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quarta-feira, 3 de novembro de 2021

Escrever

Escrevo para que o tempo passe, para que no futuro possa ler de forma diferente. 

Escrevo tentando entender minha ações e medos, meus atropelamentos, a vingança do outro passo a passo. 

Escrevo para lembrar que sempre estive sozinha, que estou capenga mas estou viva, que estou tentando.

Escrevo para esquecer quem não me deseja mais, para quem foi embora, quem ficou e para quem me dá um tempo, um tempo para que eu me encontre de novo. 

Para ressignificar uma passagem, para me ludibriar que escrever cura, para entender a lentidão do meu processo e tudo bem se o do outro é mais rápido. 

Pensar em si mesma é um desafio quando você não se encontra mais... por isso escrevo para que eu me lembre que a culpa nunca será só minha, que não é possível ser um monstro sozinha, que o orgulho ferido não me pertence, que eu não tenho medo de resolver cada pedacinho. 

Escrevo para compreender como os sentimentos foram construídos, até onde vai o perdão e a desilusão, até onde consegui plantar e colher. Aceitar o que era do outro e o que era meu. Sorrir quem sabe e lembrar como pude ter tanta coragem... 

de incluir, de ajudar, de mostrar para o mundo, de fazer repensar, de cuidar, de descobrir novos prazeres, de dar uma chance, de perdoar 777 vezes, de não os ter conhecido, de confiar até onde fui capaz, de encarar o meu ciúmes, de pedir por favor, de mudar de ideia, de amar numa linguagem estranha mais que rendeu...

Também escrevo para me assustar e situar. Para colocar meus pés no chão e segurar o choro. Para não segurar também... Para entender que o outro é livre e vai voar, para dizer que ainda amo, mas entendi que tudo evaporou.

Quero escrever mais pra frente sobre os caminhos certos, as escolhas certas, os desafios enfrentados. Sobre deixar pra lá e desfazer o feitiço. 

Escrevo, escrevo, escrevo.


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