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sábado, 25 de maio de 2019

Ser (p)ar

O deslize veio quando menos esperei abraçado do medo e beijado pela descoberta. Escancarou-de um choro ininterrupto e quebraram-se os limites. O meu e o seu. O chão se abriu no meio, lá no fundo do buraco eu olhava para o céu, mas não sabia mais contar as estrelas, dormi e acordei sem querer saber que dia era hoje... nem me importei se alguém apareceria pra me tirar dali. Há vida ainda, há vida... ruim é subir com um buraquinho. Ruim é ter que escalar sozinha para a superfície. Eu não gostava mais de mim sozinha. Eu queria ser par, pra sempre. Quando a raiva foi-se embora de mala e cuia, me visitaram sem aviso as boas lembranças. Tua risada engraçada quando eu fazia algo espontâneo, aquele desafio de irmos nadando juntas até os corais em que eu sempre chegava primeiro e ficava “Vem! Você consegue!”, com medo de você desistir, as comidas que fizemos quando não tinha quase nada na geladeira e mesmo assim ficaram boas, nossos beijos mais quentes e as transas ouvindo músicas que nos levaram pro espaço, e todas, todas as vezes que tu me fez companhia enquanto eu chorava por algo da minha vida. Vivemos muitas coisas... E eu tenho agora o que eu nunca tive muito nas minhas gavetas de quase 30 anos... uma humilde e corajosa capacidade de perdoar. 
Quando eu era uma menina, sempre achava feio e incompreensível casais que não eram amigos, cúmplices e perdidamente apaixonados. Nunca tinha pensado que talvez os casais tenham seus motivos ou motivos muito maiores para não flutuarem como adolescentes por aí... a maturidade dos sentimentos me deixa um pouco assustada. Quer dizer que sente pouco? Ou quer dizer que amor nenhum vale alvoroço? Quer dizer que temos que nos contentar com pouco? Ou quer dizer que o amor é algo que ninguém nos conta de verdade? 
As vezes me pergunto se tu realmente volta pra mim por gostar ou por piedade de todo o espetáculo e saldo da conta que eu fiz. Tenho medo que tenha descoberto que não gostava tanto. Medo de que descubra que podes viver sem mim. Queria estar forte agora pra cuidar de mim mesma. Para catar meus pedaços e parar de agir de forma tão confusa e amarga... me perco mais ainda de ti. Não nos sinto mais conectada. Ainda penso que você pode ir embora a qualquer momento. As vezes olho pra trás e tudo parece um sonho bom que não foi real e virou fumaça encantada. 

Todas as noites ando tendo pesadelos... dessa vez não os conto pra ti. Acho tão desnecessário a quantidade de confissões que eu te fazia... eu parecia uma criança do pre escolar que não desgruda a mão da coleguinha.  As vezes tento recuperar minha sanidade e ser mais madura com minha intensidade. E se do encanto quebrado houvesse uma nova lição? E se depois disso tudo fosse menos difícil, menos perfeito, menos cobrado, menos por um fio? E se ainda estiver escrito que podemos ser felizes pra sempre? Ninguém sabe o dia do amanhã, se não as nossas próprias atitudes... ninguém sabe. Talvez, podemos nos conhecer de novo agora, podemos usar salva vidas, remar sem segredos, entender nossas individualidades e abraçar nossos defeitos com mais calma. Quem sabe não tinha isso mesmo... tudo isso pra gente se refazer. Entender o que era realmente importante. Desbravar nossos conceitos. Autoestima, respeito, confiança... o que mais um relacionamento pode tentar nos ensinar? Só espero de verdade que a gente não descubra que não somos mais feitas uma para a outra... mas se for isso que eu entenda. Que eu entenda. 

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