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domingo, 12 de dezembro de 2021

minha carta

Só por hoje, eu quero me perdoar por ter sido tão dura comigo mesma. Não é fácil administrar uma mente adoecida. O importante é que eu cuido, eu enfrento... eu preciso me acolher e aceitar que possuo uma ótima qualidade de me pegar pelo braço, nem que seja aos prantos, e sair andando até encontrar soluções... além de ter a sorte de ter uma família muito bonita como rede de apoio, é claro. 
Quero também me perdoar porque acreditei que tudo tinha um jeito, que tudo se transformava, que eu tinha um poder de consertar as coisas e a sorte de caminhar junto numa jornada. Eu vi o brilho dos olhos do outro diminuindo, eu vi a falta de desejo saindo do meu quarto, o sorriso que não era mais o mesmo ao ver minha gente, meu cachorro. A falta de empolgação na fala. As inúmeras desculpas para se distanciar. Vi, tudo, mas estava cega do outro olho. Fiquei concentrada num medo do futuro... e perdi o presente. Não foi culpa minha, eu estava doente. 
Quero me pedir desculpas por ter achado que eu fosse segura o suficiente, por ter achado que ter certeza dos sentimentos me levaria a algum lugar. Nem sempre leva. E eu definitivamente não sou segura o quanto eu gostaria. Será uma batalha aprender. Quero muito entender porque eu tinha tanta necessidade de certezas tolas, porque ora tinha coragem, ora só enxergava o medo, porque tive pressa para algo que talvez nem precisasse de desespero. Não deveria ter carregado aquele peso... aquele peso era do outro. Cármico, e apenas do outro.
Me peço desculpas por eu ter me ferido esse ano, me criticado, me amaldiçoado naqueles meses. Minhas sombras se estenderam por mais tempo do que eu imaginava. Minha insegurança me fez pensar que não havia mais caminho para dar certo... minha visão de mundo ficou cinza, frágil. Eu me perdoou, porque eu não conseguia saber o que eu agora sou capaz de mastigar, digerir e ainda sentir que dói. E me perdoou ainda, por no fundo saber que eu estava amando de forma errada e mesmo assim não ter conseguido ouvir a voz interior da sabedoria. Me parece que em muitas dessas horas eu preferia deixar de ser adulta e virava uma criança que esperava que a voz do outro me dissesse como queria que as coisas fossem, que me mostrasse de forma corajosa e clara os seus limites, uma voz que não tivesse medo de dizer o que pensa porque sabia exatamente o que pensava, uma voz que não me prometesse declarações de amor prontas de novelas, mas construísse uma solução em cada conversa difícil e real que pudesse vir. A verdade é que essa voz não existia. Essa voz era a voz apenas das minhas necessidades e expectativas. Talvez, a voz que eu tinha ali ainda estivesse engatinhando, só sabia chorar, não soubesse se quer que poderia falar. Que tinha esse direito. Eu preciso me perdoar, porque eu fui crescendo meio torta nessa confusão, fui ficando perdida nos silêncios e deixei a porta aberta para fantasmas do passado me assombrarem. Não sei se fiz certo em querer sinalizar caminhos amigáveis e menos dolorosos também... talvez esse caminho nem seja possível... 
Por último e não menos importante quero me pedir desculpas por me sentir desesperada para que tudo passe de uma vez, por querer uma cura milagrosa, um amanhecer com tudo resolvido... talvez eu só precise de calma, distração, e não ordenar o desenrolar das coisas dentro de mim. 
Quem é que disse afinal que precisamos entender tudo?
Quero abraçar minhas dores. Lidar com isso, até que cada probleminha fique pequenininho e inofensivo. Até que quando eu menos esperar, eu já tenha caminhado bastante sem perceber e esteja lendo essa carta como uma velha lembrança.

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