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sexta-feira, 2 de março de 2018

Escrevo sempre para mim, por mim, para o que é novo e o que ainda é velho, mas lateja. Para me conhecer nas palavras, para me marcar ou me esquecer por dias. Escrevo porque sou só exausta mesmo. Nasci exausta, nasci. Atormentada pelo que não ouço, pelo que não vi, pelo que decido. Escrevo porque sei de tudo, mas não posso falar. Porque já compreendi, mas não estou pronta pra saber. Porque estou crua constantemente e as roupas não me descrevem e se escondem de mim. Dizem que se escreve mais quando se está triste, pois ainda que eu dance, ainda que eu me apaixone ou trabalhe ou me levante! Escrevo mentalmente milhões de roteiros, crio milhões de filmes, fantasio todas as pessoas para que tudo pareça melhor e mais suportável... Não crio personas, não mudo meu nome, eu não sei... Aparecem as palavras, os sentimentos talvez gostem do meu abraço, das minhas verdades negociadas em palavras, de pessoas fabricadas pelos sopros que chegam no meu ouvido. Sei que não existe bem isso, as vezes, se escreve por estar apertada, outrora porque se está solta demais, o fato é que se não escrevo, fico sem ar e fico com eles. Na jaula, não sei quem é mais forte, escrevo porque não consigo obedecer direito. Um novo lugar é necessário as vezes. Um pouco pessimista, é fácil de admitir que escrevo principalmente porque no fundo sei que sou solidão. Existir desde a amarelinha ao pega-pega, por dinheiro ou por maldade é sobre solidão. Ainda que eu soubesse mais e os porquês, escrito seria bem melhor. Mais divertido. Mais bem tratado. Mais elegante. Escrevo também pra me superar, suprir o que nunca a de ter complemento, atacar o que sempre fere e sentir menos medo de tudo que vem, de tudo que vai e de tudo que volta mais forte e fraco. Gozar a inspiração da rotina, a falta de remédios das insatisfações, o bater do coração inquieto sempre inquieto e guiado por uma alma sem forma... escrevo por último e mais nada, porque é um crime perfeito para me roubar de mim. 

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