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sexta-feira, 7 de outubro de 2011

minutos desvairados

Flor,

se acordares desanimada, vista-se com o que te deixe aparentemente bem atraente, meu guarda roupa fica no quarto ao lado. Te falo isso pra que sua beleza não seja julgada, nem os ânimos prejudicados pela prepotência de sua alma. Se dormires de novo aos prantos,  desligue a luz  em silêncio e pense em acordar descansada...tenha consciência! Se comer demais desses biscoitos do pote de mágoas, sua barriga vai doer pra sempre.  E ao escovar os dentes passe o fio dental com menos força, pra não sentir o gosto de sangue na boca. Eu vi no lixeiro... os fios ensanguentados. As chaves estão do lado de fora da casa, dentro do vaso das flores que só se abrem as onze horas. Tem cigarro na terceira gaveta, lápis e papel na segunda, mas não tem apontador, então pegue a caneta na prateleira da cozinha. E devolva para o mesmo lugar, porque é a única caneta que ainda não me foi roubada e eu preciso dela quase sempre quando estou em casa. Ah! Deixei sua blusa na costureira ao lado, havia um pequeno buraco por cima do botão xadrez, que eu acho que deveria ser remendado...mesmo sendo tão velha, me parece um tanto confortável.  Dê comida aos peixes, e repare se o amarelo não anda comendo a bolinha -comida- do azul, estou desconfiada de que estão prestes a morrer, um de gula o outro de fome, sabia que deveria ter comprado arquários separados. Tranque a casa flor,  e pare de se sentir culpada por estar infeliz algumas vezes sem ter acontecido nada, as vezes a gente não tem culpa  desses minutos desvairados de entrega e  fraquejo, pense pelo lado positivo, muitas vezes são esses momentos que mais servem de inspiração. Ao sair de casa pare de se lamentar por um instante e dê uma olhada na calçada, a vira lata da vizinha costuma carregar lixo para meu portão não sei porquê, como eu ia dizendo, pare de se lamentar e lembre-se ao sair de casa que a maior certeza da vida sempre será a inconstante indagação...e se aproveite de você mesma mulher! Que seu drama é caro e raro e é preciso descontá-lo em algo produtivo, frutífero, amoroso, e com menos colheres de sal, como aquele bife acebolado que fritou pra mim quinta passada, enfim...com menos colheres de sal pra não arder os olhos quando fechar a boca pra sentir o gosto.

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