Na ponta dos pés

O ócio me era tão preocupante que de repente eu decidia que deveria criar uns sentidos pra viver. Certa vez acordei com tanta vontade de descobrir uma razão pra viver que criei num instante a ideia de que tudo que eu precisava era saber dançar. Tomando meu leite com chocolate, eu tentava imitar aquelas dançarinas que via pela TV e nas pontinhas dos pés eu colocava meu copo de leite na cabeça e passava de azulejo em azulejo sem pisar nas linhas. Depois sem o copo, em saltos eu pulava de sofá em sofá e na cozinha a regra era dar piruetas enormes até a secretária notar meu grande sucesso. E era isso, sim... eu era uma grande e ainda não descoberta bailarina. Certamente, quando desse o feriado, o circo chegaria na cidade, calculadamente eu ia dar uma pirueta de brincadeira no intervalo do circo, um palhaço iria me ver com um grande sorriso e se encantar com meu talento, fugiria com aquele povo maquiado de alegria a noitinha. Mamãe e Papai jamai...