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quinta-feira, 22 de março de 2018

meu desfile


Depois de tantos anos, finalmente sou mais capaz de enxergar o que é que se passa aqui por dentro.  Agora eu vejo o tamanho do meu medo, agora dá pra se mensurar. Sei seu peso, seu início e o seu fim. Não é maior do que eu. Apesar de ser eterno. Agora só não pode ser maior do que eu, como antes, porque não é mais um mistério completo. Definitivamente e ainda bem, não é mais. Tudo se esclarece, mesmo que seja fumaça. Está comigo por tantos anos... mas agora não é mais meu maior problema. Não é só meu inclusive. Meu estranhamento, meu escuro, meu maior inimigo, minha tristeza estranha... Escrevi e escrevo pequena ou grande sobre o medo. Contudo, sou mais forte do que ele. Repare bem como nunca deixei de ser espontânea, engraçada e autêntica por carregar fumaça na alma. E ainda, o principal! Não deixei de ser corajosa. Há tantos e vários momentos em que fui mais forte do que o medo, em que tracei meu destino, em que senti o que não entendia e deixei acontecer. Em que tomei iniciativa, em que confirmei expectativas, sentimentos, dúvidas, ainda que tudo tenha seu tempo, ainda que tudo tenha sua fase, seu charme, seu compreendimento próprio, e camas diferentes... eu consegui. E percebo como deu e dá tudo certo até agora. Há uma perfeição ao meu redor, ainda que eu seja muito doida. Minha mente por mais que tenha construído labirintos incríveis e diversos, ainda assim traçou um caminho perfeito para minha descoberta. Longo, mas perfeito. Ainda bem que cheguei até aqui. E se eu tivesse me matado? E se eu não tivesse aguentado? E se eu achasse que não tinha finais mais felizes dos poucos e rasos que conheci? Agora também percebo que encontrar-me com o próprio estranhamento sempre é a maior e pior missão que podemos ter. Eu, na verdade, nunca pretendi fugir disso, até porque sempre foi muito claro pra mim que ninguém possa. Quando olho pra trás, foram tantas pistas...como não pude enxergar? Sempre gostei mais daquelas pessoas. Era com elas que eu me sentia bem. É sempre com elas que eu formo um bando rapidamente. Como não fui capaz de perceber? A vida mostrou nas entrelinhas, em olhares trocados, em atrações confusas... eu não era capaz de ver ou não queria? Sempre teve algo certeiro comigo. Amo. Mesmo tendo nascido com essa fumaça. Nasço. Condiciono. Renasço. Não condiciono. Maior do que eu... E o mundo? Fez com que eu não enxergasse ou foi eu? Foi eu que me dei um golpe feio? E se no fundo já sabe-se como é preciso ter muita coragem pra enfrentar o medo... Ou talvez porque nem tudo que se sente possa fazer algum sentido extraordinário. Mas faz. Faz igual nos romances, igual na histórias exageradas dos apaixonados. Faz tanto que se muda crenças e caminhos até então pessimistas e pesados na infelicidade. Faz diferença e tanta que agora sou capaz de ver cores novas, muitas cores em muitos tons. Não é mais só um amarelo. Há olhos gigantes, bocas realmente gostosas, curvas marcantes, e um poder de finalmente ser honesta, mas tão honesta, que nada mais honesto que a resposta do seu corpo e sua capacidade de ter vontade, muita vontade de se entregar. Não é mais culpa dos beijos, não há mais desculpas... Há abraços e conversas que batucam o coração, um corpo sentimental, sincero e que já percorreu o estranhamento de foma suficiente pra entender que agora pode ser mais sagrado.  

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