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Mostrando postagens de novembro, 2018

Sagrado

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Descubro em ti um amor admirável. Te acho inteligente, atenciosa, humana e errante. Tu quebras como eu, brigas como eu, percebe como eu, fala o que pensa, dá risada, é bem humorada... e feliz, mesmo que por dentro tenhas tristezas engavetadas. Descubro em mim uma paixão ensurdecedora. Me acho pretensiosa, quiçá seja eu tua fã, teu segredo, um pacto sagrado... o teu lado. Sou teu lado há tanto tempo... Quando tu contas as histórias, meus ouvidos se enfeitiçam. Quando me lembro das histórias, minhas lembranças te enobrecem, apesar de todas as imaturidades e certezas que eu já pequena, sabia. Talvez não fosse ideal, mas era a que eu tanto gostava. Talvez não fosse tão amada, mas era a que eu queria que fosse. Talvez não fosse a mais presente, mas era a que eu sempre esperava incansavelmente. As vezes estranhamente ainda estou lá... quando a casa ainda não estava reformada, quando as árvores ainda não haviam sido cortadas, quando haviam mais grades, um poço, casinha de cachorro, raizes ...

Teu espírito agora

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João, nem sei se teu nome verdadeiro era esse, mas desde que você resolveu ir embora da sua vida, me sinto mais fraca. As vezes olho o que você  escrevia e penso porque não me aproximei, porque não perguntei mais, porque admirava tanto e nunca falei na mesma proporção. Sempre tive curiosidade sobre sua foto, seu trabalho e que infância ou adolescência teria tido pra ter as visões políticas críticas e bem humoradas que parecias ter. Quando teve greve dos caminhoneiros, fiquei a pensar que piadas boas tu terias feito se estivesse vivo nesse alarme falso do nosso país. Te achava um cara tão bacana, eu podia ter te visitado um dia. Lembro quando me seguiu de volta e me senti mais interessante. Sua morte não acabou só com você... mas também com a fantasia de quem não te conhecia mas esperava mais... muito mais de você. Nessa madrugada de insônia, imagino com quem teus cachorros estariam e o que se passou na sua cabeça no dia das mães. A vida é tão frágil meu deus... queria que tivess...

Encaixe

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Estou no centro da angústia há dias. Estou com 10 anos a menos. Toda marcada. Algum dia sairei da estaca zero? Sinto pena de mim diversas vezes e mais pena ainda por sentir pena. Queria entender porque sou tão vitimista... choro ao dirigir sozinha e me sinto acompanhada. Grito e grito um grito de desespero. Uma dor invisível abraça minha mente e me faz arrancar as unhas dos pés e machucar a minha pele. Queria ajudar mas não consigo. Queria amar melhor, mas não consigo. Escuto uma voz que diz que vou me arrepender de não ter sido mais carinhosa. Vou me arrepender quando todos estiverem ido embora. Tenho tudo que muita gente não tem e ao mesmo tempo não tenho nada. As vezes tenho surtos de querer uma aventura. Pular da ponte, atirar o pau nos rapazes desconhecidos, quebrar alguém na porrada, dirigir em alta velocidade e jogar o carro de uma ribanceira, cortar meus pulsos d e v a g a r...  Me falta tesão. Me falta o não. Não tenho respeito por ninguém. Joguei tudo que estava na mesa ...

Traição

Não é mais a pele dele que incendeia meu corpo. Mas eu precisava conversar com quem não me conhecesse tanto, com quem apenas conhecesse uma parte minha que eu gosto que seja vista. As vezes me canso de ser tão crua, de ser tão inteira e de estar num destino um tanto previsível. Me sinto tão egoísta agora. Mas meu desejo ali era encontrá-lo porque sei que não espera nada de mim. Por algum motivo, era com ele que eu precisava conversar. Porque já tivemos algum encanto e porque de fato isso já me deixou bem anos atrás... é com quem eu já sabia que dava certo foder. E fodemos. Quando nossos olhos se encontraram, até esqueci que era traição. Fiquei leve, como era antes. Quis te abraçar e fui abraçada antes mesmo de pedir. Ele gosta de mim tanto quanto eu. Batemos um bom papo, foi um lindo abraço e duas horas se passaram muito rapidamente. Como sempre ele mora em lugares esquisitos com pessoas misteriosas. E é impressionante como não me incomodo nessas horas. Sem mudar minha vida e sem faze...

o sopro

Não sei mais escrever. Há dez anos atrás, sem técnicas, sem algumas cicatrizes sérias na alma, sem trabalho e instituições entrando pelas minhas veias como droga, eu... eu fui gênia. Talvez seja mais fácil olhar para trás e dizer que tudo era bom. Com o tempo também adulteramos memórias sem perceber. Pra ser menos duro, ou pra alguma única vez na vida ser mais fácil. Hoje, sou pureza com sonhos perturbados, confusos e esvoaçantes que bateram naquele peito. Não sinto falta. Não voltaria no tempo. Mas eu sabia tanto sem saber de nadinha... Dez anos. Vinte e sete e com dezessete, recordo-me como parecia tão mais sagaz... Sabia tanto sobre mim, hoje sempre irritada, paranoica e cansada, tento não saber. Dez anos e nenhum suicídio, dez anos e nenhuma carta na manga, dez anos e alguns fantasmas colecionados, dez anos e algumas decepções, perca de cabelo, peitos caindo...ah, a vida que naquela época havia tanta sede... Quantas mudanças sem sentido, quantos caminhos sem saber para ...
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Queria voltar a escrever como antes. Deslanchando, interrompendo, pensando no hoje como se fosse amanhã, pensando no amanhã por causa do ontem, eu queria de novo daquele jeito. Era todo espontâneo, todo original, criativo, clássico e moderno ao mesmo tempo... Ah, como era gostoso ser eu! Depois de um tempo fui ficando mais óbvia e tudo tão mais claro... Bom mesmo era quando era misteriosa, agora é como se eu possuísse tintas e várias latas de tintas de uma estante que tem em toda casa. Sabe toda loja? E a paleta, e aquela cor desgraçada que todo mundo gosta, todo mundo tem, todo mundo conhece e namora... Antes não, antes eu não sabia o preço, o nome, a origem... eu não sabia nem o nome da cor e pintava. Agora que tudo sei, nada mais sei... Sobraram em mim resquício desse tempo profundo, eu pinto uma árvore no meu quarto adulto. Antes um cenário pra tantos medos e fantasias, agora mais sério e confortável, mas com uma árvore que eu inventei. Ela começa em um dos cantos dos quadrados ...