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terça-feira, 30 de agosto de 2011

Prefira as bicicletas

Quando eu tinha sete anos, um dos motivos que me fez não desistir de aprender a andar de bicicleta sem rodinhas, foi a garantia que me deram de que eu nunca mais me esqueceria depois que soubesse. Lembro que sem saber pedalar eu ja gostei da bicicleta, e subia nela todos os dias, fingindo saber pedalar, arrastando sempre meus pés no chão pra não cair. Fazia então, aventurosos passeios pelo quintal da minha casa, pela área, e sentada nela, entretanto sem pedalar, eu tinha gosto de arrastá-la comigo por todo lado. É que naquelas tentativas, naquele faz de conta que eu sei, amanheciam dias que buscavam muito mais que um simples manter o equilíbrio, eu estava buscando o equilíbrio eterno, aquele que me garatiram que ninguém jamais iria conseguir me tirar. Não era a bicicleta em si que me seduzia, mas sim o que ela podia me propocionar a buscar.
Ao contrário de mim, a garantia de que uma vez aprendido a andar de bicicleta era pra sempre, não seduzia minha cara irmã Nina. Ela morria de medo de andar de bicicleta, pois já não aguentava  mais as tantas quedas e tombos  que levara tentando aprender a pedalar. Prefiriu andar com as rodinhas por um tempo, depois se livrou de uma delas, até se livrar das duas, e ai sim manteve seu equilíbrio. O engraçado era que vez ou outra lá estava Nina estabanada no chão, mas ela já sabia pedalar.
Um belo dia, Nina e eu ganhamos um único e belo par de patins. Papai nos orientou e logo estávamos calçando aquele estranho sapato de rodinhas. Ao contrário da bicicleta, não senti a mesma coisa com os patins. Primeiro que ninguém nunca me garantiu nada sobre eles, e sempre que eu os tirava, eles  deixavam meu pés machucados, doloridos, pesados. Me faziam cair tantas vezes que eu não via mais graça em tentar. E eu tentava calçada neles, me apoiar nas paredes, nas cadeiras e as vezes até pedia pra alguma pessoa me segurar e depois me empurrar, mas era esquisito, meus pés entortavam, não dava mais que uma volta, não tinha ritmo, não deslizavam comigo, simplesmente não fluia. Já Nina, se deu bem com eles, e eu  até disse: Pode ficar! correndo para a bicicleta que me levava pra algum lugar.
Não é que a Nina soubesse lidar com os tombos e quedas e eu não. Era que pra ela aquilo simplesmente fazia parte do processo de aprendizagem. Logo, estava patinando pela área ou estabanada no chão, com mais uma cicatriz pra contar história, mas sabendo patinar.
Eu, nunca aprendi a patinar. Nina conta que não tem certeza se atualmente ainda consegue, mas pra ela vale a pena contar que já andou de patins, e é apenas por isso que eu sempre preferi as bicicletas. Pois podia o tempo passar, ao subir em uma bicicleta eu sempre me encontraria de novo com aquela pequena e preciosa vitória.

Um comentário:

Unknown disse...

É tão engraçado me lembrar de quando eu tinha cinco anos, e todos os dias a tardezinha eu ia pra o campo de futebol que tinha na frente de casa pelejar com a bicicleta 'aro circular'do meu pai...
Todo dia, todo dia. Até me cansar, e eu não desistia.
O processo era o seguinte: Colocava uma perna por dentro do circulo da bike pra dar impulso, e depois, com a bicicleta em movimento tentava passar a perna pra o outro lado.(era essa a proeza mais difícil)
Meu pai ficava observando sem falar nada, sentado na varanda de casa, e quando começava escurecer ele me chamava pra entrar...

E o gostoso era a sensação de que estava cada vez mais perto de conseguir. E eu sempre pensava "Quase".

Depois de ler o texto a lembrança ficou tão viva, que resolvi compartilhar! ;)

Bjos no coração