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quinta-feira, 27 de julho de 2023

32

As vezes eu tenho a impressão de que antes de eu nascer eu fiz um contrato espiritual de que se eu conseguisse chegar viva aos 31, tudo começaria a acontecer da melhor maneira possível. Não sinto saudades alguma do passado, nem das pessoas que passaram, nem das experiências que me transformaram. Eu amo, sinto e quero a todo momento viver o presente. O presente é tudo que tenho, tudo que faço, tudo que me movimenta, tudo que me resta e agradeço. Passei anos presa ao passado ou almejando futuros, perdida numa Matrix absurda que não me fazia enxergar o óbvio, o justo, o imprescindível. Passei anos com medo, com emoções desgovernadas, com dores exageradas. Olhando para trás percebo alguma coisa especial ao meu redor, uma proteção, ainda que eu tenha sido um pouco turbulenta, ainda que eu tenha ficado um pouco maluca, ainda que eu fosse uma topeira cega diversas vezes entre meus lapsos de poesia, ceticismo, pessimismo e sabedoria interna. Percebo um destino, uma jornada, uma séria de escolhas certas até nas erradas. Minha missão é a coisa mais linda do mundo ainda que eu ainda não saiba dizer em palavras qual é de fato.
Eu não ando tendo tempo de escrever no mundo virtual, de compartilhar minhas conquistas, minhas superações, mas também não gosto da ideia de aparecer por aqui apenas para contar decepções e frustrações. O fato é que assim como Exu, estou em movimento na vida real, e voltei a escrever em diários de papel. Eu passei no mestrado em literatura também. Nunca me imaginei fazendo mestrado.  Eu lancei um livro de poesias. E voltei a escrever desesperadamente em papéis. Ando fazendo muitas coisas que gostava de fazer quando era criança. Até na capoeira de angola eu comecei a ir e a aprender. Fiz novos amigos. Ando fazendo muitos novos amigos, encontrando pessoas que pensam parecido comigo, pessoas com as mesmas bandeiras. Lembro de quando eu pedia para o universo que colocassem pessoas assim perto de mim. Me dá mais entusiasmo de viver. É horrível se sentir um peixe fora d'água. Eu estou levemente empolgada, e também quero criar um projeto musical, um tributo para quatorze mulheres mortas. Sempre gostei dos mortos, e de luta, e não sei porque raios eu nunca ia de fato atrás disso. Fui uma única vez ao karatê e amei, por razões que desconheço me tiraram da aula e eu não sabia dizer que queria ficar, que gostava demais de lutar. Era uma criança que sentia muito e expressava pouco. Foi parecido com o episódio de quando minha mãe tentou me mudar de escola e me levou para passear em uma que parecia um castelo de bruxaria, eu vibrava por dentro e não consegui dizer que queria muito ficar lá. Por que raios eu não sabia falar o que eu queria e o que eu gostava? Por que raios eu não sabia gritar o que me deixava viva e alegre? Hoje tudo posso na coragem e no berro que agora ocupa minha garganta que nunca mais adoeceu. Tive tosse de cachorro mês passado, mas acho que foi culpa do clima tocantinense que sempre muda bruscamente de maio para junho. Junho para mim é o melhor mês. Será que esse ano eu vou ver o rio Araguaia em Julho? Acho que não. Amo demais esse rio, mas acho que esse ano não. Vou escrever um romance adolescente envolvendo ele. Vai ser um sucesso, já posso ver a capa na minha mente. 
As vezes eu tenho a impressão de que se abriu um portal para mim desde o começo do ano. Um portal do desconhecido, um portal do qual eu sonhei a vida toda encontrar, um estarte que mudaria tudo. Ano passado eu achei que seria meu começo e foi por determinados meses, depois tudo desandou de novo. Mas o importante é que agora me encontrei de novo e dessa vez parece que é para todo sempre. Eu me encontrei dentro de mim de maneiras inexplicáveis. Descobri minha mediunidade, lancei meu segundo livro, me sinto mais bonita, mais sagaz, mais eu de verdade. E minhas feridas não doem como antes. Antes era tudo muito confuso, muito assombroso, muito tempestuoso, muito intenso e uma sentença de absurdos e de depressões me consumiam e me reanimavam, me comiam e chupavam meus ossos como se eu nunca mais fosse levantar das catacumbas... agora parece que tomei as rédeas e nunca desço de um cavalo que galopeia e as vezes dispara, galopeia e as vezes anda devagarinho, que galopeia confiante no cabresto que o guia.



 

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