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sábado, 13 de dezembro de 2008

Acabando com um sofrimento.

Estava eu pronta para cortar um papel no meio quando de repente senti sua voz e indignação...
"De árvore virei papel (papel específico de escritório). Se eu soubesse ainda quando Deus me deu a chance de escolher o que eu queria ser, não teria escolhido árvore. Foi uma boa escolha até eu ser cortada... claro.
O campo de concentração para que eu me tornasse papel foi traumatizante, entre outras experiências ruins que tive na vida outra pior que esta foi ter conhecido aquele ser metidinho, o tal do computador. Nem me deu um bom dia e já me desceu ladeira abaixo, me dei conta depois que o sem educação ainda por cima me infestou de letras. Um tal de Senhor Diego ainda para completar não estava nem aí para minha tristeza abafada, me dobrou no meio, passou a mão em mim e ainda me deu uma lambidinha!
...
A melhor experiência posso com certeza dizer que foram as viagens e papéis que conheci quando estava a caminho de ser entregue, refleti que se ainda fosse uma árvore jamais teria saído do mesmo lugar, nesse ponto de vista ser papel foi até bom.
Conheci documentos importantes, cartas de amor e ódio, críticas salgadas ao governo, alguns avisos e também alguns papéis de escritório, como eu. Todos muito bons de conversa, rimos muito.
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Cheguei ao destinatário e fui lida uma única e mera vez. Hoje vivo dentro de um arquivo esperando ser lida novamente ou quem sabe ser mandada para o lixo, que é o que os papéis daqui mais falam.
Se fosse para eu escolher, escolheria o lixo. Pelo menos eu me transformaria em outra coisa ou quem sabe morreria vendo a vida lá fora. Esperar ser lida me parece ser uma eternidade! Não tenho vocação para ser guardada!
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Quanta vida lá fora...Se eu soubesse, ainda quando Deus me deu a chance de escolher o que eu queria ser, não teria escolhido árvore. Foi uma boa escolha até eu ser cortada, claro."

Diante do desabafo amassei-a, mirei no cesto de lixo e disse amém.

4 comentários:

Andréia Haidar disse...

Adorei seu blog...

Muito bom mesmo! Bjim sumida...

Augusto Rosa Leite disse...

meta
foras
me
ta
foras


metafo
ras

as
metaforas

Anônimo disse...

Esta crônica é simplesmente fantástica. Se não a conhecesse, diria ser de uma autora consagrada. Tem imaginação. Ingrediente indispensável que falta à maioria dos escritores (?), ainda que eles dominem com perfeccionismo o português.Tem calibre e tem humor refinado. E o humor é para poucos.
Você é ungida, será sucesso precoce. O tempo confirmará minhas palavras, mesmo não sendo eu um arúspice.

abraços

Anônimo disse...

Parabéns sobrinha, vc estar escrevendo cada dia melhor!! Bjão