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Mostrando postagens de 2019

sair de um lugar

De repente percebi que estou perdida. Admiti, depois de muito insistir que estava feliz e tudo bem e fiquei triste. Triste, triste e tão triste que minha cabeça doeu de tanta tristeza. E vez ou outra ela volta a doer pra tristeza ficar e passar mais um pouco. Então, me lembro de quando os sonhos eram maiores, dispersos, confusos, mas eram sonhos, sonhos até o fim. Quando eu era mais jovem ter decisões fanáticas era fantástico. Me lembro também como sempre tive tempo, mas nunca soube usá-lo. Como sempre fui profunda, mas nunca consegui não me afogar nas coisas, nas pessoas, nas minhas escolhas certas e erradas. Ninguém me vê. Nem eu mesma... sou matéria, mas a maioria das vezes esqueço perdida no meu invisível, no meu ego, na minha mente que todo dia descubro ser o diabo. Criaram-me salgada. Não sou uma mulher doce, carinhosa. Salgo por onde passo. Me repugnam. Tampam a panela. Nunca quiseram me comer com as mãos. Acordo procurando respostas que eu não sei direito. E os bares pe

mal comida

Ficou com aquele cheiro de pau no corpo até o dia seguinte, mesmo tomando um banho. Tomou banho esfregando e pensando " não sai, essa porra! ". Na verdade é que não foi bom. E quando não era bom, mais do que a lembrança, ela tinha a sensação de que estava com ele. Era sempre assim quando era bom e quando não era bom. Ainda tinha aquela mania estranha de achar que um pedaço invisível da pessoa acabou vindo com ela como sombra.  Também não sabia dizer que tinha sido péssimo. Nem pra si mesma, nem pra ele. É que havia muito tempo que não fazia. Era pra ter sido bom, pra ser comemorado, pra ser contado para as amigas mais próximas. Talvez, pudesse ter sido até um possível namorado. Mas, não.  Apesar da beleza, do perfume, da altura... pareceu por um momento valer a pena ir ao encontro.  Há sexos e sexos, e para a surpresa dela, não se sentiu nem gostosa, como antes se sentirá com caras não tão bonitos. Já havia tido sexos não excelentes, sexos sem amor,  interrompidos, que d

Vestido rosê

Viu um belo corpo de costas e lembrou dela, mas como a dona do corpo bebia uma cerveja não imaginava que fosse. A dona do corpo teria muitos problemas se bebesse. Mas, uma balançada de cabelo ali e outra aculá , não é que era ela? Ela cresceu. Ainda que  com certeza, estivesse bebendo escondida da mãe.  Quando se virou, um moço que a acompanhava estava em pé muito apaixonado. Não foi preciso ele falar, era nítido. O moço passou a mão no cabelo dela carinhosamente. Eram lisos e sedosos desde criança. Os cílios dele piscavam lentos e submissos para a beleza dela. E a medida que ela falava, os olhos dele olhavam para a boca dela. Um homem domado, certamente. Há quem goste muito de homens. São mais simples e previsíveis quando apaixonados. São aquilo ali mesmo e pronto. São homens... Esse não era feio, era até charmoso. Parecia ser conhecido pela turma, era uma mesa de pessoas que queriam chamar atenção dos dois. Pareciam ser fãs do casal. Pelos boatos da cidade, um garanhão. Talvez um

Meu lugar

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Com tudo quebrado, fui passando pela casa e ouvindo os fantasmas conversarem. Me lembraram de uma época que dava quentinho no coração. Minha irmã e eu dormíamos na cama de casal com papai e mamãe. Anos 90.  Depois ganhamos dois colchões de solteiro. Eram azuis, feios e com uma estampa de planetas. Era mais legal dormir com eles, do que ficar sozinha no espaço. Então dormíamos inicialmente naquela galáxia, mas de madrugada corríamos pra cama deles.  Passeando pela quebradeira da casa, também lembrei das árvores que já existiram nessa casa. Houve uma época que tinha várias no corredor da mangueira, deixavam a casa escura. Lembro dos meus pés pequenininhos pisando nas raizes e desequilibrando-se de manhã cedinho. E de uma frutinha do tamanho de uma ervilha que a árvore deixava sempre no chão e eu gostava de abrir pois pareciam bolinhas com tampas. Nina jogou o almoço fora ali uma vez, pra trapacear e comer coisas doces sem a refeição.  Também teve plantas na frente que eu p

Medo de mim

Tenho medo de quem sou quando amo. Perder o controle é um caminho desconhecido. Mas o que é o amor se não uma dádiva que se lança sem saber quando volta inteira?  Tenho medo de te machucar... Quantos erros eu já cometi? Ganhar no controle, ir pelo caminho mais previsível a ferro e fogo... Mas o que é o desejo se não uma entrega sem saber em qual endereço vai parar?  Tenho medo de mim, medo de ti, medo de tudo se estabanar. Medo dos meus inimigos terem razão. Medo de nos perdermos pelo caminho para sempre e nunca mais nos dirigirmos a palavra. Medo do poder e dos jogos. Medo de perder o brilho dos olhos e viver aquela inquietude na alma. Tenho medo sabe? De escutar uma música um dia e lembrar de ti aos prantos. Da alegria nunca mais voltar. Do sono chegar e eu acordar. De seres mais um amor desses que veio e se foi. De seres mais uma que fica apenas dentro da minha lembrança. De eu querer comprar uma máquina do esquecimento outra vez e ela não existir no mercado. Medo do barul

Os boatos no colégio diziam que ele tinha um beijo apaixonante

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No primeiro semestre do meu curso de Jornalismo, Allan Barbiero, meu professor de sociologia falou sobre um livro que falava sobre suicídio e havia sido proibido . "Por que?", eu perguntei. "As pessoas simplesmente se matavam depois de ler o conteúdo". Fiquei dias pensativa. Era o que eu mais fazia quando entrei na universidade. Minhas notas também eram bem melhores do que no ensino médio.  Hoje acordei com uma música na cabeça do tempo do terceirão... a voz de um menino terrível em sala de aula, o  que eu me lembro dele era que ele tirava notas baixas. Mas eu também tirava.  Ele parecia que tirava notas baixas por ter o intelecto menos desenvolvido. Eu por falta de concentração, esforço e autoestima. Como eu era desacreditava de mim na adolescência... O menino se auto denominava burro. Eu não me considerava burra apesar de estar quase sempre no mesmo patamar que ele. Ele estava sempre de recuperação, eu também. Em alguma matéria de exatas. Ele gostava muit

Um dia espero ser mulher pra sempre.

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Uma frase pervertida, a olhada maldosa, os porcos no cio. Que eles não possam definir o quão grande você pode ser. Quem precisa de limite são eles. Sua grandeza não. Ir a um lugar. Sozinha. Na rua. É desde criança que se aprende a correr de “velhos sebosos”, dos “moleques de rua salientes”, dos “malucos com a pinta pra fora”, dos “bêbados impertinentes”. Você e sua irmã. Aprende-se cedo a fazer o plano de fuga e prestar atenção pra enxergar as saídas. Só depois é que fica óbvio que está em outros lugares. Nas festas, no trabalho e pro azar de algumas mulheres até dentro da própria família. Muitos porcos se sentem no direito de puxar seu cabelo, seu braço, apelidar, querer sua atenção com uma intenção, amaldiçoa-la caso se recuse a responder. Quando ficamos conscientes de que a liberdade de ir e vir não é TÃO nossa, é meio frustrante... “Sou minha mesmo?”. O mundo podia ser um lugar que jogasse mais limpo conosco, mas ainda não é. E há quem chore ser apenas elogio, proteção, pra não

Emoções

L á vai eu meter a mão na cara, entrar no ringue, pegar no microfone, aumentar meu tom de voz, tirar os sapatos, afastar as mangas da camisa, amarrar o cabelo, borrar a maquiagem, apontar o dedo, levantar as calças, deixar que as emoções falem mais alto!  Cansado... lá vai o tempo perdido, a consequência do impulso fazendo uma visita, o pensar voltando apressado depois de agir duas vezes, o calçar dos sapatos com os pés já sujos, o desamarro do cabelo, o vento libertando os fios, o ajustamento das mangas da camisa, a cor do batom de volta aos lábios profanos e amaldiçoados, e as palavras, ah! As palavras... todas as palavras que não voltam mais depois que foram ditas. Ali era eu, ali eram elas.  Quem as controla sou eu?  Ou quem me controla são elas? Quiçá, foi a falta de uns remédios ou talvez bati a cabeça quando era menor. Vai saber se não foi um ocorrido não superado lá atrás que desencadeou todas elas bem aqui na minha frente. Quem sabe um laudo médico seja mais preciso

Não queria ter bola de cristal

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Chego nesse número pensando no infinito e um pouco cansada. Ao mesmo tempo sinto como se minha vida nem tivesse começado ainda. Não sou mais criança, não sou mais tão jovem, não sou tão adulta quanto gostaria e imaginava ser nessa idade... sinto um estranhamento na alma, um desassossego no coração, uma nostalgia e ao mesmo tempo um deus me livre do passado. Trago algumas histórias engraçadas na bolsa, já tenho um diploma, alguns desentendimentos pelo caminho, idas ao fundo do poço que deixaram consequências e renascimentos. Há fases que vamos morrendo e catando os pedaços pelo caminho. Alguns amigos sumiram, somos tão diferentes agora, outros formaram família, trabalham demais, foram embora do país, sobraram poucos... Cabem no dedo de uma mão. As risadas e os sonhos também diminuíram ou são menos imaturas, não entendi ainda direito. O choro e a preocupação aumentaram, talvez eu até seja um pouco dramática, pessimista... quem é que sabe o porquê? Não sei se ainda é cedo ou tard

Dezesseis

Condenaram a velha bruxa por admitir paixão. Não pode. Quanta audácia...loucura! Normal mesmo é admirar calado, olhar insistentemente, fingir que não vê e que não sente que nada acontece. A velha bruxa provoca tantos medos ou ainda me pergunta se só não revela quem são os verdadeiros portadores da coragem? Não está louca em nenhum dos dias. Fala do que sente apenas. Não perde nada com isso, muito pelo contrário, ainda se livra com mais facilidade da ilusão. Sem reciprocidade tudo vira apenas uma grande lição. Se houvesse, aí seria encontro, seria paixão, seria uma história de verdade. É grande a responsabilidade de não se permitir. Ela prefere sacudir, sacudir, sacudir... todas as correntes em nome do existir sentindo. Do existir mesmo que tudo seja um não. Melhor colocar pra fora do que engolir por dentro. Melhor acabar agora do que não saber como seria. Distorcem a história, os cavalheiros são tão covardes... Quanta bobagem para o tamanho do sentir! Ela nunca pediu explicação sobre

Carta a mão

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Há uma conexão da minha pele com teus dedos, com meus dedos e tua pele. Nossos beijos são tão macios, devassos e precisos. Teu carinho abraça minha alma, colore as horas e torna as lembranças mais preciosas. Tu advinha meus desejos mais secretos sem que seja preciso eu dizer. Me sinto teu número, me transporto pra bons lugares quando estou contigo, sem passagem, sem tempo e senhas, sem problemas... Há um encaixe em nós, uma força bonita nos gemidos, um movimento perfeito pelo espelho. Depois de ti, me sinto tão eu. Sou maior, sou melhor, sou amanhã. Gosto do teu corpo submisso ao meu tantas vezes, e como eu gosto meu deus, de me render e entregar, de não ganhar nenhuma única vez.  Há um tesão que não passa, uma conversa simples que martela na minha cabeça, uma poesia no olhar, no sorriso, na gracinha, na comida... Há uma campanha ferrenha pelo nosso amor batendo no meu peito. Minha vida, minha estrada, nosso encontro, e uma nova passagem. Depois de você, eu sei que nem com

O cheiro das flores

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Donata foi minha professora de artes e logo de cara eu já sabia que não podia ser da minha cidade. O jeito que ela falava era diferente. Era possível enxergar que seus olhos viam além do que estivesse na sua frente. Eu era uma pré adolescente na época, eu era tão perspicaz. Pelas ondas do cabelo dela em plena era da progressiva e a calça jeans colada, ela entrava na sala sempre com seus vestidos coloridos, e me deu outra pista de que até poderia morar no mesmo lugar que eu e os colegas da sala, mas jamais pertenceria a nossa cidade.  Ela entrava na sala na maior tranquilidade e nos contava a história dos grandes artistas e nos mostrava suas obras. Queria que nós pensássemos, suplicava. Por alguma razão idiota ninguém queria pensar. Outros fingiam que não pensava, como eu.  Na maioria das vezes, eu percebi que as histórias dos artistas costumavam ser bem trágicas. Eu prestava atenção em segredo, não queria que os outros soubessem que eu entendia aquele segredo oculto

Direção

Posso atravessar o rio sozinha agora. Consigo nadar, respirar debaixo da água, ser água. Amo-te, mas afoguei sem muita explicação algumas das nossas lembranças mais encantadas. Acho que fui um pouco deslumbrada, meio ingênua ou dedicada demais com a construção das minhas memórias. Acredito que isso não seja tão ruim, é bom até. Coloquei meus pés no chão, sinto a areia neles novamente. Seguir a estrada flutuando é prazeroso, mas podemos cair a qualquer momento quando nos falta um pouco de fôlego. Me sinto um pouco mais minha. Mais dura talvez. Não quero ser inteiramente minha quando vejo tua segurança em ser tua... ainda me assusta as vezes, nos pensar separadas. Sofro por algum motivo desconhecido. Está no meu mapa, nas estrelas, no primeiro choro do meu nascimento. Quem sabe o meu amor seja meio posse, meio ruim, meio brega, avassalador, dramático, meio julieta e romeu. Não quero ser assim, me vejo errante, me vejo pecado. Te vejo iluminada, te vejo milagre. Talvez, sofrer por não qu

O casamento e o pacto

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Ter coragem para te cumprimentar no seu casamento foi uma das coisas mais difíceis que eu tive que fazer esse ano até agora. Mamãe disse que não seria de bom tom ter ido a sua festa e não tentar te dar os parabéns olho no olho. Não somos mais próximas, apesar de termos disparado juntas no Ventania , o cavalo mais veloz da fazenda do Pará do nosso avô. Não sabemos mais uma da vida da outra, apesar de termos ido juntas e sozinhas pra Goiânia prestar o vestibular da UFG, sermos fãs do Harry Potter, termos frequentado as mesmas pizzarias e mergulhado na mesma piscina durante toda a infância e adolescência. Não somos mais primas, depois do meme que eu acabei te expondo na internet, numa atitude super constrangedora, no calor das emoções de uma eleição presidencial que separou muitas pessoas. Achei sua festa belíssima. Também nunca tinha te visto tão feliz. Exceto quando passou no vestibular de medicina. Você parecia aquelas noivas de filme. Não sei se será feliz no amor, nem

Ser (p)ar

O deslize veio quando menos esperei abraçado do medo e beijado pela descoberta. Escancarou-de um choro ininterrupto e quebraram-se os limites. O meu e o seu. O chão se abriu no meio, lá no fundo do buraco eu olhava para o céu, mas não sabia mais contar as estrelas, dormi e acordei sem querer saber que dia era hoje... nem me importei se alguém apareceria pra me tirar dali. Há vida ainda, há vida... ruim é subir com um buraquinho. Ruim é ter que escalar sozinha para a superfície. Eu não gostava mais de mim sozinha. Eu queria ser par, pra sempre. Quando a raiva foi-se embora de mala e cuia, me visitaram sem aviso as boas lembranças. Tua risada engraçada quando eu fazia algo espontâneo, aquele desafio de irmos nadando juntas até os corais em que eu sempre chegava primeiro e ficava “Vem! Você consegue!”, com medo de você desistir, as comidas que fizemos quando não tinha quase nada na geladeira e mesmo assim ficaram boas, nossos beijos mais quentes e as transas ouvindo músicas que nos lev

Não me quer mais

É tudo tão sórdido que fico me perguntando se eu não mereci. As coisas talvez aconteçam para entendermos quem somos e a nunca subestimar o outro. Carrego algo estranho comigo agora. Um buraco negro onde tudo que é jogado lá dentro desaparece no espaço. Choro há dias todas as lágrimas que achei que eu valia e não foram se quer choradas por você na minha frente. Imagino o por quê de você não ter nem me segurado me pedindo pra ficar. Era isso que eu queria. E por isso andava lá na frente como se estivesse determinada a fazer um escandalo. Eu merecia um espetáculo da sua parte! Uma frase de amor gritada, um por favor me perdoe! Nada foi feito. Você desapareceu. Antes, você tinha atitudes pra tantas coisas... eu adorava aquilo no teu jeito, mas não teve quando eu mais queria que tivesse... eu queria uma prova, pra saber se você ainda me queria apesar de tudo que aconteceu. Porque apesar de machucada, eu nunca tive dúvidas disso. Não sou perfeita, fui insensata, estou desequilibrada, ouvi me

mil coisas que eu já escutei e os 64% de dar certo

Lembro de você bêbada e sorrindo no mar com aquela blusa amarela. Como você fedia cerveja por toda sua pele branca quando bebia. Tudo era sol e tão azul, parecíamos ricas, mas seu cheiro me incomodava muito... é que eu me lembrava sempre daqueles garotos alcoólatras que amei em outra juventude. Eu não queria abraço de jeito nenhum e você me beijava a força, sempre muito romântica quando estava bêbada, talvez... talvez eu atraia esse tipo. Os viciados, os entorpecidos, os que tem problemas com os pais, os que sabem fazer poesias bonitas e desenham nos meus papéis quando menos espero, os que dizem que me amam muito rápido, me deixando assustada. Eu sempre atraio esse tipo que sabe tocar um instrumento. Eles sempre sabem as letras das músicas mais difíceis, me pedem em casamento enquanto cozinhamos, beijam meu pescoço quando não estou vendo, tomam banho comigo contando da infância, e juram mil coisas que eu já escutei. Eu atraio muito esse tipo que faz amor comigo de um jeito que me s