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Mostrando postagens de outubro, 2011

atirar uma flor

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Pra provar que eu não era mais a mesma eu dirigi até a farmácia. Era um domingo ensolarado mas ao mesmo tempo bastante sombrio, pois não tinha ninguém na rua.  Por um minuto pensei que o sábado talvez tivesse sido bom pra todos, depois que o sinal mudou de cor, mudei de ideia, talvez pudesse ter sido ruim e a cidade inteira estava morta... e vai saber se só eu ainda que não sabia.  Ai eu desci do carro, foi difícil encontrar uma farmácia aberta. O engraçado é que eu não procurava por remédio. Era apenas crédito para telefonar, na verdade pra mandar mensagem, admito que sou viciada nesses textinhos curtos que me aparecem como cartinhas rápidas na tela. Voltei para o carro, a chave estava nele, sorte minha que a cidade estava morta. Que desatenta! Eu seria capaz de perder um carro tão fácil assim? E ai uma cartinha chegou quando o sinal ficou verde. Você de novo? "Do nada me vi pensando nas coisas que você me disse e eu queria que você me falasse o motivo." Santa paciência, ess...

cospir um escorpião com você.

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Era meio dia, tinha um monte de coisas pra fazer, e a hora estava passando rápido demais. Foi quando recebi uma mensagem de um número estranho:  Oi Nanda. Como vai? Será que um dia você poderia me dizer todas as coisas que eu te fiz que te deixou tão magoada comigo? Fiquei pensando quem em plena quinta-feira, ao meio dia, se importaria tanto com minhas mágoas que não eu mesma. Dei um sorriso sem acreditar, e li de novo pra reforçar. Fiquei pensando em quem poderia ser, mas depois me perguntei se eu tinha mágoa, então tive dúvidas se não era engano. Mas ai  eu lembrei! Lembrei que realmente alguém gostava de me chamar de Nanda. E que sempre fazia questão de tirar o Fer. E soava tão íntimo, tão amigável, tão curto, tão...único...que eu acho que só você (tirando os membros da minha família) me chamava de Nanda me fazendo me sentir tão importante. Acho que eu adoro isso, e nem sabia, acho que toda vez que você cita meu nome eu me transformo em uma Nanda que nem eu sei quem é. Acho...

Armadura quando cai.

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Andava feito um cavalheiro medieval. Podia escutar todos os ferros se movimentarem junto com seu corpo. E suportava todo o peso da armadura ao se levantar, porque nunca soube como era estar sem ela. E tinha medo do desconhecido. Tinha medo das feridas. Estava protegido vestido daquele jeito, estava imune. Um dia alguém lhe ofereceu a ideia de se livrar aos poucos de cada peça, Não lembro qual proposta lhe fez, mas lembro que não concordou, e mesmo assim foi retirando ferro por ferro, sem perceber. Estava com medo, alegre, com medo, leve, com medo, infestado pela liberdade... mas talvez, deveria ter deixado o capacete por mais alguns minutos, porque um dia quase perdeu a cabeça. Quando a armadura caiu toda no chão, foi aquele barulhão! E não demorou muito pra se arranhar pela primeira vez. Doeu. Pinicou. Ardeu. Queimou. Esfriou. Derramou. Sangrou...até que cicatrizou. Armadura quando cai, não pesa mais. Fez o seu melhor, crescemos e então... não serve mais. A não ser ...

mil corações

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Bate feito um relógio sem tempo,  uma bomba sem tempo,  uma mão no tambor,  no pandeiro,  no ritmo de uma vida que ainda está cheia de corda pra ser feliz. Dispara por lembranças que pertecem mais ao corpo, do que a alma.  Bate  em batidas que não são mais em ritmo de tiros.  E sim como passos,  de alguém que chega discretamente num velório, lembrando do morto.  Dispara diferenciando saudade de vício. Porque uma coisa é lembrar e sentir, outra coisa melhor ainda é sentir primeiro, lembrar só depois e aí sim...in-sis-tir. Bate tão forte, tão grande, tão forte, tão grande! Que entrega o próprio corpo, a essência que domina, e descontrola todo o organismo, numa falsa garantia. Dispara, tipo matando o que me matava. Bate assim,  sossegado  e ansioso por uma nova flor,  pelo primeiro beijo,  por  alguém que valha a pena chamar de meu amor. Dispara ao final da tarde, quando o sol resolve que já deu, esperando...

Um estranho na vidraça

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Terça-feria  amanhece, a casa está pronta e arrumada como sempre, entretanto, ao dar bom dia ao dia, percebe que a entrada da casa está com o jardim mais florido, a grama mais verde, e abelhas e borboletas passeiam pelas flores da entrada da casa, como se fossem as mais importantes da rua.  Dessa vez, mesmo  que tudo esteja acontecendo como sempre, há um sentimento bonito e desconhecido na calçada. Arregala os olhos, se não confia espera que ele aperte a capainha. Pergunta quem é, e fica conversando com  a porta fechada de empecilho, até se sentir mais a vontade e abrir a porta um pouquinho.  Um pouquinho porque não quer que o sentimento estranho veja a casa por dentro, e conversando mais de pertinho, ainda que meio se escondendo junto ao fundo da casa,  vai bem devagarzinho ganhando confiança, e vendo o que aquele sentimento pode contar e oferecer. Mesmo assim, não confia por inteiro, então pede que volte outro dia, e o engraçado é que não espera por isso....

Meu anjo é de chocolate

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Eu tenho um anjo de chocolate aqui na terra. Ele, já me resgatou centenas de vezes, com suas palavras de compreensão ou na simples vontade de querer me entender e salvar a qualquer custo. Sabemos que alguém é um anjo em nossas vidas, quando muitas vezes, percebemos que o nosso desespero também passa a ser desespero dele, quando nossa dor passa a feri-lo sem querer, quando o nosso amor e  nossas alegrias  passam a contagiá-lo desgarradamente. Sabemos que conquistamos uma bela companhia quando a mesma usa de argumentos racionais pra te convencer de algo que esteja cismada. Um anjo sabe que naquela hora você não vai conseguir- e nem querer- escutar outra coisa. E me é até cômico  como de certa forma, eu e o anjo não nos damos conta desse jogo de persuasão e manipulação naquela hora, exatamente. Outras vezes, temos o prazer de dizer  que tivemos sorte em encontrar uma das companhias mais raras desse mundo, que é a companhia sábia.  Sabe? Um anjo diferentemente das o...

A melhor espiã da cidade

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Doze de outubro era uma data que me tirava da cama cedo. Era feriado, um dia antes eu já teria contado em cima da minha bicicleta, pra rua inteira, que no dia seguinte seria o dia mais feliz da vida porque não haveria aula! Porque eu provavelmente iria passear pela cidade percebendo as lojas de brinquedos lotadas de gente, e haveria de fazer alguma coisa boa, comer muita coisa boa, e sorrir de muita coisa boa.  Eu também, provavelmente já teria recebido um telefonema do Anderson, meu querido primo, combinaríamos algum horário pra salvar o mundo do mal, e provavelmente teríamos alguma ideia nova na cabeça pra nossa empresa de espionagem. É que tinhamos uma, apesar de bem jovens. E particulamente, administrávamos bem...treinávamos memória, passos de karatê, e alguns jogos que ele tinha. Fico pensando como é que naquela época eu sabia exatamente do que gostava, quem eu era (a melhor espiã da cidade) e ainda trabalhava num lugar que eu gostava com uma pessoa querida. Como é bom ter sid...

Uma carta de amor para o destinatário certo

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Entre todas as linhas secretas, do amor que eu nunca dei por completo,  não quero perder a enorme vontade de escrever cartas de amor. Declaração... essa vontade enorme será escondida na última porta de meu coração, pra que eu não perca a capacidade de transcrever os mais belos sintomas de harmonia  com meus sentimentos, por qualquer razão.  Alguém há de merecer meus votos escritos de ardor, e  leremos juntos em pequiniques românticos, debaixo de árvores, renovando promessas e costurando sonhos, sem  nenhum medo do amanhã, porque estaremos juntos.  Não quero que a idade venha permitindo sentir vergonha e tormento na hora de enviar. Ridiculo seria esconder meus sentimentos, brincar com eles num jogo ou negá-los pensando num doer mais pouco .  Independentes e livres, as cartas serão escritas sem busca de respostas,  sem busca de acordos.   Serão papéis de puro sentimento, para serem entregues, e isso quer dizer muito além do literalmente....

olhou para os pés

era um jardim de flores coloridas; não sabia disso exatamente; não sabia porque olhava pra baixo; para os  pés; estavam aparentemente delicados e irritados; era visível a aparência da grama seca e amarela queimada em que pisava; estava descalça, por dois meros segundos teve dúvidas se também não estava nua; mas concentrada nos pés, mexeu os dedões; parecia fazer parte de uma auto afirmação; aqueles pés eram realmente seus? Então deu um passo; sentiu a cabeça erguendo-se; olhava pra frente; e viu que estava mesmo num jardim de flores coloridas; respirou aliviada; aliviada pelo fato de que olhar para os pés  não havia descartado a hipótese do começo; sabia exatamente onde estava; Sentiu um delicioso odor; imaginou ser alguma fruta doce; mas não reconhecia qual; havia árvores frutíferas? De repente um punhado de borboletas brancas passaram por seus braços; e ao ver os braços também deu pra ver que não estava nua;  naquele instante que olhou de onde elas vinham para onde ia...

minutos desvairados

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Flor, se acordares desanimada, vista-se com o que te deixe aparentemente bem atraente, meu guarda roupa fica no quarto ao lado. Te falo isso pra que sua beleza não seja julgada, nem os ânimos prejudicados pela prepotência de sua alma. Se dormires de novo aos prantos,  desligue a luz  em silêncio e pense em acordar descansada...tenha consciência! Se comer demais desses biscoitos do pote de mágoas, sua barriga vai doer pra sempre.  E ao escovar os dentes passe o fio dental com menos força, pra não sentir o gosto de sangue na boca. Eu vi no lixeiro... os fios ensanguentados. As chaves estão do lado de fora da casa, dentro do vaso das flores que só se abrem as onze horas. Tem cigarro na terceira gaveta, lápis e papel na segunda, mas não tem apontador, então pegue a caneta na prateleira da cozinha. E devolva para o mesmo lugar, porque é a única caneta que ainda não me foi roubada e eu preciso dela quase sempre quando estou em casa. Ah! Deixei sua blusa na costureira ao lado, ...

16 anos

Saudade daquele tempo...que as ondas do mar me traziam sonhos ingenuos, que as viagens renovavam os dias de uma vez, que as lembranças eram simplesmente urgentes!