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quinta-feira, 27 de julho de 2023

Onça pintada

Um dia me encontro de novo com aquela onça pintada que conversou comigo. 

Daqui, onde estou, talvez ela não consiga me acessar. 

Foi meu trampolim, 

um lindo mergulho, 

um fabuloso despertar.


Talvez ela consiga me observar mesmo que eu nunca mais a tenha visto, 

mas talvez, também seja emprestada daquele outro lugar. 

O que ela me disse ainda guardo na memória e no coração. 

Medo e admiração. 

Medo e presença. 

Medo e respeito. 

Medo e coragem. 

Força feminina como sina…

Não existe onço, com O, no masculino, 

nunca se esqueça Fernanda, não existe!

Só onçA com A no final. 

Não se curve!

E é preciso aceitar o próprio tamanho, 

e não se retaliar e machucar para caber 

num espaço pequeno demais para amar. 


Se acostume com os desencontros, 

com os desencantos, 

com os decepcionistas, 

Encare e seja selvagem, 

nunca submissa, 

de quatro apenas para atacar

de quatro apenas para aceitar e evoluir

de quatro não terás bando, 

não será o alvo,

não terá lugar definido, 

nem buraco fixo, 

dê quatro estarás sempre em movimento,

não se agarrará nos mesmos galhos, 

das mesmas árvores 

por muito tempo…


Caçar sozinha, mas nunca desencontrada! 

Andar sozinha, mas misteriosamente acompanhada da sua própria lenda, 

do seu próprio pavor…

Rugir e cuidar com o estrago que podes causar com o descontrole, 

com a magia do seu grave, 

da sua raiva, 

do seu cio, 

da sua simples presença…

Deixe que o rabo balance devagar, 

guiando em círculos e mais círculos, 

que te voltam sempre para dentro de si mesma…

Marque território, 

encante antes que termine o dia, 

se espante! 

Pule para fora do território

A mata é sua

A mata é fora e dentro mulher! 


Desapareça, 

se esconda,

cause burburinhos, 

vire um pouco verdade

vire um pouco lenda

vire um pouco história na boca do medo que sonha em ser coragem


Queria senti-la de novo

Quem sabe um dia…

Era linda

Era forte

Era onça pintada...

Juntas entramos em extinção!

Sempre com a certeza de que nunca morreremos covardes próximo ao buquerão. 


(✍🏽Texto: Eu e a onça por Fernanda de Alcantara)  

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