a barriguda
Todo mês era assim: a gente contava piada
e falava da menstruação
da tpm
dos teus machos
Um dia a tua atrasou
A minha vinha sempre depois da tua
A minha sozinha, o meu cão de guarda soprou: "Tá grávida!"
e eu repeti pra ti sorrindo e você disse "Cruz credo!"
não aceitava
não desejava
não acreditava
seis 'paratudo' debaixo da pia aquela vez
você vomitando sangue e postando sobre solidão
eu acendendo vela
eu rezando por ti
eu abençoando tua casa toda vez que era convidada
o macarrão tava gostoso aquela vez
você me arrancava gostosas gaitadas
eu num processo de cura e voltar a sorrir
você de fuga e tesão constante
um dia tu não respondeu
fui lá de viatura com o Mestre
a guia do seu zé arrebentando do teu braço
sinais
você com saco preto na cabeça debaixo do altar no meu sonho
Amiga?
Tá tudo bem?
Você fugindo do menino
Você mentindo pra mim
O menino que insistia e lhe deixava só a pele e o osso
O menino te deixando barriguda e lelé da cuca
Sumistes
Colheu ervas
Ferveu chá
Bebeu e fumou paiero pra cair em si
pra cair o menino
pra perder mais o juízo
mentia pra mim...
dias depois te vejo atravessar a rua deserta
só eu e tu na rua
feriado fúnebre
Te gritei e tu se assustou
corria de mim
corria do menino
insisti e me arrepiava sem parar com a tua história
tá vivo!
Eu enterrei, mas tá vivo!
vivo e batendo forte o coraçãozinho
Amiga eu te falei
eu te avisei
a verdade aparecia...
o mistério se firmando
tinha uma criança no barracão sorrindo
Paçoca
Pirulito
Chupeta
O êre brigando
você aceitando
você voltando
sua fé desfilando no salão da vida novamente
sua mãe morta brigando no sonho
seu medo da chuva indo embora
iansã trovoando e trovoando
sua casa voltando a ficar limpa
as coisas se ajeitando...
que morra teu luto!
agora é vida outra vez
somos mulheres
humanas
felizes
divertidas
tua casa
tuas plantas
teu menino
viva o menino!
viva o forró do Bairro São João
viva as tranças coloridas no cabelo
viva a mulher de domingo até segunda
viva a barriguda!
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