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domingo, 25 de janeiro de 2009

Incomodada pela lebrança de um cômodo .

Sem o computador, aquele dia, reparei melhor as tralhas do escritório. Quantos escritores, cantores e atores vivem ali, por tanto tempo. E reparando tudo, vi aqueles dois inseparáveis. Aqueles dois pretinhos, iguais, irmãos e parados como sempre, portas CDs. Vi, depois de tanto anos sem tê-los vistos ou me perguntado aonde foram parar. Os dois, tão imperceptíveis no meio de tantos livros e filmes. Costumavam, ser recheados de CDs, mas ali, empoeirados, escondidos e com tão poucos CDs encaixados e ainda de qualquer maneira, chegava a dar dó. Sem contar com os arranhões.
Lembrei-me então daquela, quase esquecida, sala de música que existia.
A sala de música que portava duas poltronas, um quadro de paisagem no meio das duas e uma janela na frente, do lado o som e aqueles dois portas CDs, num ponto de vista muito mais alegre, cheio de CDs do primeiro ao último buraco, encaixados em fileira, todos ainda dentro das capas, e alguns que pareciam ser intactos de tanto zelo.
Quase todos os dias eu ficava ali, naquela sala de música, relembrando conversas ou pessoas. Me transportando para a paisagem daquele quadro colorido, ouvindo alguns CDs ou imaginando o que aqueles móveis e objetos conversavam quando eu estava e quando eu saia de lá. Nunca me senti só naquela sala.
Talvez, o que eu mais me perguntasse fosse o porquê de tantos CDs ali, já que meus pais quase nunca os ouvia. Só vi eles serem rodados por mim e em algumas festas que a casa tinha.
"Será que antes do meu nascimento eles ouviam esses CDs?" me perguntava.
"Meu pai teria comprado todos aqueles CDs por amor a música?"," Teria meus pais um dia, sido grandes ouvintes de música?", "Como eles perderam o gosto pela música?", "Como eles conseguiram passar tantos dias dentro de casa sem ouvir aquele tesouro?"
Eu era praticamente a única a frequentar aquela sala de música, a ralar alguns CDs por ali, a usar aquele velho som.
Sentar na poltrona e ficar ali sozinha com aqueles objetos e os CDs, me deixava com uma felicidade bastante desconhecida.

Transformava às vezes (brincando), a sala de música em um programa de TV. Eu era a apresentadora, também era os expectadores, os telespectadores e até os câmeras. Eu era o que eu quisesse ser! E com música, anunciava minha entrada, meu programa, os intervalos, as brincadeiras e o fim dele.
Era como se fosse minha obrigação acordar todos os dias e saber que à tarde eu deveria ir vê-la. Visitar aquela sala de música.

Crianças, mexem em tudo e um novo membro nasceu na família. Os CDs então, foram empacotados, todos retirados um a um dos dois portas CDs. Quando estavam sendo guardados, percebi (mas não comentei), que jamais os ouviria outra vez.
Todos os CDs foram botados em caixas de sapato, encheram-se muitas e muitas caixas com eles. Com o tempo eu até poderia ouvi-los novamente em algum lugar, mas jamais seria a mesma coisa. O som perdeu seu lugar, os CDs perderam suas presenças, as poltronas não estavam mais lá e o quadro também foi empacotado e enfiado em algum lugar. Acabou-se a sala de música. Rompeu-se ali uma felicidade desconhecida que me fazia esquecer que eu era medrosa ou que cresceria um dia. A presença daqueles objetos na posição onde estavam e como conversavam (rs) deixaram a lembrança de tardes diferentes e que talvez jamais voltem para mim.
Ninguém lembrou de repor os CDs nos portas CDs novamente e eu já esperava isso. Fazia sentido, afinal de contas eu dava vida a sala.
Logo, a sala música foi quebrada e transformada em mais um quarto. A casa passou a ser então, como sempre foi para os outros membros da família, a mim. Uma casa, só.

Pude ver nos portas CDs, aqueles dois, parados como sempre, quantos anos passaram sem entender o porquê de eu ter desistido deles.
Chego a pensar, de vez em quando, que a culpa de eu ter conhecido tardes de tédio, foi da sala de música. Descubri agora, o quanto senti sua falta e não falei nada porque era... um cômodo, um cômodo de casa.

5 comentários:

Anônimo disse...

Uh, eu tb relembrei aquele quarto a partir da leitura desse seu texto.Imprescionante como vc lembra dos detalhes heim, pois já faz tanto tempo né? Parabéns, seus textos são muito bons.Saudades,Bjus
Tia Val....

Marina de Alcântara Alencar, a Nina. disse...

Huum Elizaaabeth... (8)
huauuhuhahua

Augusto Rosa Leite disse...

Nostalgia diria,

lembranças de lugares que jamais voltam, o mesmo acontece para mim com casas, apartamentos, não são mais os mesmo até a cidade...

Anônimo disse...

eu vou parar de comentar aqui. Seus textos me deixam sem palavras!

quando publicar um livro, já sabe quem vai comprar o primeiro né? ;D

:**

********* disse...

eh tbm tenho lembranças não so de comodos como pessoas e animais.(a lembrança de pessoas são as mais frequentes)

p.s: todo dia dou uma olhada no seu blog para ver seus textos

dar uma olhada no meu

http://sonhoseeu.blogspot.com

bjins