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quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Desenhos de corações que não paravam de bater


Parece brincadeira de criança, entretanto eu vi como se o tempo tivesse me presenteado no fato de você não ter mudado em quase nada por fora. Quando eu te vi assim, igualzinho você era, magricela, sorridente, com aquele cabelinho liso e escorrido, esguio e de fala meio rebelde, por quem eu nunca mais fui tão loucamente (e secretamente) apaixonada, você me trouxe aquela Fernanda da qual  eu jamais me lembraria que havia existido.
Trouxe a lembrança de uma garotinha que escrevia páginas e mais páginas no próprio diário dedicadas a você e ao sentimento fantástico que podia sentir, que se declarava triste caso não tivesse aparecido e muito alegre por apenas ter te visto, mesmo que de longe. Aquela garotinha que escrevia que seu braço havia encostado no dela e que o sorriso tinha sido diretamente pra ela e que por um triz quase teria sido descoberta, pois por um triz teria explodido quase nitidamente de paixão. 
Meu Deus como eu pude esquecer?! Aquela garotinha era meio tonta de amor e teimava em colocar a inicial do seu nome em tudo que era lugar! Cravado em um pé de goiaba que subia, nos vidros abafados de um box de banheiro, no vidro do carro abafado pela chuva, nas portas empoeiradas, nos móveis mais sujos e em qualquer lugar que desse, porque parecia ser essencial escrever a letra mais importante do planeta! 
E eu fazia questão de plantar sua inicial nas areias dos parquinhos e seu nome estava comigo durante todo o dia e em todos os sonhos e desenhos que eu via. Principalmente durante a aula, onde era preciso exorcisá-lo nas pausas de descanso dos textos dos livros da escola, com desenhos de corações que não paravam de bater...Ah! Como eu pude ser capaz de mantê-la tão perdidamente apaixonada?!  
Ai eu dei uma gargalhada de mim mesma, como é que pude me esquecer daquela garotinha? E fiquei tentando lembrar se teria esquecido de propósito, se teria esquecido por ter me interessado por outras coisas, se teria esquecido porque simplesmente não tive coragem de te dizer o que eu sentia. 
Comentei que aparentemente você não havia mudando nada, e você (finalmente!) disse que eu estava bonita, (se eu contar pra aquela garotinha ela vai achar um máximo!) já eu,  agradeço o elogio mas estou mais preocupada e receosa de perguntar da separação dos seus pais.
Por alto soube que foi difícil, senti pelo seu jeito que desuniu um pouco vocês, vocês eram tão unidos, lembra? Você, seu irmão e sua irmã! Eu achava vocês um máximo...e ele pelo visto está enorme, obviamente maior que você que parece que parou no tempo. E sua irmã? Lembro que era uma garotinha charmosa e que eu fui amiga dela apenas pelo interesse de estar sempre perto de você e que na verdade ela sempre gostou mais da minha irmã do que de mim, mas por algum motivo ela sabia que sendo minha amiga, mantinha minha irmã como sua melhor amiga por mais tempo.
Quase cai pra trás com a resposta: "Tá lá, buxuda, vai casar.", e por algum motivo infantil me senti culpada, pensando como teria sido se tivesse brincado por mais tempo com ela,  como se eu pudesse segurar sua infância no meu desejo de dar um efeito borboleta na vida dela, como se eu não tivesse deixado de acompanhar sua vida mais tarde, como se eu pudesse tirar a tinta loira do cabelo dela e devolver seu charme pueril. 
Quando você me falou que a vida dos seus pais não o interessava, que quase não via mais seus irmãos, a não ser quando eles precisavam de você, que estava trabalhando e que nunca se importou com a separação, eu não entendi muito bem como tudo isso não pode ter mexido com você, mas aquela  garotinha que você me trouxe e que estava realmente esquecida entendeu tudo bem melhor do que eu e disse que me explicava tudo se eu prometesse não contar o que sabia dela pra você, e disse: Para toda ação há uma reação e certas reações podem ser esquecidas, escondidas e reprimidas por medo, constrangimento, insegurança, e muitas vezes preferimos não saber quão capazes podemos ser de sentir certas situações, e entendi, prometendo guardar nosso segredo. 

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