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sábado, 5 de novembro de 2011

assim como deus

Sabe doutor? É como se houvessem duas mulheres de natureza distintas, bem fortes dentro de mim. Uma delas acha que é mais forte que a outra, só porque a outra sabe ficar calada de vez em quando e pensa bastante antes de agir, sendo bem sábia e surpreendente quando age. Ainda não sei qual delas costuma ganhar as pessoas. Mesmo assim, a mesma, sendo as duas uma só, assim como o deus cristão pode ser três, pensa que isso é passividade, e a outra deixa ela pensar isso porque ai indiretamente está sendo ativa. Elas são fortes doutor,  tão fortes que as vezes penso em acabar com uma delas, mas sei que estarei acabando comigo mesma, então eu me escondo dos meus próprios pulsos e me engano de qualquer ideia que tenha pensado. 
Mas as vezes é difícil, juro que seria mais fácil acabar com todas e comigo. Juro que seria mais difícil desistir de mim. Apesar de me deixarem confusas, são elas que me tornam mais inteligente, mais bem humorada,  diria até que mais sex. A maioria das vezes, talvez sejam mais elas que eu mesma. Então eu fico assim... meio diferente das outras pessoas. 
São duas doutor, duas que de vez em quando são vinte e quatro, brigando pelo mesmo espaço, pelo mesmo homem, pela mesma menina, pela mesma alma penada, por sangue! Atrapalham-se no mesmo humor, atrapalham-se na própria calma, atrapalham-se na mesma música. 
Tão fria! Que quando fica quente pode queimar tudo como um vôo de milésimos de segundos de uma fênix fugitiva. São mulheres doutor, ciumentas, exigentes, alegres e intimamente tristes. Que por alguma razão doentia procuram constantemente pela dor, pelo sofrimento, pelo o que há de errado, e se esquecem das coisas rosas dos seus cadernos, e se esquecem das boas prosas que rezou.
Ao contrário do Cazuza, eu sei muito bem o que meu corpo abriga doutor, eu sei muito bem  o que é esperar e planejar uma noite quente de verão, eu sei  muito bem o que elas querem, só não sei se aceito, se compreendo, se sinto igual, então eu me entristeço... me entristeço pra haver silêncio, choro, suspiro até  que elas se acanhem o bastante pra recomeçarmos.

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