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domingo, 19 de outubro de 2008

A mão esquerda que segurava a ausência de um coração.

Diniz sempre fora chamada pelo sobrenome, por isso o nome mesmo não nos interessa. Nasceu prematura, era curiosa e adorava novidades, tanto! Que quando via algo diferente queria descobrir a todo modo! Idolatrava, calculava, pechinchava, até conseguir encontrar algo mais diferente e enjoar do que agora para ela passava a ser comum e descoberto.
Um dia na escola conheceu Caio, um novato que nada tinha de especial, a não ser o modo de escrever, que era com a outra mão. Canhoto. Caio era canhoto de nascença, por mais que Diniz perguntasse para ele como fazia aquilo, ele não sabia responder e chegou até a se achar muito valioso pela tamanha importância que Diniz lhe deu durante toda aquela semana.
Na sexta-feira Caio não aguentava mais tantas perguntas de Diniz... "Como faz?", "Dói?", "E a mão direita? Não sente ciúmes?", "Quem te ensinou?"
Ninguém havia se importado tanto com o fato dele escrever com a outra mão. Ele estava impressionado com a insistência de Diniz, ele estava indignado com a atitude da moça, ele estava apaixonado pela atenção recebida. Diniz apesar de atrevida era bem formosa e talvez por isso Caio resolveu ensiná-la a escrever como canhota.
Se encontravam na biblioteca da escola, e a "rabiscação" começava, foram muitas "letras monstros" criadas, muita dificuldade, mas a perfeição podia ser profetizada. Caio já estava gostando da situação, a curiosidade dela arrancavam-lhe bons sorrisos, a dificuldade era recompensada por tocar mais em suas mãos e o fato da missão dele se cumprir resultava em desespero. Diniz não possuía coração, possuía curiosidade. Também não possuía razão, possuía novidade. E isso todo mundo já sabia, só não o porquê.
Radiante e com um "bom dia" dito euforicamente, Diniz chegará em uma dessas sextas-feiras da vida, informando para a escola inteira que finalmente sabia escrever com a esquerda! Caio não se impressionou pois na quinta à noite teve a certeza pelo último reforço que tinha dado, que ela em poucas horas estaria dominando a esquerda, por isso já temia que em breve a curiosa formosa estaria satisfeita e pronta para uma "nova". Diniz mostrou aquela novidade a quem quisesse ver, e "metidamente" começou a escrever com as duas mãos ao mesmo tempo.
Duas semanas depois Caio resolveu que aprenderia a escrever perfeitamente com outras partes do corpo.
Caio agora era veterano, canhoto e apaixonado.

Um comentário:

Elisa disse...

...muito bom!!Gostei demais!

Bj grande,
Elisa