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sábado, 18 de dezembro de 2021

Olhos tampados


Não posso te ver, 

achei por muitos dias que podia, 

quis muito,

mas agora eu entendi.

Não sara mais,

não me ajuda, 

não me cura,

não tranquiliza,

não me acolhe. 

Agora, é o meu espírito que faz um alerta de sobrevivência, e então a minha alma evita, e evitando vamos todos juntos: respirar direito. 

É tão estranho…

Evitar para não adoecer, 

para não regredir na escala do tempo,

para não desmaiar por dentro,

nem desanimar do caminho.

Meu círculo se renova e conheço pessoas que tu nunca mais vai conhecer também. 

Piso numa fogueira, sinto frio…

Talvez eu morra se eu te ver.

Agora, aparece em mim um sentimento de covardia, de fuga, sério demais.

Agora eu sinto medo de tudo desaparecer bem na minha frente.

Temo a invasão da certeza de que tudo não passa de um simples desencontro, como o de tantas pessoas por aí.  

Temo que não seja mais complexo, 

porque se não é complexo é comum, e se é comum não é especial, não é o principal. 

Estou errada e farta da dor, 

mas ainda insisto que seja verdadeiro, espiritual…

Meus olhos se iludiram?

Meu corpo mentiu? 

Eu não quero ver a rejeição me mandando beijos. 

Não estou pronta, e talvez, talvez eu esteja prolongando as coisas para não praticar o desapego, para não destruir a beleza da história em fatos reais.

Te seguro de mentirinha, em segredo, e com vergonha do que vão pensar de mim. 

O que vão pensar de mim quando o tempo não for capaz de fazer o seu papel?!

Me seguro em tolas esperanças inventadas.

De onde vem essas esperanças se ninguém me deu ? 

Cresço e me torno expansiva sem que eu queira… enxergo um pouco da liberdade. 

Não sei se lá estou feliz, mas acredito que já seja tudo aceitável. 

Te escondo rapidamente no ronco do meu estômago e por todo meu esôfago.

Tento te segurar em lembranças que estou esquecendo, em lembranças que estou perdendo… 

E então eu me vejo desesperada correndo até uma porta, e eu te seguro mais uma vez num abraço apertado.

Esse abraço, eu tenho certeza que aconteceu mais de 500 vezes.

Vou os revivendo. 

São abraços de despedidas, 

abraços com cheiro e cabelo, 

abraços com preces para que não aja nada pelo caminho, 

abraços que deixavam claro o quanto era difícil se separar, 

abraços que eu não posso ter inventado da minha cabeça. 

E cada vez que tu me solta, 

eu te abraço de novo 

e percebo nessa movimentação infinita de que estou no inferno. 

Onde tudo é eterno, onde tudo se repete e repete mais uma vez. 

Ficamos ali se soltando e se abraçando por horas, dias e meses…

Talvez, eu devesse olhar para o lado onde a grama verde vive e plantar coragem. 

Mas… Onde encontro sementes desse jeito? 

Tenho certeza que estão em algum lugar, eu as vi ainda agorinha, até bem pouco tempo…

Que frutos eu quero colher? 

Que raízes eu necessito fincar? 

São perguntas para se pensar…

São perguntas que ainda vou responder.

Não sei que horas, me parece que não é bem agora, mas uma hora esse abraço há de parar e dali alcançarei o paraíso. 

Onde nada é de mentirinha

Onde tudo é lembrado de forma simples

Onde posso ter olhos para ver. 

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