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sexta-feira, 28 de outubro de 2011

cospir um escorpião com você.

Era meio dia, tinha um monte de coisas pra fazer, e a hora estava passando rápido demais. Foi quando recebi uma mensagem de um número estranho: 
Oi Nanda. Como vai? Será que um dia você poderia me dizer todas as coisas que eu te fiz que te deixou tão magoada comigo?
Fiquei pensando quem em plena quinta-feira, ao meio dia, se importaria tanto com minhas mágoas que não eu mesma. Dei um sorriso sem acreditar, e li de novo pra reforçar. Fiquei pensando em quem poderia ser, mas depois me perguntei se eu tinha mágoa, então tive dúvidas se não era engano. Mas ai  eu lembrei! Lembrei que realmente alguém gostava de me chamar de Nanda. E que sempre fazia questão de tirar o Fer. E soava tão íntimo, tão amigável, tão curto, tão...único...que eu acho que só você (tirando os membros da minha família) me chamava de Nanda me fazendo me sentir tão importante. Acho que eu adoro isso, e nem sabia, acho que toda vez que você cita meu nome eu me transformo em uma Nanda que nem eu sei quem é. Acho que fico até menos cruel, menos forte, menos mulher, acho que depois de um minuto minha memória te trouxe, e eu acertei quem podia ser. Mesmo assim, podia não ser você, faz tanto tempo, passou tanto tempo, mas e se fosse?
Quem é?
Ai eu torci. Torci pra você não responder rápido, pra eu ir pensando em inventar alguma mágoa, inventar alguma raiva, inventar algum desleixo, já que agora estava se importando. Mas eu não sinto mais nada  disso por você, eu pensei que você nem existia mais. Acho que a última vez que insiti  na nossa amizade foi  aquela última triste vez que viajou sem se despedir de mim com a desculpa de que odiava despedidas. Eu chorei tanto aquele dia, você sempre foi surpreendente, ne? 
Nunca mais tive tantas crises de riso como as que tive contigo, e eu também...enfim, 
Oi, estou bem. Bom levei um susto agora, não lembro muito bem os detalhes mas acho que fiquei chateada pela falta de atenção repetidas vezes, dai cai na real e parei de insistir. Mas  o que aconteceu? Você ta bem?
E começamos com um jogo cínico de perguntas e respostas discutindo a tal da mágoa, que eu nem sabia qual era ainda, mas você tinha certeza que ela era minha. Tinha me esquecido como você sabe lidar comigo, como não cai no meu jogo de palavras e persuasão, como é difícil te manipular, como você me faz sempre pensar duas vezes antes de responder, como eu prefiro ser rápida pra te responder, como a gente joga e se provoca em mensagens enormes que mais parece uma dissertação. E você, pareceu estar solitária, mas bem mais inteligente, e eu não vou mentir que menti quando disse que não te conhecia mais e estava bom assim.  Porque eu fiquei curiosa, eu não tenho raiva de você, não sinto mais tanta saudade também, porém não vou mentir que eu adoro ver que você tem os mesmos defeitos que eu, que você é quase igualzinha a mim, que você, como eu, também gosta de cospir  um escorpião, depois de comer um sapo, muito bem cospido. 
Então, se essas coisas não te atingem mais...posso pedir desculpa e seguir minha vida e bola pra frente?
Pode. Vou fazer meu relatório, talvez tenha sido desnecessário, enfim...boa noite.
Confesso que fiquei curiosa sobre quem você podia ser agora, quase perguntei relatório de quê, mas ai achei que era bobagem. Pensei que seu dia de parecer calejada nunca chegaria. 
Olha, você parece que está mais interessante, mais inteligente, mais forte, menos vítima, mas pode ser impressão minha...talvez o que me chamou atenção mesmo foi essa capacidade espontânea que tinha quando te conheci, mas que você havia perdido durante todos os outros anos...e que sutilmente voltou ao meio dia desta quinta feira: Me enfrentar.

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