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quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Rua Anchieta, setor noroeste.



Essa rua sempre será de lembranças, foi aqui que eu vivi e aqui que eu senti meu mundo. Eu adoro essa rua, de pedras tão chutadas e asfalto bombado que já vi, ainda quando era barro. Cada casa ao meu redor, modificada, inusitada. Bar que já virou restaurante, que já virou galpão, que já virou escola, que por fim decidiu ser farmácia, Silva. Árvores que foram ursupadas por calçadas, crianças que foram ursupadas por seus próprios adolescentes e novos bebês que logo serão ursupados por suas próprias crianças. Eu amo essa rua, tantas vezes desejada em dias longos e estressantes... "chega logo minha rua! chega logo minha rua!". Rua amiga da minha casa, foram tantos anos, tantas viradas na mesma esquina, tantos joelhos ralados pelo mesmo "quente cinza". Com loucos originais, velhas caducas, moleques sujos e donos de bola, com suas bolas em alheios quintais, tantas vezes espiados pelo vizinho do lado, ou mesmo roubados, as mangas das magueiras. Gritaria, música alta, orações fervorosas, brigas e choros, cada vizinho desabafa em casa, e cada muro transmite para a rua. Tantas xícaras de açúcar passadas de lá para cá, colheres de manteiga e creio que os oferecimentos de café serão eternos.

Lembro que nos dias sem energia, deixávamos as casas e nos rendiamos a rua. Aí era só estória lembrada, um tico de filosofia despercebida e saudade, muita saudade contada. Nessa conversa toda não tinha trilha sonora, mas tinha perfume! Perfume das laranjas descascadas e destribuídas pelo Tio Riba, que não é Tio, mas é compadre e para sempre vizinho da frente. Depois virou padrinho de Eduardo, meu irmão, amarrando assim os laços na prática. Tia Nilva, mulher dele e também madrinha, sempre a gargalhar alto e espontâneamente, uma risada contagiosa, quando não, fica a dizer um simples: "Ô ribamá! Te aquieta!". Ficávamos na nossa calçada, todos em cadeiras de macarrão, que de macarrão mesmo não tem nada! Mamãe relembrava sua chegada com Tia Nilva, Papai comentava política com Tio Riba, Ualassi e Ueslei ,filhos dos compadres, riam das abobrinhas que Nina contava, e eu quietinha cuspindo sementes de laranja na rua me perguntava, "O que a Lua fez para ter essa mancha?"

Todos nós na calçada, no meio da escuridão, assistindo o céu, na expectativa da resurreição da luz, ouvindo saudade, cuspindo semente, no perfume das laranjas. Com o tempo, pensei alto, "O que a Lua fez para ter essa mancha?", e papai me respondeu que aquilo não era mancha, era um dragão... de um tal de Jorge.

2 comentários:

Elisa disse...

..Bons tempos hein Nanda!

bj
Te amo

Anônimo disse...

essa rua nos diz tanto
os melhores quer dizer todos os momentos vivi aqui
bj