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quinta-feira, 17 de abril de 2014

soprar a cidade

Vai mudando de corpo, vai mudando de cor, vou fazendo aniversários, e não me engana não, esta espécie de diabo estará sempre me acompanhando. Ele gosta de mim, ou eu gosto dele. Se eu me entrego e admito que estou acompanhada, não acontece nada além de ficar parada numa praia fria. Se eu me escondo, eu corro, eu corro, eu fujo, mas as pessoas veem, de alguma forma vai aparecendo, sai pelos meus buracos, sai pelos orifícios, cai o meu cabelo e aparece minha cabeça, minha cabeça, meu olhar, nas denúncias das frases, e minhas fugas ficam cada vez mais explícitas e as indiretas exalam o cheiro e incomodam o humor desesperado pra que não vejam, pra que não vejam por favor! Por favor não vejam que eu abraço, coloco na mala e observo num vidro o meu grande fracasso. 
Eu achei, as vezes que era capaz de estar aprendendo a  lidar, mas os barcos chegam, os barcos, as gaivotas, e as conchas desse oceano...e trazem pra mim as milhões de agonias com brilhos de dúvidas e argumentos listrados me pressionando, me triscando, me dizendo porque é que ainda piso sem virar a esquina, porque é que continua, sem mover, dar tantas voltas, soprar a cidade na minha cabeça embaralhada. 


(Para a depressão, que as vezes até parece paixão mal resolvida)

despedaçando

Dá licença que eu tenho medo. 
Eu quero no instante mesmo, não quero esperar, mas quero planejar. 
Eu quero dormir, mas pra acordar.
Preciso construir, construir, construir. 
Só pra eu saber que não é simples, que não é sem graça, que o mundo é grande, que destino a gente muda, a vida é mudar, é trocar, e se indignar...e se indignar é universo! 
Tem paz, 
não tem paz, 
tem paz, 
não tem paz... haverá guerra amigo! 
Muitos vão morrer, eu posso escutar as manchetes que ainda nem saíram na TV
passam letras do jornal pelos meus olhos,
posso escutar o barulho das rosas na madeira do caixão,
e elas vão se despedaçando...como minha licença, com medo, no instante mesmo em que eu não posso esperar.