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segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Um realizado sonho.

Os sapatos eram cansados, foram cansados desde o dia em que foram comprados, contudo seria mesmo muito injusto amargarem, pois os passeios de Judite muito os compensava. Afinal, nem todo sapato passeia todo dia.
Era sempre a mesma rotina, um vestido pendurado, som ligado, e os sapatos nos pés para uma caminhada.
Judite era uma gracinha, rechonchuda, ancas largas, barriguda e parecia engraçada. Acreditava que se não fosse gorda seria burra, porque como ela mesmo sempre dizia "No colegial se aprende que precisamos ser bons em algo, os bonitos não precisam disso."
Por mais que exista exceção, ela tinha até um pouco de razão, gente bonita desde o início, se acostuma a não demonstrar muito conteúdo.
As caminhadas eram longas e inexatas, ela podia andar da esquina até a árvore, comprar um livro e ir ao hospital ou analisar o cartaz do cinema e depois passar na costureira.
Judite, sendo gorda aprendeu a associar fatos com filosofia. Por exemplo: Comer é gostoso, disso concluía uma metáfora para sua vida: "Nem tudo que é bom faz bem." Secretamente não se importava em ser gorda, mas como a sociedade se importava muito e ela não tinha paciência para ir contra aquela grande maioria esmagadora, deu a desculpa do "quase não como nada e engordo em tudo."
Descobriu ainda na infância o quanto gostava de coisas grandes. Livros grandes, casas grandes, bolos grandes e pessoas de grandes personalidades e grandes corações. Lembrou-se de como sonhava em ser grande e não sabia como começar.
De súbito, parou para ver o horizonte no fim da rua, abriu um pacote de bolacha recheada e lembrou-se daquele dia longe...quando sua mãe ainda era grande e o médico dizia: "Sua filha está obesa, assim você vai ficar grande menina, vamos cuidar disso?" e feliz jamais parou de engordar.

Um comentário:

Elisa disse...

.. Lindo! Judite é mesmo uma gracinha e vc também!!Te amo!

Elisa