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quinta-feira, 31 de julho de 2008

Feitio estranho.

Ele retirou um peso das costas. É chato terminar um relacionamento, quando já está terminado na prática. Continuar naquele "faz de contas" hipócrita era desperdício.
Eles não eram muito de conversar, com o passar do tempo a rotina os levou a caminhos individualistas e sozinhos, e nenhum, com suas indiferenças, conseguia declarar que o barco estava afundando, e como o tempo nunca pára, foram os dois fugindo da situação, deixando para segundos planos útopicos.
Figiam hipócritamente bem! Percebiam tudo que se passava mas como se fosse um jogo, o outro jamais poderia sonhar que o outro percebe o que se passa, (eu não sei qual a vantagem de fingir que nada se percebe, mas era exatamente o que eles faziam).
Ela sempre a pensar: "Ele nunca foi muito atento ao que eu penso, eu acho." E ele, sempre a indagar-se, não com ele mesmo, (eles não costumam se perguntar formalmente) inscoscientemente: "Como começou isso?"
O fato, é que não souberam ceder, nem ao menos falar o que estavam realmente os incomodando. Eles eram estranhos, poderiam (se falassem) se descobrir e gostar do que iriam ver, mas como eu disse, estranhos!
Um deles resolveu então, marcar o dia do qual iriam finalmente perceberem-se e tentar não fingir e nem fugir do que estavam passando.
O dia foi marcado, figiam novamente não saber do que se tratava aquele jantar raro, mas sinceramente sabiam do que se tratava.
Nos pratos, macarrão. Nas taças (sem nenhum toque de romantismo), vinho tinto. Ele com muito ar no peito e um gole do vinho na boca, deu partida a separação na teoria.
-Você sabe ,assim como eu, porque estamos aqui não é mesmo?
Ela, arregalou os olhos, tomou um gole do vinho e disse:
- É, desconfio.
-Desconfia?
-Sim. Eu disse que desconfio.
-Que engraçado... (sorriu baixinho)
-O quê?
-Você respondeu bem a pergunta.
-Como?
-Esqueça... o jantar foi para que eu dissesse que...
-Vou te poupar querido! Eu também acho que devemos separar nossas escovas de dentes sabe?
-Nossas escovas de dentes? (terminou a pergunta sorrindo alto e impressionado)
-O quê? Sim... (gostando de fazê-lo rir)
-Acho que...
-Que?
-O macarrão está ótimo!
-Também gostei do vinho.
Hipocritamente o objetivo do jantar teve efeito colateral.

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