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quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Crú.

Lembro-me que não gostava muito de espelhos. Na verdade eu era tão medrosa que espelho era assustador! Não por minha feiura, rs, mas pelos pensamentos que nos vem e os reflexos que ele nunca deixa de mostrar.
Eu me lembro de uma vez que estava sozinha no camarim do sesi, ainda na infância, vestida, maquiada e quem sabe "incorporada" de uma personagem, esperando meus colegas de teatro chegarem para o ensaio final.
Fiquei andando lá dentro sozinha pensando no que eu poderia fazer já que tudo ali, por aqueles instantes, estava nas minhas mãos e poder. Andando, melhor! Pulando (pois eu andava pulando) me dei conta de que haviam muitos espelhos. Na minha direita, esquerda, nas janelas, nas separações, nos banheiros! E de súbito me bateu um grande medo. Estar sendo observada, julgada, ou quem sabe até condenada! Não, eu não me dava bem com espelhos. O pior é que não tinha para onde ir. Tive que tomar uma decisão, eu preferia ficar no camarim cheio de espelhos ou ir para o palco que estava escuro e tinha uma plateia de poltronas e cortinas vermelhas que me lembravam demônios? (Sim! Eu acreditava em demônios), decidi ficar por ali com aqueles espelhos. Me surgiu a ideia de enfrentá-los, antes, a voz da professora de Teatro me veio a cabeça: "Não é você, é o personagem. Encarnem seus personagens." e assim fiquei na frente do espelho, um pouco envergonhada, mas bem na frente mesmo.
Por alguns minutos talvez por conta da "máscara" que eu criei, consegui me ver melhor. Foi uma das minhas vitórias inesquecíveis.
Depois desse episódio, posso definir utopia. Aquele dia eu vi que o espelho em que eu estava mostrava além de mim, outro espelho que existia atrás de mim. Aquilo me deixou impressionada, eu procurava o fim e parece que quanto mais eu olhava para dentro, mais espelhos surgiam. Não adiantava eu dar tchauzinhos, minha mão estava em todos, estava até no mais profundo, não acabava. Foi legal, mostrei minha descoberta para minha amiga Hayla que chegou depois pergutando o que eu fiz enquanto estive sozinha.
O que eu acho mais engraçado é como eu era (talvez ainda seja) mala. Uma menina malandra. Como eu podia fazer tantas coisas contra mim mesma? Inventar barreiras para mim mesma, criar fantasias daquele jeito e mesmo com medo das coisas criadas, sentir um certo prazer nas minhas profundezas? Porque eu sabia que eram criadas!...
Mesmo assim, ao mesmo tempo, seria delicioso estar me enganando?

3 comentários:

Anônimo disse...

A escrita Fê chegou ao ponto em que todos, com suas idiossincrasias coletivas, diriam:

-- É tudo o que eu sinto, mas nunca consegui expressar!

Ah, Srta. Fê...

Anônimo disse...

Correção *escritora* Fê.

Aliás, olha:
http://img100.imageshack.us/img100/630/musica3zq5.jpg

Fernanda de Alcântara Alencar disse...

Tóin, não entrou o link que você me mandou. =[ Manda de novo!