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Mostrando postagens de março, 2012

Na ponta dos pés

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O   ócio me era tão preocupante que de repente eu decidia que deveria criar uns sentidos pra viver. Certa vez acordei com tanta vontade de descobrir uma razão pra viver que criei num instante a ideia de que tudo que eu precisava era saber dançar. Tomando meu leite com chocolate, eu tentava imitar aquelas dançarinas que via pela TV e nas pontinhas dos pés eu colocava meu copo de leite na cabeça e passava de azulejo em azulejo sem pisar nas linhas. Depois sem o copo, em saltos eu pulava de sofá em sofá e na cozinha a regra era dar piruetas enormes até a secretária notar meu grande sucesso.  E era isso, sim... eu era uma grande e ainda não descoberta bailarina. Certamente, quando desse o feriado, o circo chegaria na cidade, calculadamente eu ia dar uma pirueta de brincadeira no intervalo do circo, um palhaço iria me ver com um grande sorriso e se encantar com meu talento, fugiria com aquele povo maquiado de alegria a noitinha.  Mamãe e Papai jamai...

Largada

Tire as regras do meu tabuleiro, o jogo só começa e termina se eu mexer as peças. Tiremos as máscaras juntos, nem você primeiro, nem eu depois, vai, coloca a espada encostada ali no canto, coloca que juntos vamos tirar as máscaras pra ninguém se chocar antes ou depois, juntos na hora certa pra dar tudo errado. Deixa eu ver as tuas feridas que eu lhe mostro minhas cicatrizes, uma por uma. Não saia correndo quando eu te dizer o que eu quero e o que acho,  você precisa se sentir a vontade com a minha sinceridade, eu gosto quando você sorri,  nem todo mundo tem senso de humor aguçado, sabia? Você não sabe que é bonito não é? Precisa despertar seu herói, o que é que você pensa? Deixa... deixa eu ver os seus monstros, eu não tenho medo da imperfeição, eu não tenho medo da realidade, da fantasia sim, da fantasia sim eu sinto um medo tenebroso porque não há chão dentro de ilusão, não há segurança. Anda, anda que eu estou bem aqui atrás, não me incomodo se prefere ir na frente mas s...

Me deixa escutar a música.

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S ua timidez é quase um pula pula para os meus olhos, quero entender como é que consegue se esconder assim de mim e não me fazer ficar conformada. Meu Deus, lá vai eu...lá vai eu ligar o som pra poder ouvir a música e tudo que eu espero é apenas ouvir a melhor música, você bem que podia ouvir comigo se não estivesse tão atarefado... pode abrir sua  janela e escutar minha música? Já entendi que não confia tão rápido, sabe que eu também sou assim a maioria das vezes? Então caso não queira sair do seu lugar, eu vou ficar aqui aumentando o volume pra você. As vezes eu acho que você me acha malvada, alguém te machucou, não foi? Sua respiração denuncia, porque é que não fazemos um acordo? Você pode continuar se defendendo, mas ai deixa eu te defender também?! Eu juro, tudo que eu quero é ouvir a música, nós nem precisamos dançar, nós não precisamos nem entender a letra, você pode me encarar por mais tempo sabia? Eu gosto disso, eu gosto do seu medo. Já ouviu falar que o med...

A babá do meu irmão

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-Ela vai morar com a gente, chama-se Luciene. Cuidará de seu irmão enquanto eu não estiver em casa. -Luci...ene?! Mas porque não Luciana?   E imaginei que talvez fosse uniformizada, bem maquiada, com alma de anjo, comportada e quase uma santa. Nunca havia visto outro tipo de babá que não as americanas de filmes da sessão da tarde. Quando ela chegou, fiquei observando cada detalhe daquela mulher naturalmente engraçada. Luciene sorria feito uma criança por qualquer coisinha, tinha um cabelo crespo, mais tão crespo que até a água demorava a molhar os fios. Eu lembro que quando ela saia do banho, os cabelos pareciam que ainda estavam secos. Usava um corte extremamente masculino, mas eu não conseguia imaginar outro corte para o seu tipo de cabelo. Tinha as unhas dos pés enormes, estavam sempre bem pintadas e seu tamanho ultrapassavam o chinelo. -Sabia que  seus pés são de bruxa?- lhe dizia. -De bruxa? Ela olhava e sorria parecendo não se importar muito, porque achava o...

outro mundo

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"Até no riso terá dor o coração; e o fim da alegria é tristeza."  Provérbios 14:13   As vezes eu choro sem querer, uma lágrima roubada cai lentamente do meu olho sem permissão e bem escondida ela vai descendo pelas curvas da minha narina e a experimento lembrando do mar, é tão fina quanto um fio de cabelo. Na verdade, talvez não seja tão de repente, mas de repente, é desconhecida, talvez por isso depois dela desça mais umas duas ou quatro, porque não há medo maior do que o medo do desconhecido. E é difícil controlar o que não se entende, controlar o que só se sente.  Ai eu rezo, rezo pra não perder o foco, o sorriso, o útil. Rezo até ficar calma, dá certo. O que dá errado é que eu sempre me pergunto se fiquei calma porque rezei até cansar ou se rezei e por isso fiquei calma. Eu fico ali, perdida nos sonhos, sonhos sujos de outro mundo, quando acordo fico meio em branco, está ai casa de sombras? Estou aqui fora, mesmo com muito medo, estou aqui do lado de fora. Ac...

Velejar

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Eu ando assim tão carente, mas já me consertei. Converso no volante com Deus, e ele apenas me garante que esse garoto vem. Mas não vem assim de repente, vem de um jeito que só eu sei como vou querer, vem pelo meu olhar, vem pra eu poder sentir o que é apenas gostar, e vou desejar, desejar tudo novo! Sair do eu e entrar no nós . E sem dor, apenas doar. Vai topar assim... no meu barco! Topar de uma vez que me faça acordar sorrindo e vamos sorrir, sorrir juntos do tamanho do mar. Eu ando assim tão completa, mas já me quebrei. Converso no chuveiro com Deus, e ele apenas me garante que esse rapaz está ai fora. Mas não assim largado, qualquer um, feio ou bonito. Vai ser aquele que me deixar confusa desde o primeiro piscar, que vai me deixar ousada e receosa diante do controle e vamos sorrir, sorrir juntos do tamanho do céu. Eu ando assim tão simples, mas já fui muito mais complicada. Converso no espelho com Deus, e ele apenas me diz que o que tenho é amor, estou cheia de amor e não ...

Dia da Mulher

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Conheci Simone muito jovem, lembro-me que foi por causa de seu namorado, Jean Paul Sartre, longe de mim dar em cima do moço, eu havia o descoberto por acaso numa das estantes da minha casa, seu nome era dourado numa capa azul escuro, um livro chamado "A idade da razão", peguei para ler enquanto não chegávamos a Natal no Rio Grande do Norte. Creio que até fiz uma postagem sobre o moço no inicio desse blog. Li seu livro durante a viagem demorada, gostei muito, ainda tenho algumas razões dos personagens na minha cabeça, ainda lembro do conflito que ele me causou, ainda lembro como eu era demasiadamente curiosa e completamente entregue a arte de pensar, pensar e pensar... Naquela época eu não tinha medo de nenhuma crença me abraçar, eu era uma menina verde, corajosa e sempre pronta pra estar certa e errada.  Quando me dei conta de que ele não era um autor comum, achei Simone, sua namoradona! (Porque a mulher é bem importante pra eu chamar de namoradinha) dei uma risada...