam.
Se fosse para eu escolher, escolheria o lixo. Pelo menos eu me transformaria em outra coisa ou quem sabe morreria vendo a vida lá fora. Esperar ser lida me parece ser uma eternidade! Não tenho vocação para ser guardada!
...
Quanta vida lá fora...Se eu soubesse, ainda quando Deus me deu a chance de escolher o que eu queria ser, não teria escolhido árvore. Foi uma boa escolha até eu ser cortada, claro."

Diante do desabafo amassei-a, mirei no cesto de lixo e disse amém.

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Sobre: Perguntas e dores.



Você precisa se perguntar diretamente, precisa conversar com você mesma, precisa entender porque age de certa maneira, porque sentiu alguma coisa, porque foi bom, porque foi ruim, porque certas pessoas te agradam, outras não. Se isso nunca aconteceu com você, ou já quando era criança, ou acha ridículo porque não parece muito normal, procure então porque é ridículo, porque nunca fez isso. (Uma dica para superar essa barreira inicial: "E daí?" )
A melhor coisa do mundo é se auto-comunicar, você se sente mais segura, mais você, mais "pés no chão", e você sente que nada mais te atinge. (Cuidado só para não ficar como eu estive uma vez, estava de um jeito que achava que até se um carro virasse comigo dentro, eu não sofreria arranhões, isso aí já é se garantir demais...depois eu falo sobre o corpo, fiquemos com a mente.)
Se você não se pergunta nada, vive uma vida que praticamente não é sua. Vive sem saber o que seria viver sendo um ser humano pensante. Ninguém vai te avisar dessa regra básica, você será levado pelos afazeres e viverá, discretamente.
Tem gente que tem facilidade em se auto-comunicar, outros que acham isso coisa de louco e vivem a mercê dos outros, outros que fazem ousadias e dizem estar vivendo tudo, outros que ainda vão despertar mais tarde, quem sabe em um dia qualquer quando olhar para o chão e ver um pedaço de chiclete grudado no asfalto (O que Clarice Lispector daria o nome de epifania) pode ser que comecem com este exercício, também tem aqueles que despertam em uma idade mais avançada.
Com 14 anos minha explosão foi ativada, quis morrer (é, essa vontade é normal, talvez isso aconteça com você) porque pelo nada ou por alguma coisa que acontece com você (epifania) você descobre que nada é o que parece ser. É tão complicado dizer, mas vou tentar...
Sabe... corrupção, injustiça, crueldade, dinheiro, sexo, imperfeição entre outras coisas? É como se tudo do mundo que você já sabia da existência penetrasse mais profundamente em sua mente. Nesse momento você se sente sozinho, se sente ameaçado, se sente sortudo talvez, se sente em pânico! Percebe que nada é de graça, que desconfiar é preciso porque existe "um por trás" chamado intenção. Então...a vida e viver amedronta.
Por fim, depois de muito choro, alguma percepções sofridas que você passa e algumas revoltas, você se dá conta (quem não se matou até aí ou se entregou a depressão.) de que a vida sempre foi assim, que tem gente que nunca vai pensar nisso, que tem gente que percebeu isso e está morrendo para mudar nosso mundo e de outra gente que percebeu tudo isso e quis levar vantagem em cima aproveitando-se dos que ainda não se perguntam, entende? Lembra daquela estória de que a verdade dói? Dói nada! A ilusão que nos criam é que doe.
Por isso! Se pergunte. Nunca se esqueça disso.

domingo, 7 de dezembro de 2008

Querer e poder.


Eu não quero o que seja desnecessário. (Eu, socialista?)
Eu também não quero nada que não acrescente, quero algo do qual eu possa lucrar. (Eu, capitalista?)
Eu quero pessoas das quais me aceitem como sou e que aprendam comigo. (Eu, professora?)
Eu quero meninas das quais eu possa contar tudo que sinto, meninas para compartilhar o prazer de sermos meninas (Eu, não sou lésbica.) , de pensarmos como meninas (Eu, feminista?), de agirmos como meninas. Enfim, verdadeiras amigas.
Eu quero meninos também! (Eu, promiscua?) Meninos interessantes. Quero que sejam meus (Eu, possessiva?) podem ser meus amigos, quem sabe companheiros, amantes! (Eu, Dom ruam?) Ou...
Meu filho! (Eu, mãe?!) Tá. Meninos dos quais eu possa contar meus sonhos e desejos.
Agora deixando um pouco meu "querer" vamos falar de poder.
(Eu adorava aqueles Power Rangers... meu Deus, como era bom brincar daquilo!)
Pensa comigo, vocês dormem e sonham com sonhos cheios de grandes lições?
Vocês conseguem captar mensagens em filmes? em músicas? em entre-linhas? em imagens? em acontecimentos não esperados no meio de suas rotinas?
Você! Sabe captar aquela espécie de "sinal divino" (coisas e pessoas que ensinam sem propriamente ensinar.) ?
Poisé...
Este é um dos meus poderes, percebo.

sábado, 6 de dezembro de 2008

"Sobre-viver."



Entrou em desespero na loja.
-Eu preciso de máscaras, muitas máscaras moça! Traga de todos os jeitos, porque se não eu estarei perdida. Descobri que não posso ser eu mesma todo instante. Não posso reagir por instinto todas as vezes e nem posso andar pelada por aí.
Eu preciso de máscaras, muitas máscaras moça! Traga de todos os jeitos, porque se não eu estarei perdida. Descobri que quero e preciso me proteger das maldades do mundo, preciso me preservar comigo mesma, preciso estar atenta aos olhares, aos fuxicos, aos deboches e as mentiras, porque nunca se sabe o porquê só que surgem e podem me machucar, antes que isso aconteça eu preciso de máscaras! Máscaras moça! Traga todas as máscaras que você tiver aí! Desça as de bicho, seres fantásticos, monstros, seres humanos, plantas, insetos, até essa aí de et! Trás ela também... Gostei dessa de et!
Moça! Ei moça, traga mais! Eu posso pagar...tráz porque eu preciso me proteger, tráz porque assim eu vou me sobressair, moça você está me escutando? Está?!
A moça chegou com caixas enormes cheia de máscaras. Lá dentro havia alegria, tristeza, humor,terror entre milhares de outras emoções representadas.
-Bem, só tem essas?
A moça afirmou com a cabeça e ainda mostrou umas mais enfeitadas.
-Vou levar todas.
Saiu em desespero da loja.
A moça contando o dinheiro, sorriu maliciosamente e disse:
-Pobres crianças, quando vão entender que a forma mais econômica e lucrativa é serem eles mesmos?
E continuou sorrindo e contando o dinheiro.



sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

People

pontoAlgumas pessoas me irritam muito. O que mais me irrita ainda é aquela conversa de que elas nos irritam porque nós estamos nos vendo nelas. Por que será que algumas pessoas nos irritam tanto? Seria algo nelas que precisamos, seria algo nelas que temos ou seria algo nelas que desprezamos mesmo?

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Crú.

Lembro-me que não gostava muito de espelhos. Na verdade eu era tão medrosa que espelho era assustador! Não por minha feiura, rs, mas pelos pensamentos que nos vem e os reflexos que ele nunca deixa de mostrar.
Eu me lembro de uma vez que estava sozinha no camarim do sesi, ainda na infância, vestida, maquiada e quem sabe "incorporada" de uma personagem, esperando meus colegas de teatro chegarem para o ensaio final.
Fiquei andando lá dentro sozinha pensando no que eu poderia fazer já que tudo ali, por aqueles instantes, estava nas minhas mãos e poder. Andando, melhor! Pulando (pois eu andava pulando) me dei conta de que haviam muitos espelhos. Na minha direita, esquerda, nas janelas, nas separações, nos banheiros! E de súbito me bateu um grande medo. Estar sendo observada, julgada, ou quem sabe até condenada! Não, eu não me dava bem com espelhos. O pior é que não tinha para onde ir. Tive que tomar uma decisão, eu preferia ficar no camarim cheio de espelhos ou ir para o palco que estava escuro e tinha uma plateia de poltronas e cortinas vermelhas que me lembravam demônios? (Sim! Eu acreditava em demônios), decidi ficar por ali com aqueles espelhos. Me surgiu a ideia de enfrentá-los, antes, a voz da professora de Teatro me veio a cabeça: "Não é você, é o personagem. Encarnem seus personagens." e assim fiquei na frente do espelho, um pouco envergonhada, mas bem na frente mesmo.
Por alguns minutos talvez por conta da "máscara" que eu criei, consegui me ver melhor. Foi uma das minhas vitórias inesquecíveis.
Depois desse episódio, posso definir utopia. Aquele dia eu vi que o espelho em que eu estava mostrava além de mim, outro espelho que existia atrás de mim. Aquilo me deixou impressionada, eu procurava o fim e parece que quanto mais eu olhava para dentro, mais espelhos surgiam. Não adiantava eu dar tchauzinhos, minha mão estava em todos, estava até no mais profundo, não acabava. Foi legal, mostrei minha descoberta para minha amiga Hayla que chegou depois pergutando o que eu fiz enquanto estive sozinha.
O que eu acho mais engraçado é como eu era (talvez ainda seja) mala. Uma menina malandra. Como eu podia fazer tantas coisas contra mim mesma? Inventar barreiras para mim mesma, criar fantasias daquele jeito e mesmo com medo das coisas criadas, sentir um certo prazer nas minhas profundezas? Porque eu sabia que eram criadas!...
Mesmo assim, ao mesmo tempo, seria delicioso estar me enganando?