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sábado, 16 de fevereiro de 2008

Velha, vendida, e jamais esquecida... Fazenda!


A camionete não andava nem depressa nem devagar. Andava pulando e tremendo. Andava assim por causa da estrada que não era de asfalto. Hoje é. A camionete estava cheia de "menineira". Cheia de malas, bolsas, sacos, entre outras "tralheiras". A camionete estava indo para a fazenda.
Ah! A fazenda...Que saudades da fazenda do Vovô Fernandes.
Sempre uma prima ligava para as outras avisando: "Estamos indo para a fazenda! Arruma as malas aí, e vai pra casa da vovó Dorinha, que vai estar todo mundo lá! Se tu não for nem eu nem ____ , vamos! Tu vai, ?" (o espaço significa o nome de alguma prima ou primo que só ia se eu ou a Nina estivesse presente. Esse papo sempre existiu. Era costume dos nossos primos e meu e da Nina também, ameaçar um primo ou prima de não ir. Para que no final todos os primos estivessem lá. Sempre deu certo, até deixarmos de ter coisas em comum...)
Me dava até embrulho no estômago quando atendia o telefone e recebia essa notícia. Embrulho no estômago no melhor sentido possível!
Gritava pela Nina. Ou, se ela que atendesse, ela me gritava.
Um grito delicioso...
"Arruma as coisas!!!!!!!!!"
Corríamos para o baú e pegávamos as redes. As redes sempre eram a primeira coisa que pensávamos em pegar.
Depois de tudo pronto, mamãe olhando de longe perguntava onde íamos naquela arrumação, e dizíamos: "Pra fazenda! Oras!"
É engraçado mas naquela época nunca tivemos muitos problemas com permissão.
Sempre no outro dia, na casa da vovó Dorinha, estava aquela bagunça na garagem. A casa da vovó começa com uma garagem que na época era grande e longe. Hoje não parece mais. No final dela, uma porta e depois dela está a sala e tudo que existe em uma casa.
Lá estava a camionete, na garagem, abarrotada de coisas.
Minha na cozinha arrumando coisas e mais coisas, resolvendo sobre com quem o gato ficaria, arrumando os cabelos no boné e carregando a garrafa de água. Meu avô andando de um lado para o outro, olhando para o relógio instantaneamente, ligando para umas pessoas, revisando a carroçeria da camionete, amarrando uns trem ali outros aqui.
(Um detalhe importante: Nós (todos que iriam na viagem) só tínhamos certeza 100% de que iríamos mesmo naquele dia para a fazenda se ele colocasse o chapéu. Muitas vezes acontecia de estar tudo pronto e arrumado e aí... BUM! Ele simplesmente dizia que só iríamos no outro dia. Era decepcionante... Mas acho que ele sabia o que estava fazendo.)
Quando ele colocava o chapéu...Ah... Aí era festa! Subíamos todo mundo na carroçeria.
De vez em quando, um de nós ia lá dentro. Lá ficavam vovó, vovô e sempre algum indivíduo desconhecido que estava pegando carona, ou a funcionária, ou um tio-avô ou tia-avó ou tio e tia mesmo...ou qualquer outro tipo de parentesco que eu desconhecia.
Na carroçeria era uma "menineira" e "conversadeira" sem ponto final.
Tínhamos tanto assunto aquela época!
Conversávamos sobre filme tal, novela tal, quem ia com quem em que cavalo, quem ia dormir no meio de todas as redes, os micos de cada um, as festas de aniversários, as páginas mais engraçadas dos diários mais polêmicos -o meu esta incluído :( -
Sobre nossos medos, nossos "odeio isso", "amo aquilo", sobre as brincadeiras que faríamos ao chegar lá, sobre alguns segredos de família que só podiam ser contados para as primas mais velhas - eu como irmã mais velha estava incluída nessa!
Naquele tempo, eu era bastante medrosa, contudo, meu medo não impedia muito minha diversão. Eu era a única que sempre demorava mais a entrar no rio, -chamávamos de PACA- sempre pedia que alguém entrasse primeiro, que alguém arranjasse um pau para que se algum bicho aparecesse estivéssemos prevenidos.
Eu também era a única que não tomava banho sozinha, nem de dia nem de noite. A única que acordava de noite com medo e acordava quem estivesse do lado pra conversar. E no final, estávamos todos acordados. Só depois que aprendi a não dar tanto trabalho...rs...
Outro detalhe importantíssimo: A única que sempre via ou ouvia alguma coisa estranha.
Isto era tão sério! Mas, agora me faz rir.


(Boas lembranças, jamais esquecerei a fazenda do vovô)





5 comentários:

Fernanda de Alcântara Alencar disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anônimo disse...

Querida Nanda, vc realmente sabe expressar muito bem suas idéias.Adoro ler tudo que vc escreve porque seus textos são envolventes, me fazem sorrir e chorar também!Sua sensibilidade te transformou numa excelente escritora!
Sou muito orgulhosa de vc!!
Elisa

jose carlos disse...

A tua narração, lembra-me um pouco, da vida fora das cidades, que eu infelizmente pouco vivi. Essa realidade que tu contas, com todo o teu brilhantismo e de certeza, com uma lágrima ao canto do olho, lágrima de nostalgia, embeleza a vida pura e são que tiveste.
Eu tenho fama de escrever bem, mas sempre que o faço, é em termos polémicos, mas reconheço que os teus textos, são admiráveis, com um sentido de bondade nas letras, que eu pergunto a mim mesmo: Será que eu escrevo tão bem, perante esta Pessoa fascinante. E reconheço, que sou diminuto ao pé de ti, porque não tenho o cariz sentimental e nostálgico, nas palavras que tu escreves
Sou mais um jornalista, cronista politico, do que um, simples contador de histórias.
Obrigado pelo prazer que me deu ler este teu texto.
Um beijo de agradecimento
JC

Dan disse...

Lindo, lindo, lindo...
São essas pequenas lembranças que nos mostram como a vida é simples :)

Dan

Geisa disse...

Srta Fê, eu sou a fã nr 1 do seu blog e de vc...Vc pode até achar que eu sou suspeita para comentar qualquer coisa do seu blog ou de vc, mas sempre acho todos os seus posts interessantes e emocionantes. O seu jeitinho de comentar os livros que vc leu ou as histórias que vc viveu faz com que tudo fique mágico, cheio de uma energia tão boa ...Que emociona a gente.
O seu blog está nos meus favoritos e vc menina maluquinha tá no meu coração... É muito amor por essa Preta linda ...!!!!
Beijo !
Geisa