Páginas

terça-feira, 28 de setembro de 2021

Amanhã

Andava cansada de controlar seus pensamentos. Como pode a mente brigar com o eu? Como pode o eu tanto se confundir? O médico disse que não era ela que pensava aquelas coisas, que é a saúde mental e sua fragilidade, então aonde ela estou? Se perguntava.

Uma angústia vazia tomava conta da sua barriga quando se sentava, perguntava-se quando ia passar, repetia para si mesma quando ia passar, ficava tentando se lembrar quando aquela irritação começou e se foi capaz de perceber que estava vindo, ficava tentando pensar que dia voltaria a não ser a mente. O passado aparecia claramente e o presente e o futuro iam ficando nebulosos. O coração apertava e os olhos lacrimejavam, esquecia de se alimentar. Olhava para as pessoas e sentia imensa tristeza e muita pena. Pensava consigo que pobre humanidade... para que afinal tanta luta pela sobrevivência? Não se concentrava muito bem e temia as longas horas do dia, olhava para o relógio, achava demorado e agradecia quando a noite chegava porque era hora de se desligar. Dormir era um bom jeito de esquecer que existia.

Parecia um copo de vidro quebrado, andava frágil... emocionava-se fácil até com dores e beijo de novela piegas. Durante esses dias não conseguia acreditar em absolutamente nada. Não conseguia mais acender a vela, o incenso, fazer um mantra, era um poço de descrença inevitável. Sem fé, como podemos acreditar na própria vida? A vida tão difícil para uns, tão complicada para os outros, a vida das manchetes de jornais... 

Trágica, será que essa ideia também aparece na cabeça de outras pessoas? 

Não tinha coragem de ir para debaixo da terra, mas sua mente estava constantemente mostrando algumas possibilidades de morte. 

Quando tomava o café e olhava para a grama lá fora...

-E se eu pendurasse uma corda na árvore do quintal? 

Quando estava no trabalho...

-E se eu fosse numa loja veterinária e comprasse veneno? 

Quando saía para caminhar...

-E se eu me jogasse rapidamente na BR? 

Mas o que é que tinha na morte afinal que a mente/doença tanto almejava? Cessar a angústia? Responder a vida nem materializada que estava se lixando para ela? E como ficariam todos aqueles que a amavam? Destruiria suas vidas? Pensava, repensava e pensava. Acalmava-se e acendia a luz. Por quanto tempo chorei? Distraia-se...Lembrava que gostava de ver a lua e que talvez as coisas fossem mais simples do que complicadas. Uma hora eu hei de sair dessa, se dizia... amanhã será um novo dia.



Nenhum comentário: