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quarta-feira, 1 de abril de 2009

Se acordar primeiro, me chama.


Chegávamos a tardezinha ou a noite. Descendo suas malas entre risos e planejações para o dia seguinte, eu olhava para o horizonte e não acreditava, eu estava ali de novo. Ia logo para aquela sala, a sala das escapulas. Lá, estendiam-se uma rede atrás da outra, cada uma de uma cor, de um pessoa, de um trauma.
A noite, depois de uma janta bem divertida entre um bando de gente bem família, balançávamos nas redes, deitávamos e conversávamos, é claro que com o tempo os adultos logo se cansavam e o Vovô pedia então que a luz fosse apagada. E nesse momento, nem vela, nem choro, nem nada se via.
Conversávamos ainda. Pediam nosso silêncio. Chiávamos. Roncavam. Riamos. Pediam nosso silêncio. Voltávamos a chiar. Sorriamos sufocado. Roncavam. A graça acabava depois que percebíamos que não conseguíamos dormir e dizíamos isso uns para outros como se alguém ali tivesse a solução.
"Se ficarem quietinhos vocês dormem, nessa bagunça ninguém descansa." dizia a vovó Dorinha com um lampião na mão como arma da missão de levar algum de nós ao banheiro, que aquelas horas era sombrio e escuro.
Na volta, uns já não respondiam mais as perguntas que outros não paravam de fazer. Era o primeiro sinal, e eu já concluía, dormiram. Sobravam sempre poucos, e eu então, era uma das últimas a fechar os olhos. Olhava para o teto, via pirâmides, e aprendi que o sono para uns é irresistível e para outros é difícil.
Ali, uns sonhavam, outros reclamavam, logo eu não ouviria mais nada. E se ouvisse, trataria de fingir que não ouvi, minha falta de sono não podia afetar os demais, eu tinha energia para o outro dia, enquanto a eles, eu já não sabia, pensando na harmonia que deveria haver no outro dia, os deixava dormir.
(...)
O silêncio entorpecia a sala. Uma hora, eu também dormiria.
De manhã, todos queriam ser acordados, era um aviso dado ainda a noite. Até pelos que mal dormiram. Ao contrário do sono, o sol era irresistível para todos.

(Mais uma das lembranças da Fazenda.)

2 comentários:

Marina de Alcântara Alencar, a Nina. disse...

ameeei! Eu era a primeira a dormir, e a primeira a acordar! ;D

Unknown disse...

Saudades , do tempo q vc me contava suas histórias !